Teorias da conspiração não são novidade — mas nunca estiveram tão visíveis e influentes como agora
De grupos que negam a eficácia das vacinas e ajudam a “trazer” de volta doenças erradicadas, a correntes que desconfiam da chegada do homem à Lua, a adesão a essas narrativas ganhou força nos últimos anos, especialmente com a popularização das redes sociais.
Mas por que será que tantas pessoas acreditam em conspirações mesmo com todas as evidências dizendo o contrário?
A psicologia tem algumas respostas: a crença em teorias conspiratórias está frequentemente ligada a três necessidades humanas básicas: a epistêmica (de compreender o mundo e reduzir a incerteza), a existencial (de se sentir seguro e no controle) e a social (de preservar uma autoimagem positiva e a do seu grupo).
Embora essas teorias sejam atraentes por prometerem satisfazer tais necessidades, pesquisas sugerem que elas raramente fazem isso. Na verdade, ao promover uma visão de mundo hostil, podem acabar intensificando a ansiedade e a impotência, criando um ciclo vicioso que aprofunda ainda mais a crença.
Do ponto de vista social, múltiplos relatórios do Pew Research Center, publicados ao longo de vários anos, indicam que a desconfiança nas instituições — como governos, imprensa e ciência — está diretamente relacionada à propensão a acreditar em conspirações.
Essa desconfiança, porém, não é uniforme; ela é muito marcada pela polarização política, que cria ecossistemas de informação onde a afiliação partidária molda em quem se confia.
É preciso dizer também que um ponto central disso tudo é notar que, para comunidades marginalizadas com um histórico documentado de danos institucionais, a suspeita pode ser uma resposta racional e justificada, e não um erro cognitivo.
A internet também tem um papel essencial, mas a sua influência é complexa.
Um dos pontos de debate é sobre o papel dos algoritmos. Embora plataformas como YouTube, Facebook e TikTok priorizem o engajamento, não há consenso de que seus algoritmos inevitavelmente radicalizem os usuários.
Alguns estudos apontam que a escolha do usuário é o fator predominante, enquanto outros sugerem que os algoritmos podem criar “bolhas de filtro” que isolam as pessoas de visões divergentes.
Isso reforça o viés de confirmação, um fenômeno onde os usuários buscam e interpretam informações que validam suas crenças existentes.
Ainda é preciso apontar uma ideia importante que pode ajudar a entender o cenário: o chamado efeito Dunning-Kruger.
Ele é um viés cognitivo que se se dá quando pessoas com habilidades ou conhecimentos limitados em uma determinada área tendem a superestimar sua competência nessa área. Isso ocorre porque eles não têm conhecimento suficiente para reconhecer suas próprias limitações.
Ou seja: muitas vezes, quem é capturado por esse efeito nunca teve acesso à base filosófica mais clássia — como a dúvida socrática: “só sei que nada sei.” Por outro lado, pessoas altamente capacitadas podem subestimar seu próprio saber, o que aprofunda o desequilíbrio da percepção coletiva. Esse fenômeno foi identificado em estudos realizados por David Dunning e Justin Kruger.
Além disso, fatores como o sentimento de impotência política e até traços de personalidade, como o narcisismo coletivo, podem também contribuir para a adesão a essas crenças.
Esse bolo de instabilidade emocional e acesso facilitado a desinformação cria o cenário ideal para que teorias da conspiração prosperem — e se espalhem.
Por fim, alguns sintetizam as teorias da conspiração e seguidores dessas histórias em uma frase de um escritor brasileiro muito famoso
“Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.”
Nelson Rodrigues
Mas é bom lembrar: nem todo mundo é capturado por essas crenças por ignorância ou má-fé. Em muitos casos, faltam acesso, escuta e incentivo para sair da caverna — e isso, por vezes, é uma responsabilidade coletiva.