Um grupo de profissionais da figuração do setor audiovisual está se mobilizando judicialmente contra os produtores do filme Dark Horse, cinebiografia do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo relatos encaminhados ao Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo (Sated-SP), as gravações foram marcadas por condições de trabalho descritas como “humilhantes” e insalubres.
Ao menos 14 figurantes decidiram buscar reparação na Justiça. As denúncias apontam para um ambiente de rigor excessivo, que incluiria revistas corporais invasivas, retenção de celulares, controle restritivo de ida aos banheiros e fornecimento de alimentação inadequada.
Restrições
Conforme consta nas denúncias levadas ao sindicato, a rotina no set de filmagem fugiu aos padrões regulamentados da indústria. A principal queixa refere-se à liberdade de locomoção. O uso de banheiros teria sido condicionado à formação de grupos escoltados por seguranças, em um sistema de “comboio”.
Além disso, a comunicação externa foi vetada. Os relatos indicam que os aparelhos celulares dos figurantes foram confiscados na chegada e retidos pela equipe de segurança durante toda a diária de trabalho, sob a justificativa de evitar vazamentos de imagens da produção.
Outro ponto crítico levantado pelo grupo diz respeito à alimentação fornecida. As queixas indicam que o café da manhã foi substituído por um “kit lanche” considerado insuficiente. Mais graves ainda são as denúncias sobre o almoço: há relatos de que a comida servida teria causado intoxicação alimentar em parte da equipe, embora os denunciantes afirmem não ter ingerido as refeições suspeitas.
A questão financeira também integra o processo. Os profissionais citam jornadas extenuantes, ultrapassando 12 horas de trabalho, com um cachê fixado em R$ 165,00 — valor que seria pago com um prazo de 35 dias após a realização do serviço, ocorrido em novembro.
Sigilo sobre o roteiro
A natureza do projeto também gerou controvérsia entre o elenco de apoio. Segundo os figurantes, a temática do filme — uma narrativa biográfica sobre Jair Bolsonaro — foi omitida durante a contratação. Muitos só tomaram conhecimento do teor da obra já no set de filmagem.
A omissão do viés ideológico da obra causou mal-estar. Parte do elenco de apoio afirma que teria recusado o contrato caso a pauta biográfica tivesse sido transparente desde o início, alegando divergências ideológicas e constrangimento em associar sua imagem à produção.
O Sated-SP confirmou o recebimento das denúncias e informou que delegados sindicais realizaram visitas ao local após o volume de queixas. Até o fechamento desta reportagem, a produção do longa-metragem não havia emitido comunicado oficial sobre as acusações.









