Num cenário de entretenimento em constante aceleração, a tentação do novo é grande. Mas, não é preciso nenhuma análise aprofundada para ter noção de um fato difícil de contestar: algumas animações do final dos anos 90 até 2010 não apenas resistem ao tempo, como também trazem uma riqueza de detalhes e temas que se tornam ainda mais relevantes hoje.
Mais do que meros desenhos, são obras cinematográficas que definiram gerações e estabeleceram novos padrões para a indústria.
Seja pela revolução da computação gráfica ou pelo auge da animação tradicional, esses filmes continuam a ser uma aposta segura para quem busca entretenimento de alta qualidade.
Toy Story 2 (1999)
O primeiro “Toy Story” (1995) mudou a história do cinema, mas sua continuação, “Toy Story 2”, consolidou a Pixar como uma potência narrativa. O filme não apenas expandiu o universo de Woody e Buzz, mas aprofundou temas como mortalidade, propósito e o medo do abandono de uma forma surpreendentemente madura.
O resultado é um dos raros casos em que a sequência é considerada por muitos superior ao original, um fato refletido em sua pontuação perfeita de 100% no Rotten Tomatoes, com base em 171 análises. Seu sucesso de bilheteria global confirmou que o público estava mais do que disposto a embarcar em histórias complexas protagonizadas por brinquedos.
Sinopse: Woody é sequestrado por um colecionador de brinquedos, e Buzz Lightyear e o resto da turma embarcam em uma ousada missão de resgate. Enquanto isso, Woody descobre sua origem como um valioso item de colecionador e precisa decidir entre a imortalidade em um museu e voltar para seu dono, Andy
A Viagem de Chihiro (2001)
Nenhuma lista de grandes animações estaria completa sem mencionar o Studio Ghibli, e “A Viagem de Chihiro”, do mestre Hayao Miyazaki, é talvez seu trabalho mais celebrado internacionalmente. A conquista do Oscar e do prestigiado Urso de Ouro em Berlim – um feito raro para uma animação – são indicadores do seu poder cinematográfico.
O filme, que foi a maior bilheteria da história do Japão por quase duas décadas, é uma imersão fantástica e visualmente deslumbrante no folclore japonês, tratando de temas como ganância, identidade e ambientalismo. Seus 97% de aprovação crítica global demonstram seu apelo universal e sua capacidade de encantar e provocar reflexão em qualquer cultura.
Sinopse: Chihiro, uma garota mimada de 10 anos, se vê presa em um mundo mágico e secreto após seus pais serem transformados em porcos. Para salvá-los e encontrar um caminho de volta, ela precisa trabalhar em uma casa de banhos para deuses, espíritos e monstros.
Shrek (2001)
No início do milênio, “Shrek” chegou como um furacão, subvertendo as convenções dos contos de fadas que a própria Disney havia solidificado. Com um humor ácido, referências à cultura pop e uma trilha sonora icônica, o filme da DreamWorks provou que animações poderiam ser inteligentes e irreverentes, cativando tanto crianças quanto adultos.
O seu maior legado, comprovado pelo fato de ter vencido o primeiríssimo Oscar da categoria de Melhor Animação, superando “Monstros S.A.”, foi o de estabelecer um novo paradigma para o humor no gênero. O sucesso comercial, arrecadando mais de 488 milhões de dólares globalmente, apenas confirmou que o público estava pronto para um herói ogro e seu burro falante.
Sinopse: Um ogro solitário chamado Shrek tem sua vida pacata em um pântano invadida por personagens de contos de fadas exilados. Para ter seu sossego de volta, ele faz um acordo: resgatar uma princesa de uma torre guardada por um dragão.
Procurando Nemo (2003)
Quando “Procurando Nemo” foi lançado, a Pixar mais uma vez elevou o padrão da animação computadorizada. A beleza estonteante do mundo subaquático, com sua flora e fauna vibrantes, era algo nunca antes visto com tanto realismo e detalhe. Mas o trunfo do filme, validado por sua aprovação quase perfeita de 99% no Rotten Tomatoes, está na sua história universal sobre a superproteção paterna e a jornada de amadurecimento.
A aventura de Marlin para encontrar seu filho Nemo emocionou o mundo, resultando em uma bilheteria impressionante de mais de 940 milhões de dólares e garantindo mais um Oscar para o estúdio. É a prova de que a tecnologia de ponta, quando combinada com um roteiro impecável, cria uma experiência cinematográfica inesquecível.
Sinopse: Após seu único filho, Nemo, ser capturado por um mergulhador, um peixe-palhaço superprotetor chamado Marlin cruza o oceano para encontrá-lo. Em sua jornada, ele conta com a ajuda de Dory, uma peixinha com perda de memória recente.
A Era do Gelo (2002)
Este filme colocou o estúdio Blue Sky no mapa e provou que havia espaço para mais gigantes na animação. Embora sua aprovação crítica (77%) não atinja as alturas de alguns concorrentes, seu impacto cultural é inegável. A jornada do trio Manny, Sid e Diego, e as desventuras do esquilo Scrat, cativaram o público de tal forma que geraram uma das franquias de animação mais lucrativas da história.
A indicação ao Oscar validou sua qualidade e seu sucesso de bilheteria (cerca de US$ 383 milhões) foi apenas o começo de um fenômeno que marcou profundamente a geração dos anos 2000.
Sinopse: Durante a era glacial, um mamute rabugento, uma preguiça atrapalhada e um tigre dentes-de-sabre cínico formam um bando improvável ao encontrarem um bebê humano perdido. Juntos, eles embarcam em uma perigosa jornada para devolvê-lo ao seu povo.
Vida de Inseto (1998)
Frequentemente ofuscado pelo lançamento de “Formiguinhaz” no mesmo ano, “Vida de Inseto” da Pixar merece ser revisitado por seus próprios méritos. A animação foi um salto técnico notável para a época, especialmente nas cenas que mostravam centenas de formigas em tela simultaneamente.
Mais importante, sua releitura da fábula “A Cigarra e a Formiga” como uma poderosa história sobre um coletivo que se levanta contra seus opressores continua ressoando fortemente. Com 92% de aprovação crítica, é um lembrete do talento da Pixar para contar histórias grandiosas nos mundos mais ínfimos.
Sinopse: Flik é uma formiga inventora que acidentalmente destrói a oferenda de comida de sua colônia para os temidos gafanhotos. Para se redimir, ele parte em busca de “insetos guerreiros”, mas acaba recrutando por engano um grupo de artistas de um circo de pulgas.
Deu a Louca na Chapeuzinho (2005)
Este filme é a prova de que um roteiro afiado pode superar qualquer limitação técnica. Produzido de forma independente com um orçamento minúsculo para os padrões da indústria, “Deu a Louca na Chapeuzinho” se tornou um sucesso estrondoso e um clássico cult. Sua estrutura narrativa não linear, ao estilo de um filme de investigação policial onde cada personagem conta sua versão da história, era inovadora para o gênero.
Apesar da recepção mista da crítica especializada (apenas 47% no Rotten Tomatoes), o público abraçou seu humor rápido, personagens memoráveis (como o esquilo Ligeirinho) e sua abordagem irreverente. O retorno financeiro massivo demonstrou que havia um mercado ávido por animações que fugissem do molde dos grandes estúdios. A dublagem é um dos pontos altos.
Sinopse: A clássica história da Chapeuzinho Vermelho é recontada como uma investigação policial. Chapeuzinho, o Lobo, a Vovó e o Lenhador são todos suspeitos de um crime, e cada um conta uma versão completamente diferente e hilária dos acontecimentos.
O Segredo dos Animais (2006)
Lançado em um ano competitivo para a animação, o grande legado de “O Segredo dos Animais” (Barnyard) foi o de se consolidar como um fenômeno de entretenimento familiar que transcendia o cinema. Sua premissa, centrada em animais de fazenda que agem como humanos quando ninguém está olhando, era simples, mas executada com um humor contagiante e personagens carismáticos. O filme abordou temas de responsabilidade, amadurecimento e a importância da comunidade, personificados na jornada do boi Otis.
O sucesso nos cinemas foi amplificado por sua enorme popularidade nas locadoras de DVD e na televisão, gerando uma série de TV de sucesso, “As Aventuras de Otis”, que prolongou a vida dos personagens e solidificou seu lugar na cultura pop daquela geração, tornando-se um exemplo de como uma propriedade intelectual animada podia se expandir para outras mídias.
Sinopse: Quando o fazendeiro não está olhando, os animais da fazenda andam sobre duas patas e festejam. O boi Otis só quer saber de curtição, mas precisa aprender a ser um líder quando a fazenda é ameaçada por coiotes.
Lucas, um Intruso no Formigueiro (2006)
Baseado no livro infantil de John Nickle, o grande trunfo deste filme é sua mensagem atemporal sobre bullying e a importância da empatia. Ao encolher o protagonista ao tamanho de uma formiga, a narrativa força não apenas o personagem, mas também o espectador, a enxergar o mundo sob uma nova e humilde perspectiva.
Apesar de ter enfrentado forte concorrência em seu ano de lançamento, o filme é lembrado pela qualidade visual impressionante para a época e por tratar de temas sérios de forma acessível para o público infantil, deixando uma marca como uma aventura familiar com um coração genuíno.
Sinopse: Lucas é um garoto que desconta suas frustrações destruindo um formigueiro. Como punição, as formigas o encolhem magicamente, forçando-o a viver na colônia para aprender sobre empatia e comunidade.
Os Sem-Floresta (2006)
Mais do que uma simples comédia, este filme se estabeleceu como uma das sátiras mais inteligentes da DreamWorks. O seu legado reside na forma como utilizou o conflito entre o mundo animal e o suburbano para tecer uma crítica ácida ao consumismo desenfreado e à cultura da comida processada.
A dinâmica entre o malandro guaxinim RJ e a cautelosa tartaruga Verne gerou momentos cômicos memoráveis que também serviam como comentários sociais. O filme foi um sucesso de crítica e público, não apenas consolidando a reputação do estúdio para comédias afiadas, mas também se tornando uma referência cultural sobre os impactos da expansão urbana.
Inclusive, uma das personagens, a gambá Stella, foi dublada pelo cantora e atriz Preta Gil
Sinopse: Um grupo de animais acorda da hibernação e descobre que uma enorme cerca viva apareceu em seu habitat, separando-os de um novo condomínio de humanos. Um guaxinim esperto os convence de que o mundo dos humanos é uma fonte inesgotável de comida.
O Bicho Vai Pegar (2006)
A principal importância deste filme é histórica: foi a produção de estreia da Sony Pictures Animation, marcando a entrada de um novo competidor de peso no mercado. Seu legado é o de ter estabelecido um estilo de humor mais físico e energético, que se tornaria uma assinatura do estúdio em projetos futuros.
Embora a recepção da crítica tenha sido mista, o público abraçou a história do urso domesticado Boog e do cervo tagarela Elliot. O sucesso comercial foi robusto o suficiente para provar a viabilidade do estúdio e gerar uma franquia duradoura de filmes lançados diretamente em home video, demonstrando sua forte e persistente conexão com o público familiar.
Sinopse: Boog, um urso pardo domesticado, tem sua vida perfeita virada de cabeça para baixo quando conhece Elliot, um cervo tagarela. Ele acaba sendo levado para a floresta às vésperas da temporada de caça e precisa se unir aos outros animais para sobreviver.
Tá Dando Onda (2007)
O grande legado de “Tá Dando Onda” é sua coragem artística e inovação técnica. A decisão de estruturar o filme como um “mockumentary” (falso documentário), com “entrevistas” e filmagens de “câmera na mão”, foi revolucionária para uma grande animação. Isso permitiu um estilo de humor mais naturalista e diálogos parcialmente improvisados, algo inédito no gênero.
Além disso, a tecnologia desenvolvida para animar as ondas e o oceano foi um marco, conferindo um realismo impressionante. A indicação ao Oscar de Melhor Animação foi o reconhecimento da indústria a essa abordagem ousada, que solidificou o filme não como apenas mais uma história de pinguins, mas como um clássico cult, celebrado por sua originalidade e espírito único.
Coraline e o Mundo Secreto (2009)
“Coraline” não foi apenas o filme de estreia do estúdio Laika, mas a obra que o estabeleceu como o mestre moderno do stop-motion. Seu legado é imenso, principalmente por revitalizar a técnica em grande escala e por sua coragem em apresentar um conto de fadas sombrio e genuinamente assustador para o público infantil, sem subestimar sua inteligência.
Com 90% de aprovação no Rotten Tomatoes e uma indicação ao Oscar, o filme de Henry Selick (o mesmo diretor de “O Estranho Mundo de Jack”) se tornou um clássico cult instantâneo, admirado tanto pela sua beleza gótica e visual meticuloso quanto por sua história profunda sobre família, identidade e os perigos de se obter tudo o que se deseja.
Sinopse: Entediada em sua nova casa, a jovem e curiosa Coraline Jones descobre uma porta secreta que a leva para uma versão idealizada de sua vida. No entanto, ela logo percebe que essa realidade alternativa esconde segredos sombrios e perigosos.