Será que a inteligência artificial pode revolucionar a gastronomia ou apenas gerar receitas desastrosas? No Oriente Médio, nos Estados Unidos e na Ásia, restaurantes já testam a tecnologia em seus cardápios.
Em Dubai, Spartak Arutyunyan, responsável pelos cardápios da Dodo Pizza, desafiou o ChatGPT a criar a pizza ideal para a cidade. A IA combinou shawarma de frango, queijo paneer grelhado, za’atar e tahine. O resultado surpreendeu e permanece no cardápio. Ele explica que buscava refletir a diversidade cultural da cidade, formada majoritariamente por imigrantes.
“Nunca teria misturado esses ingredientes, mas funcionou”, contou.
Outras sugestões, como pizza de morango com macarrão, não foram considerados pela equipe da pizzaria.
Nos Estados Unidos, a diretora culinária Venecia Willis testou a tecnologia no Velvet Taco, em Dallas. Depois de pedir receitas com oito ingredientes, uma proteína e uma tortilha, ela avaliou as propostas. O ChatBot retornou algumas combinações pareceram inviáveis, tanto pelo sabor da mistura, quanto pela indisponibilidade de alguns ingredientes sugeridos. Porém, um taco de camarão com bife conquistou os clientes: foram 22 mil vendidos em uma semana.
Willis considera a IA uma ferramenta útil para driblar bloqueios criativos, mas ressalta:
“Sempre precisa haver um olhar humano para validar as receitas”.
Outros profissionais mantêm reservas. O mixologista (especialista que estuda os ingredientes e técnicas para criar coquetéis) londrino Julian de Feral critica a tecnologia por parecer artificial e carecer de intuição. A linguista Emily Bender, da Universidade de Washington, lembra que os chatbots apenas reproduzem receitas já publicadas na internet e podem prejudicar criadores de conteúdo. Ainda assim, ela reconhece que sistemas mais avançados podem oferecer suporte à gastronomia no futuro.
Redes como o Waitrose já exploram esse potencial, no Reino Unido, a inteligência artificial identificou a ascensão dos smash burgers e dos crookies, o que levou a rede a lançar novos produtos em tempo recorde.
Em Cingapura, o italiano Stefano Cantù desenvolveu o “ChefGPT”, aplicativo que sugere receitas a partir dos ingredientes disponíveis na geladeira. O app atraiu 30 mil usuários em menos de duas semanas, mas seu criador ainda busca equilibrar custos com publicidade e assinaturas.