Má qualidade do sono afeta a maioria dos brasileiros, segundo estudos

Com jornadas exaustivas, altos níveis de ansiedade e pouco acesso a cuidados especializados, o Brasil é um dos líderes globais em distúrbios do sono

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Foto: Freepik

Dormir mal não é mais um problema isolado: é uma epidemia bastante silenciosa que atinge milhões de brasileiros diariamente.

Pesquisas globais recentes, como a realizada pela ResMed em 2024, colocam o Brasil entre os países com pior qualidade de sono no mundo.

Em um dos levantamentos, 60% dos brasileiros entrevistados afirmaram que a ansiedade atrapalha o descanso noturno. O cenário ajuda a explicar por que o país vem sendo descrito por especialistas como “o país dos insones”.

As consequências de dormir pouco ou mal se espalham por todas as áreas da vida: da produtividade no trabalho ao risco de doenças cardíacas, da saúde mental ao convívio social.

Apesar disso, os distúrbios do sono continuam sendo subestimados, pouco diagnosticados e raramente tratados de forma adequada.


Sono encurtado

Dormir menos do que o necessário virou hábito para muitos. A pesquisa ConVid – Pesquisa de Comportamentos, realizada pela Fiocruz durante a pandemia, revelou que uma parcela significativa dos brasileiros passou a dormir pior durante essa crise.

O número é alarmante se comparado com a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta de 7 a 9 horas como o ideal para adultos.

Com a pandemia, o cenário se agravou. Segundo a mesma pesquisa, as causas para a piora do sono vão desde o aumento do estresse e da ansiedade até a perda de rotinas, trabalho remoto desorganizado e excesso de exposição a telas.

Mas o problema é crônico. Uma análise recente da Associação Brasileira do Sono (ABS) mostrou que a média de sono entre adultos brasileiros caiu para 6,4 horas por noite, bem abaixo das sete horas diárias consideradas o mínimo saudável.


O tripé da insônia

Três fatores ajudam a entender por que o Brasil dorme mal: ansiedade, uso excessivo de telas e jornadas de trabalho prolongadas.

O país ocupa o primeiro lugar no ranking global de ansiedade da OMS. Segundo o órgão, mais de 18 milhões de brasileiros vivem com transtornos de ansiedade.

Um dos principais sintomas desses transtornos é a dificuldade para “cair no sono”, manter o sono contínuo ou descansar de forma profunda.

Além disso, o uso de smartphones e computadores até tarde da noite afeta a produção de melatonina, hormônio essencial para o início do sono.

De acordo com dados da pesquisa TIC Domicílios 2023, o celular é o dispositivo usado por 99% dos usuários de internet no país, e 95% dos usuários se conectam à rede todos os dias, com grande parte fazendo uso noturno.

Outro fator que interfere diretamente na qualidade do sono é o trabalho. Segundo a Pnad Contínua do IBGE, uma parcela bem expressiva da população tem jornada superior às 44 horas semanais previstas em lei.

Adicione a isso os longos deslocamentos nas grandes cidades e o trabalho informal com carga horária imprevisível… isso tudo resulta em um cotidiano que deixa o trabalhador esgotado e raramente permite descanso adequado.


Questão de classe

Dormir bem no Brasil, além de um privilégio, é quase um luxo em muitos lugares.

Ambientes barulhentos, falta de um clima mais agradável ou ventilação adequada, iluminação urbana intensa e insegurança são fatores que impedem o descanso noturno de boa parte da população — especialmente nas regiões periféricas.

A desigualdade também ocorre no acesso a diagnóstico e tratamento. A polissonografia, exame considerado padrão-ouro para identificar distúrbios como apneia do sono, é de difícil acesso no Sistema Único de Saúde (SUS) e, na rede privada, pode custar mais de R$ 1.000.

Como consequência, estima-se que exista um alto índice de subdiagnóstico para a apneia do sono no Brasil, segundo especialistas da área.

A automedicação é outro problema crescente. Em vez de buscar ajuda especializada, muitos recorrem a soluções paliativas como o consumo de álcool para “relaxar” ou o uso de medicamentos indutores do sono sem orientação médica.

A longo prazo, isso piora a qualidade do sono e pode gerar dependência química ou tolerância aos remédios.


Economia?

A privação crônica de sono não afeta apenas a saúde individual, mas também tem impactos econômicos e sociais profundos.

Estudos internacionais, como os da consultoria Rand Europe, estimam que a perda de produtividade associada ao sono inadequado pode custar a países desenvolvidos mais de 1% de seu PIB por ano.

Embora não haja um estudo com o mesmo padrão para o Brasil, especialistas apontam que o prejuízo é de bilhões em perdas evitáveis.

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