O Cerrado brasileiro, conhecido como o segundo maior bioma do país, enfrenta todos os anos uma temporada crítica de queimadas, especialmente durante o período seco, que vai de maio a setembro. Mas o que explica essa frequência elevada de incêndios florestais?
A resposta passa por fatores naturais, mas é sobretudo agravada pela ação humana.
Fogo natural
Ao contrário da Floresta Amazônica, que é úmida e pouco adaptada ao fogo, o Cerrado evoluiu ao longo de milhares de anos com o fogo como parte de seu ciclo ecológico. A vegetação tem raízes profundas e cascas espessas, que resistem a incêndios de baixa intensidade. Espécies nativas, como o pequi e o buriti, inclusive se regeneram mais rapidamente depois do fogo.
O fogo natural é provocado, principalmente, por raios (descargas elétricas), combustão espontânea, atrito entre rochas, etc.
A diferença está na frequência e na intensidade
O problema atual não é o fogo em si, mas a frequência e a intensidade com que ele ocorre. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o Cerrado registrou mais de 120 mil focos de queimadas em 2023 — o maior número desde 2010. A maioria tem origem na ação humana, seja de forma intencional, como nas práticas agrícolas, seja por negligência.
É a ação das pessoas que está por trás da queima de pastagens, da limpeza de terrenos com fogo e do uso de chamas em lavouras — práticas que transformam focos isolados em verdadeiros desastres ambientais.
Impactos ambientais e climáticos
As queimadas constantes afetam a biodiversidade do Cerrado, que abriga cerca de 5% de todas as espécies do planeta. Animais morrem, nascentes secam e o solo perde nutrientes. Além disso, o aumento das queimadas contribui para a emissão de gases de efeito estufa, agravando as mudanças climáticas.
Outro agravante é o desmatamento: com menos árvores e mais áreas degradadas, o bioma se torna mais seco, o que facilita a propagação do fogo.
Berço das águas
Os impactos vão além da flora e da fauna, dado que o Cerrado concentra nascentes que abastecem as principais bacias hidrográficas do país, como as dos rios São Francisco, Tocantins e Paraná. Com o avanço das queimadas e o desmatamento, essas fontes hídricas também ficam ameaçadas.
Preservar o Cerrado é fundamental não apenas para manter a sua biodiversidade, mas também para garantir o equilíbrio hídrico e climático do Brasil.