Luiz Inácio Lula da Silva, nascido em 27 de outubro de 1945, em Garanhuns (PE), chega aos 80 anos como o primeiro presidente octogenário em exercício no Brasil. O marco, celebrado durante uma viagem oficial à Ásia, transcende a efeméride pessoal: consolida a imagem de um líder cuja trajetória confunde-se com a história recente da política brasileira.
O atual mandato, iniciado em 2023, é o terceiro de Lula, após os dois períodos anteriores (2003–2010) e mais de uma década de distância do poder. O retorno, após prisão, absolvição e reabilitação eleitoral, faz de sua presença no Planalto um exemplo raro de longevidade política em regimes democráticos contemporâneos, fenômeno que o insere em uma galeria global de líderes veteranos que mantêm influência em idade avançada.
A idade recorde de Lula, superando Michel Temer, que deixou o cargo aos 78 anos, destaca uma virada geracional na liderança política do país. Getúlio Vargas, terceiro mais velho ao deixar o poder, morreu aos 72 anos em 1954, num contexto histórico em que o Brasil ainda consolidava suas instituições republicanas.
Um aniversário diplomático
A celebração de seus 80 anos ocorreu em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Lula foi homenageado pelo premiê Anwar Ibrahim com um jantar de gala e bolo comemorativo. O próprio presidente, em tom otimista, disse viver “o melhor momento” de sua vida, declarando o desejo de viver “até os 120 anos”.
As felicitações, que se estenderam a outros líderes estrangeiros, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, em entrevista informal, chamou o brasileiro de “um cara muito vigoroso”, reforçam a imagem de Lula como figura global de resistência política. Entre seus pares, recebeu ainda cumprimentos bem-humorados do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, que brincou dizendo que o petista “está fazendo apenas 25 anos”.
Repercussão no Brasil
No Brasil, a data ganhou caráter simbólico. O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, associou o aniversário à defesa da democracia, afirmando celebrar “junto com todos os brasileiros que escolheram a democracia como forma de realizar as suas esperanças”. O gesto de Alckmin, seu ex-adversário eleitoral, ilustra a complexa reconfiguração de alianças que sustenta o governo atual.
Outros ministros e lideranças políticas, como Guilherme Boulos, Camilo Santana, Carlos Fávaro e João Campos, publicaram homenagens que mesclaram tom institucional e pessoal. O discurso comum reforça a narrativa de continuidade e de resistência que o governo tenta consolidar em torno da figura de Lula.
O sentido político de uma longevidade
Mais do que um aniversário, os 80 anos de Lula simbolizam o fechamento e a reabertura de ciclos. O operário que chegou à Presidência, foi preso e voltou ao poder encarna uma forma de persistência política que desafia o desgaste do tempo e das crises. Em uma era de desconfiança nas instituições e de polarização intensa, sua figura permanece central na disputa simbólica sobre o futuro do país.
Ao completar oito décadas de vida, Lula projeta a imagem de um político que sobreviveu a diferentes conjunturas: a redemocratização, o ciclo de crescimento social dos anos 2000, o colapso político da década seguinte e, por fim, o retorno ao poder em meio à reconstrução institucional. Sua presença no comando do país, portanto, é também uma metáfora sobre o tempo — e sobre o esforço de manter viva uma ideia de Brasil possível.










