Com as tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos crescendo, rumores sobre possíveis sanções tecnológicas começaram a circular nas redes sociais. Entre essas conversas mais recorrentes, está a hipótese de que o presidente estadunidense Donald Trump poderia “desligar” o sistema de geolocalização GPS no Brasil como forma de retaliação política pelo julgamento de Bolsonaro e pelo crescimento do BRICS. No entanto, essa possibilidade não só é improvável como também tecnicamente inviável.
O GPS (Global Positioning System) é operado pelos EUA desde os anos 1990 e se tornou essencial para inúmeras atividades civis e comerciais, como navegação em tempo real, monitoramento ambiental, telecomunicações e até o funcionamento de tornozeleiras eletrônicas. Apesar disso, os sinais emitidos pelos satélites do sistema não podem ser bloqueados regionalmente.
Isso acontece porque os satélites que transmitem os sinais não ficam parados em determinadas regiões, eles cobrem todo o planeta. Se o sinal fosse bloqueado, o efeito não ficaria restrito a apenas uma região pequena.
Alternativas ao GPS
Outros sistemas globais de navegação por satélite, como o Galileo (Europa), o Beidou (China) e o GLONASS (Rússia), já são compatíveis com a maioria dos dispositivos brasileiros. Essa interoperabilidade oferece resiliência e continuidade dos serviços, mesmo em cenários extremos.
Para se ter ideia, um celular lançado em 2017 já possui compatibilidade com outras tecnologias até mais precisas que o sistema de posicionamento global desenvolvido pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria, ou seja, o GPS não é insubstituível.


O GPS, dos EUA, é o mais antigo e popular. Conta com 32 satélites (24 ativos) 31 satélites operacionais e fornece precisão entre 30 cm e 0,5 m de aproximadamente 3 a 5 metros para o sinal público. Já o GLONASS, operado pela Rússia, tem 24 satélites ativos e precisão menor, variando entre 2,8 m e 7,8 m.
O Galileo, da União Europeia, é o único criado exclusivamente para fins civis e pode alcançar até 20 cm de precisão com seu serviço premium. O BeiDou, da China, é o mais novo e numeroso, com 35 satélites mais de 30 satélites operacionais em sua constelação global e precisão de até 10 cm em sua versão criptografada cerca de 1,5 metro em seu serviço público global.
Esses sistemas compõem o GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite), uma tecnologia essencial para navegação, agricultura de precisão, topografia, transporte, defesa e até controle aéreo. Cada tecnologia tem características próprias, mas todas funcionam de maneira similar: usam satélites em órbita para enviar sinais a receptores terrestres, que então calculam a posição por triangulação.
Tecnologia brasileira
O Brasil também investe em redes nacionais de monitoramento GNSS, como a RBMC, Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo dos Sistemas GNSS, mas ainda carece de um sistema autônomo.
A hipótese de bloqueio, portanto, permanece no campo das especulações geopolíticas e fake news. Mesmo assim, o debate reforça a importância de o Brasil buscar autonomia tecnológica sem abrir mão da cooperação internacional.