De acordo com Vitor Abdala, repórter da Agência Brasil, um estudo publicado na revista científica Ecology revelou que estruturas de vidro, como janelas e fachadas espelhadas de prédios urbanos, representam uma ameaça significativa à avifauna nas Américas Central e do Sul. Entre 1946 e 2020, foram documentadas 4.103 colisões de aves contra superfícies envidraçadas em 11 países da região — mais de 2.500 resultaram em morte imediata.
Pesquisa
A pesquisa foi liderada por Augusto João Piratelli (Universidade Federal de São Carlos), Bianca Ribeiro (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) e Ian MacGregor-Fors (Universidade de Helsinki, Finlândia), com apoio de mais de 100 colaboradores. No Brasil, foram registrados 1.452 incidentes, incluindo espécies ameaçadas de extinção, como o gavião-pombo-pequeno (Buteogallus lacernulatus), a cigarrinha-do-sul (Sporophila falcirostris) e a saíra-pintor (Tangara fastuosa), todas endêmicas da Mata Atlântica.
Barreiras invisíveis às aves
Em São Paulo, 629 colisões foram documentadas, sem grande diferença entre tipos de vidro — translúcido ou reflexivo. Segundo Flávia Guimarães Chaves, pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e uma das coautoras do levantamento, as aves não percebem essas superfícies como barreiras, o que as torna especialmente vulneráveis em áreas urbanizadas.
Soluções
Os autores destacam que medidas simples podem reduzir o risco de colisões. Entre elas, a aplicação de adesivos visíveis nas janelas, o uso de persianas ou cortinas antirreflexo, e a escolha de vidros com faixa UV ou serigrafados em novas construções e reformas. O estudo aponta ainda que as colisões tendem a ocorrer com mais frequência durante os períodos de migração e reprodução.
Além de alertar para os impactos da urbanização sobre a biodiversidade, os pesquisadores esperam que os dados sirvam de base para políticas públicas, normas de arquitetura e campanhas de conscientização voltadas à preservação das aves em áreas urbanas.