O presidente da Argentina, Javier Milei, precisou ser retirado às pressas de uma carreata nesta quarta-feira (27), em Lomas de Zamora, região sul da Grande Buenos Aires, depois que manifestantes atiraram pedras e garrafas contra o veículo em que estava. Apesar da confusão, ninguém se feriu com gravidade.
A carreata fazia parte de um ato político organizado pelo partido de Milei e contou com a presença do deputado José Luis Espert, candidato às eleições legislativas de outubro. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o presidente acenando da caçamba de uma picape quando começa um tumulto, seguido por xingamentos e objetos arremessados.
De acordo com o jornal El Clarín, o evento foi suspenso após os incidentes. A publicação relatou que parte da multidão hostilizou o presidente, gerando um cenário de tensão.
Repercussão imediata
A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, acusou militantes ligados ao kirchnerismo de organizarem o ataque. “Essas pessoas, para recuperar algum poder, semeiam violência e caos”, escreveu em suas redes sociais.
O subsecretário de Comunicação Social, Javier Lanari, classificou o episódio como uma “tentativa de assassinato”, embora Milei não tenha sido ao menos atingido. O próprio Milei compartilhou diversas publicações condenando os ataques e posou para uma foto ao lado da irmã, Karina Milei, e de Espert.
Crise política e denúncias de corrupção
O ataque ocorre em um momento de forte desgaste do governo, o presidente enfrenta denúncias de corrupção envolvendo membros de sua administração e sua irmã Karina, que é uma das principais assessoras da Casa Rosada.
Em 22 de agosto, a Justiça argentina realizou operações de busca e apreensão em meio a investigações sobre um suposto esquema de propinas na compra de medicamentos. Foram apreendidos carros de luxo, celulares, uma máquina de contagem de dinheiro e cerca de US$ 266 mil (R$ 1,5 milhão) em espécie.
As suspeitas se intensificaram após a divulgação de áudios atribuídos a Diego Spagnuolo, ex-dirigente da Agência Nacional da Pessoa com Deficiência (ANDIS), demitido poucos dias antes. Nas gravações, Spagnuolo acusa diretamente Karina Milei e o subsecretário de Gestão Institucional, Eduardo “Lule” Menem, de receberem parte dos subornos. Ele afirma que até 8% dos contratos teriam sido desviados, o equivalente a US$ 500 mil a US$ 800 mil mensais, e que Karina embolsaria cerca de 3%.
Em um dos trechos, Spagnuolo chega a mencionar o próprio presidente:
“Estão roubando. Você pode fingir que não sabe, mas não joguem esse problema para mim. Tenho todos os WhatsApps de Karina”, diz uma das gravações.
Ele também afirma que conversou diretamente com Milei sobre os desvios: “Eles não consertaram nada”.
Tensões no Congresso e racha com a vice-presidente
Paralelamente ao escândalo, Milei enfrenta dificuldades no Congresso, onde acumula derrotas. Em julho, o Senado aprovou, por iniciativa da oposição, aumento das aposentadorias e benefícios para pessoas com deficiência. O governo argumentou que a medida afetaria o ajuste fiscal e pediu veto presidencial.
Milei não apenas vetou a decisão, como passou a atacar a própria vice-presidente, Victoria Villarruel, que preside o Senado e autorizou a votação. O presidente chegou a chamá-la de “traidora”.
Villarruel rebateu com dureza:
“O presidente precisa se comportar como um adulto.”
No início de agosto, a Câmara derrubou parcialmente o veto de Milei, restabelecendo os fundos destinados às pessoas com deficiência, mas mantendo o corte sobre as aposentadorias. A palavra final ainda será do Senado.
Eleições de outubro como referendo
As eleições legislativas de meio de mandato, marcadas para outubro, são vistas como um referendo sobre a agenda de austeridade e reformas de mercado de Milei. A instabilidade política, os protestos contra medidas econômicas e as denúncias de corrupção aumentam a pressão sobre o presidente.