Quando as portas do avião se fecham e a aeronave começa a se preparar para decolar, entra em cena uma equipe muitas vezes subestimada, mas absolutamente essencial para a segurança e o bem-estar de todos a bordo: os comissários e comissárias de voo. Neste 31 de maio, o Brasil celebra o Dia do Comissário de Bordo, uma data que reconhece esses profissionais que, com empatia, preparo técnico e responsabilidade, vão muito além de oferecer lanches e indicar o uso do cinto de segurança, por exemplo.
Com frequência, a maioria das pessoas talvez os reduzam à função de hospitalidade — mas a realidade é bem mais complexa. Os comissários de voo são agentes de segurança, treinados para lidar com situações de emergência, prestar primeiros socorros, conter passageiros indisciplinados, acalmar todos durante turbulências e liderar evacuações em casos extremos. A presença deles é obrigatória por lei, e a ausência comprometeria até mesmo a autorização de um voo.
Formação
Embora o curso em escola homologada pela ANAC não seja mais obrigatório desde 2020, ele continua sendo a principal forma de preparação dos futuros comissários, incluindo aulas práticas e teóricas exigidas no processo de certificação. O conteúdo dos cursos vai desde noções de meteorologia e navegação aérea até simulações de combate a incêndios, sobrevivência em diferentes ambientes — como selva, mar e deserto — e atendimento médico emergencial.
Após essa formação, a rotina de trabalho acaba trazendo alguns desafios: jornadas irregulares, fusos horários alternados, pernoites fora de casa e escalas de vários dias. Alguns perdem datas importantes, como aniversários de familiares, entre outras. Ainda assim, muitos profissionais seguem na carreira por amor à aviação, ao contato humano e à oportunidade de conhecer o mundo.
Enfermeiras?
O serviço de bordo que a gente conhece hoje tem raízes na década de 1930. Antes disso, eram os próprios pilotos que distribuíam itens como algodão para os ouvidos e chicletes pra aliviar a pressão nos ouvidos nos primeiros voos comerciais. A mudança veio com a norte-americana Ellen Church, uma enfermeira e entusiasta da aviação, que sugeriu à Boeing Air Transport a presença de profissionais da saúde nos voos para tranquilizar passageiros. Em 15 de maio de 1930, ela e mais sete enfermeiras decolaram como as primeiras “aeromoças” — e o sucesso foi imediato.
Na Varig, até 1954 a função era exercida exclusivamente por homens. Foi nesse ano que a companhia contratou suas primeiras aeromoças — embora outras empresas menores já tivessem iniciado essa mudança antes. Com o tempo, mulheres passaram a integrar as tripulações, enfrentando uma série de exigências discriminatórias e machistas — como ser solteira, não ter filhos, obedecer a padrões estéticos rígidos e aceitar salários baixos.
Felizmente, essa realidade vem se transformando, e hoje a ênfase está mais na qualificação profissional e nas habilidades técnicas, ainda que o padrão de beleza seja um fator em algumas companhias como as do Oriente Médio.
Ícone

Entre as figuras marcantes da aviação brasileira está Alice Editha Klausz, carinhosamente apelidada de “Tia Alice”. Com uma carreira de 35 anos na Varig, ela foi diretora da Escola de Comissários da empresa e atuou como voluntária no Programa Antártico Brasileiro mesmo após a aposentadoria.
Sua trajetória simboliza o comprometimento e a paixão que movem tantos profissionais da aviação, tanto que recebeu o diploma Mulher Cidadã Bertha Lutz, concedido pelo Senado Federal. Alice faleceu em 20 de julho de 2016 aos 88 anos.
Curiosidades
- Enfermeiras pioneiras: como já explicado, muitas das primeiras comissárias eram enfermeiras, como Ellen Church que – mesmo após deixar a aviação por um acidente de carro – serviu na Segunda Guerra Mundial e recebeu a Medalha do Ar.
- Regime de trabalho diferenciado: os comissários têm direito a pelo menos oito dias de folga por mês e descansos proporcionais aos fusos horários cruzados.
- Benefícios de viagem: muitos profissionais têm acesso a passagens gratuitas ou com grandes descontos, inclusive em companhias parceiras, permitindo que conheçam diferentes culturas e países.
Mais do que homenagem
O Dia do Comissário de Bordo é uma oportunidade não apenas de celebrar, mas de reconhecer a importância estratégica desses profissionais na aviação comercial. São eles que garantem que milhares de pessoas cheguem com segurança e conforto aos seus destinos — muitas vezes, enfrentando condições adversas, pressões emocionais e responsabilidades imensas longe dos olhos de quem viaja.
Mais do que distribuidores de sorrisos e refeições, eles são a linha de frente da segurança no céu.