Entre 2017 e 2023, a renda do 0,1% mais rico do Brasil avançou em ritmo cinco vezes superior ao dos demais brasileiros. O grupo, formado por cerca de 160 mil pessoas, aumentou seus ganhos reais em 6,9% nesse período, enquanto a média nacional cresceu apenas 1,4%. Com esse salto, a participação do grupo na renda total do país subiu de 9,1% para 12,5%.
Os dados fazem parte de estudo do FiscalData, coletivo de pesquisadores especializados em orçamento público e tributação. O levantamento, assinado pelos economistas Frederico Nascimento Dutra, Priscila Kaiser Monteiro e Sérgio Gobetti, utilizou informações do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) da Receita Federal.
O artigo contrasta com dados do IBGE, que em 2023 registrou a menor desigualdade desde 2012. A diferença, segundo os autores, está no método: o IBGE utiliza a Pnad Contínua, baseada em autodeclaração, que tende a subestimar rendimentos no topo da pirâmide.
Enquanto a Pnad estima renda média de pouco mais de R$ 200 mil para o 0,01% mais rico, o IRPF revela ganhos acima de R$ 2,5 milhões.
Pirâmide da renda
Segundo o estudo, o 0,1% mais rico recebe, em média, R$ 516 mil por mês, embora a classificação do grupo comece em rendas de R$ 146,1 mil mensais. Um estrato ainda menor, o 0,01% mais rico, cerca de 16 mil pessoas, elevou sua fatia da renda nacional de 4,3% para 6,2%. Nesse grupo, a renda média mensal alcança R$ 2,57 milhões.
O 1% mais rico, equivalente a 1,6 milhão de brasileiros, também ampliou seu peso na economia: passou de 20,4% para 24,3% da renda do país. A renda média mensal desse grupo chega a R$ 103,8 mil.
Enquanto isso, a economia brasileira cresceu 1,8% ao ano no período, e a renda das famílias, 1,4%.
Dividendos impulsionam ganhos
Os pesquisadores apontam os dividendos e os juros sobre capital próprio (JCP) como principais motores desse enriquecimento. Para o 1% mais rico, 87,1% da expansão de renda veio dessas fontes. No caso do 0,1% mais rico, a participação foi de 66%.
Segundo os autores, a concentração ocorreu em um contexto de baixo crescimento econômico. Eles levantam a hipótese de que a inflação elevada e a valorização de commodities tenham impulsionado os lucros de grandes empresários e exportadores, mesmo sem aumento expressivo de produção ou da massa salarial.
Tributação em debate
Os economistas defendem ajustes na política tributária, com foco em taxar dividendos e revisar benefícios fiscais. Para eles, transferências de renda são importantes para reduzir a pobreza, mas insuficientes para enfrentar a concentração no topo.
“Uma reforma tributária sobre a renda pode ser positiva não só do ponto de vista distributivo, mas também da eficiência econômica, ao corrigir distorções que prejudicam a competitividade”, concluem.
A discussão ganha relevância no momento em que a Câmara analisa o PL 1.087/2025, que isenta quem ganha até R$ 5 mil mensais do IRPF e reduz alíquotas até R$ 7 mil. Para compensar, o projeto cria uma sobretaxa progressiva de até 10% sobre rendas anuais acima de R$ 600 mil.