A Polícia Civil de Goiás prendeu nesta quinta-feira (30) cinco pessoas suspeitas de participar de um esquema que beneficiou cerca de 50 militares da reserva com isenção indevida de imposto de renda, usando laudos falsos que alegavam exposição ao césio-137 — o maior acidente radiológico do país, ocorrido em 1987.
De acordo com as investigações, o grupo criminoso era formado por advogados, um médico, um engenheiro e um militar, e teria causado um prejuízo de aproximadamente R$ 1,7 milhão aos cofres públicos.
“Conseguimos identificar o grupo de forma bem distinta. Havia um núcleo jurídico, um núcleo de captação, um núcleo de fraude e um núcleo de advogados laranjas”, explicou o delegado Leonardo Dias Pires, da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic).
A operação, batizada de Césio 171, cumpriu três mandados de prisão temporária e sete de busca e apreensão na Região Metropolitana de Goiânia. Os nomes dos investigados não foram divulgados. Até a última atualização, a reportagem não havia obtido contato com suas defesas.
Como funcionava o esquema
Segundo a Deic, o grupo atuava em diferentes frentes:
- O núcleo de captação, formado por uma advogada e um militar da reserva, atraía outros militares com a promessa de conseguir isenção do Imposto de Renda;
- O núcleo de fraude, composto por um advogado e um médico, falsificava laudos e relatórios médicos que comprovariam a suposta exposição ao césio-137;
- O núcleo jurídico utilizava advogados “laranjas”, que emprestavam senhas e tokens para o ajuizamento das ações no Judiciário;
- O engenheiro investigado assessorava o grupo, auxiliando na elaboração dos documentos falsos e no “controle de qualidade” das fraudes.
De acordo com o delegado, o grupo cobrava dos beneficiados o equivalente a três parcelas do valor que seria isento no imposto, além de taxas pela coleta de material biológico. A polícia apreendeu fios de cabelo e outros materiais biológicos que seriam supostamente enviados para um laboratório nos Estados Unidos.
“Descobrimos que o material nunca foi encaminhado. Ele era apenas coletado, e os laudos eram forjados”, afirmou o delegado Leonardo Pires.
Órgãos fiscalizam e abrem apuração
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) informou que acompanha as investigações para “resguardar as prerrogativas profissionais e fiscalizar o cumprimento dos preceitos éticos da advocacia”, mas destacou que não comenta prisões ou condenações de seus inscritos.
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) também anunciou a abertura de procedimento interno para apurar os fatos.
“A conduta ética e o respeito à legislação profissional são pilares inegociáveis do Sistema Confea/Crea. Qualquer desvio que configure infração ética será rigorosamente investigado”, afirmou o conselho.
Operação teve duas fases
A primeira etapa da investigação, batizada de Fraude Radioativa, foi deflagrada em setembro de 2024 e cumpriu três mandados de prisão e 11 de busca e apreensão.
Na ocasião, os policiais identificaram mais de 100 processos judiciais baseados em documentos falsos.
A atual fase teve como objetivo responsabilizar todos os integrantes identificados do grupo e evitar que o prejuízo, estimado inicialmente em R$ 79 milhões, se ampliasse.


 
                             
                             
                             
                             
                     
                     
                     
                    








