Você aí… tente fazer um exercício rápido: feche os olhos e pense em videogame. Qual é o primeiro som que vem à sua mente? Para uma geração inteira, e posso arriscar dizer para várias delas, a resposta não é o barulho de um tiro, nem o ronco de um motor, mas sim o “plim” agudo e satisfatório de uma moeda sendo coletada. Ou talvez o tema musical saltitante de seis notas que se tornou um hino não oficial da cultura pop. Inevitavelmente, eu falo do Mario (sem acento agudo mesmo).
A figura do encanador bigodudo, vestindo um macacão e boné vermelho, para uns literalmente transcendeu as telas para se tornar um dos ícones culturais mais reconhecíveis do planeta. Mas por quê?
Em uma indústria que às vezes se reinventa com gráficos fotorrealistas e narrativas complexas, como um personagem que basicamente corre e pula sobre tartarugas continua tão relevante? A resposta, caros leitores, está em uma das forças mais poderosas e doces que existem: a nostalgia. Eu sei, já falei mil e outras vezes sobre nostalgia, mas dessa vez, como das outras, a perspectiva é diferente.
A nostalgia relacionada a figura do Mario não é passiva; ela é um sentimento ativo, quase um “efeito mola”. Cada novo jogo, filme ou até mesmo um parque temático funciona como uma pressão em uma mola de memórias. Ao ser liberada, ela nos joga de volta para o chão da sala, com os joelhos doendo de ficar tanto tempo sentado no tapete, dividindo um controle de Super Nintendo com um irmão ou amigo. Ela nos lembra da pura e simples alegria de descobrir pela primeira vez que um cogumelo poderia nos fazer crescer, ou que um túnel verde poderia ser um atalho secreto.
Eu mesmo me lembro de ir à casa da minha madrinha em São Paulo e ter de assoprar a fita de uma coletânea: Super Mario All-Stars. Tinha também o Mario Kart, mas os que eu gostava muito e me lembro de acordar cedo para jogar eram o Super Mario World e o Super Mario 3, provavelmente os preferido de muitos e estavam na coletânea.
Para muitos de nós, Super Mario Bros. não foi apenas um jogo, foi o jogo. A porta de entrada para um universo de possibilidades. Era na simplicidade que estava a sua genialidade. Não havia nenhum tutorial complexo ou árvores de habilidades.
O objetivo era claro: andar para a direita, pular nos inimigos, salvar a princesa. Essa acessibilidade permitiu que pais jogassem com filhos, que amigos que nunca haviam tocado num videogame pudessem se divertir. Mario não era um clube fechado; era uma festa para todos.
Depois, veio a revolução. O pulo para o 3D em Super Mario 64 não foi apenas uma evolução técnica; foi um salto de fé que redefiniu o que os jogos poderiam ser. Correr livremente pelos corredores do castelo da Princesa Peach, explorar cada canto de Bob-omb Battlefield… essas não são apenas memórias de gameplay, são marcos em nossas vidas digitais. Quem não se lembra da primeira vez que executou um salto triplo perfeito ou lançou o Bowser pelo rabo?
Outros que me trazem um sentimento quase indescritível são os títulos do Nintendo Wii: New Super Mario Bros Wii, Mario Galaxy, Mario Galaxy 2 e muitos outros como Mario e Sonic nos Jogos Olímpicos.
O que torna a nostalgia de Mario tão especial é que ela não vive apenas no passado. A Nintendo soube muito bem cultivar esse legado. Jogos como Super Mario Odyssey não são apenas para a nova geração; são cartas de amor para os fãs antigos, recheados de referências e segredos que nos fazem sorrir e dizer: “eu entendi essa”.
O recente sucesso do filme animado prova que o apelo é universal e atemporal. Nas salas de cinema, pais certamente apresentaram o herói de infância aos filhos, criando um novo ciclo de memórias.
No fim das contas, a nostalgia que sentimos por Mario é um reflexo de uma busca por tempos mais simples, por uma alegria mais pura.
Em um mundo muitas vezes cínico e complicado, Mario é a lembrança de que, às vezes, tudo o que a gente precisa para ser herói é um bom par de botas, uma boa motivação, amigos e a coragem para dar o próximo salto. E, claro, o som inconfundível de uma vida extra sendo conquistada.
“It’s-a me, Mario!” – uma frase simples, dita com um sotaque carregado, mas que para alguns de nós, ressoa como um “bem-vindo de volta ao lar”. E esse é um lar que, felizmente, o tempo se recusa a esquecer.