Os moralistas morrem pela boca. Ou pelo que são. Sempre: morrem pelo que não são; pelo dizem ser, necessariamente não sendo. Vira caso para terapia quando acreditam no personagem que vestem. A defesa da moralidade é o maior espelho da política. É o espelho da verdade, que se revela com o tempo.
Nikolas Ferreira, o líder jovem da direita, faz um discurso que o imola diante de uma esquerda que, nas suas palavras, nunca falha em ser falha. Ele não enxerga defeitos em sim, só nos outros. Seu primo pego com 30 quilos de cocaína é a realidade batendo à sua porta.
Mais admirável não é vê-lo com a contradição da hipocrisia no colo. A quantidade de pessoas que o vêem ainda imaculado é que espanta. Porque poderiam apenas reagir como reagem os militantes políticos que precisam defender o indefensável. Sempre acontece, na política.
Poderiam, também, ignorar e manter firme o foco na oposição à esquerda, preservando Nikolas e o discurso. Poderiam. Ocorre que acreditam em outra coisa: que tudo faz parte de uma ilusão inimiga para destruir alguém que está acima do bem e do mal, que é a esperança por representar valores republicanos e moralmente religiosos.
Acreditam que não se trata de uma guerra política em curso. Que tudo é fumaça estratégica e tudo é conspiração não do bem contra o mal, mas de um lado contra o outro, e que o infalível não é Nikolas – nunca foi -, e sim a integridade material dos interesses em jogo. Tipo assim: o dinheiro, o poder e a glória virtual.
Aqueles que levam a sério a integridade de seus ídolos e heróis ideológicos constituem não a plebe carente de salvação, mas a massa de manobra que condena todos os outros ao pior dos mundos: o da ilusão. O bem e o mal não está no fim que que justificam os meios. Está no meio de nós, e vai até o fim, ainda que o fim seja literal, em nós e em todos: humano.
Nikolas é a representação dos tempos atuais. Ele grita que legisla em nome do futuro, enquanto sobressaem as causas próprias – pessoais e de grupo –, com ferramentas modernas e uma habilidosa capacidade de ser competente no usufruto das ferramentas e formas de expressão da atualidade.
Na realidade dos fatos, ele é fruto natural das redes. Sua saída para a cobrança de ser bravo e destemido na sua causa, saiu-se com o protocolo básico de todos: quem deve, tem que pagar. E não é assim?
Pensar o mundo a partir de esquerda e direita, ignorando a complexidade de quem e do que somos, é o desvario que vivemos e precisamos superar. E nada há no centro quando se extirpa um lado e outro, em busca de equilíbrio. A não ser o vazio.
O equilíbrio está na preservação da nossa esquerda, da nossa direita, em um corpo uno, edificado, imperfeito porém íntegro. Só ele é capaz de preservar a alma da gente, a alma do mundo e o espírito dos tempos. É o que nos mantém vivos. Quem não tem alma que atire a primeira pedra.