A Polícia Civil revelou nesta sexta-feira (10) que uma fábrica clandestina de bebidas em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, usava etanol adulterado comprado em postos de combustível para produzir bebidas que levaram à morte de duas pessoas por intoxicação com metanol.
O imóvel foi localizado durante diligências que investigam as mortes registradas na capital. As vítimas haviam consumido vodca no mesmo bar. O dono do estabelecimento confessou ter comprado o produto de uma fábrica sem autorização.
Segundo o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, o etanol apreendido tinha mais de 40% de metanol e teria origem em um mesmo posto ou rede. Ele afirmou que os suspeitos detidos não têm ligação com facções, mas acabaram prejudicados por grupos criminosos que lucram com a adulteração de combustíveis.
São Bernardo do Campo é o centro das apurações. Até o momento, há 48 casos sob investigação e um confirmado de contaminação por metanol. A polícia apura se o objetivo dos falsificadores era aumentar o volume das bebidas originais para ampliar o lucro.
Após rastrear as garrafas consumidas pelas vítimas, os investigadores cumpriram mandados de busca e apreensão, desativaram o local e recolheram materiais para perícia. A proprietária foi presa em flagrante e responderá por falsificação e adulteração de produtos alimentícios, crime com pena de 4 a 8 anos de prisão.
A ABCF (Associação Brasileira de Combate à Falsificação) suspeita que o metanol usado seja o mesmo importado ilegalmente pelo PCC para adulterar combustíveis. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), porém, negou envolvimento de facções e apresentou duas linhas de investigação: o uso do metanol para higienizar garrafas reaproveitadas e a contaminação acidental do etanol durante a produção de bebidas falsas.
A Polícia Federal, por sua vez, mantém abertas todas as hipóteses, inclusive a relação com a megaoperação deflagrada em agosto contra o crime organizado no setor de combustíveis.
Durante o anúncio de um comitê informal para enfrentar a crise, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, lembrou que tanques de metanol foram abandonados após a operação.
“Se o produto tiver origem em combustíveis fósseis, essa é uma linha que precisa ser investigada”, afirmou.