O casamento entre games e cinema já não é novidade, mas nos últimos anos ganhou fôlego e sofisticação. O que começou como uma tentativa tímida de adaptar os pixels dos videogames para as telonas hoje se tornou uma tendência consolidada, com grandes estúdios investindo pesado para transformar franquias de sucesso em filmes igualmente bem sucedidos.
De Mortal Kombat a Super Mario Bros., o caminho dos consoles para o cinema é uma rota com alta lucratividade.
Primeiras tentativas

A primeira grande adaptação de um game para o cinema foi Super Mario Bros., lançado em 1993. Antes disso veio Cyber Ninja (ou Mirai Ninja), uma produção japonesa de 1988. Apesar da popularidade dos personagens da Nintendo, o filme foi um fracasso de crítica e público.
A trama distorcida e o tom sombrio conseguiram afastar até os fãs mais fiéis do encanador bigodudo. Ainda assim, a produção abriu as portas para que Hollywood começasse a enxergar o potencial dos videogames como base para roteiros cinematográficos.

Dois anos depois, Mortal Kombat (1995) foi lançado com uma proposta mais fiel ao jogo, apostando em cenas de luta coreografadas e trilha sonora marcante. O longa foi um verdadeiro sucesso comercial e hoje é lembrado com carinho pelos fãs.

A franquia ganhou um reboot em 2021, com mais violência gráfica e efeitos modernos, atingindo boa repercussão especialmente entre os nostálgicos. A continuação do filme de 2021, inclusive, está programado para sair em outubro de 2025.
Sucessos recentes

Entre os acertos mais recentes está Sonic: O Filme (2020). A produção começou com polêmica: o visual original do ouriço azul foi duramente criticado pelos fãs, muitos chegaram a mencionar que a polêmica seria uma forma de divulgação do filme. O trailer serviu também para levantar um debate a respeito do tal “vale da estranheza”, uma hipótese no campo da estética, robótica e computação gráfica que descreve a tendência humana a sentir uma estranha aversão e repulsa por réplicas que se assemelham muito, mas não perfeitamente, a seres humanos.
O termo foi cunhado em 1970 pelo professor de robótica japonês Masahiro Mori, que observou que, à medida que um robô se torna mais parecido com um humano na aparência e no comportamento, a nossa afinidade por ele aumenta, mas apenas até um certo ponto. Tudo vai por água abaixo quando a semelhança é muito próxima da realidade, mesmo com as pequenas imperfeições: a nossa empatia quase some e aí vem o mergulho no “vale” de estranheza e desconforto.
Em vez de enxergar uma máquina sofisticada, o ser humano passa a enxergar o outro “ser quase humano” como “errado” ou doente, o que desencadeia uma reação negativa.
No fim das contas, o estúdio responsável pelo filme foi obrigado a redesenhar o personagem. O esforço compensou — o longa se tornou um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de US$ 300 milhões mundialmente e ganhando uma sequência em 2022. O sucesso originou um terceiro filme, que estreou em 2024 e reforçou a força da SEGA nos cinemas.

Divulgação / Universal Pictures
Em 2023, a Nintendo finalmente acertou com Super Mario Bros. – O Filme, desta vez em animação. Produzido em parceria com a Illumination (de Meu Malvado Favorito), o longa foi extremamente fiel ao universo dos jogos e conquistou crítica e público.
Com vozes originais de atores famosos como Chris Pratt (Guardiões da Galáxia) e Anya Taylor-Joy (Furiosa: Uma Saga Mad Max), tornou-se a maior bilheteria global de um filme baseado em videogame até hoje, ultrapassando US$ 1,3 bilhão.
Outras franquias que não param

Outro exemplo de persistência é Resident Evil, da Capcom. A franquia foi adaptada para o cinema em 2002 com Milla Jovovich no papel principal. Ao longo de 15 anos, foram lançados seis filmes com ela, criando uma saga própria, mais voltada para a ação do que para o terror do game.

Em 2021, um reboot mais fiel aos jogos — Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City — foi lançado, mirando os fãs mais antigos, mas não convenceu a crítica especializada. Para se ter ideia, a aprovação no agregador de crítica Rotten Tomatoes foi de 30%, enquanto a aprovação do público geral ficou em 65%.

O interesse das produtoras não para por aí. Five Nights at Freddy’s chegou aos cinemas em 2023 e, apesar das críticas negativas, foi um sucesso de público.

Por outro lado, a adaptação de Borderlands (2024), mesmo com um elenco estelar incluindo Cate Blanchett e Jack Black, foi um fracasso de crítica e bilheteria. Agora em 2025 chegou a adaptação de Minecraft. O filme foi recebido como uma grande confusão sem sentido para alguns setores da crítica e para os fãs uma grande confusão divertida.

Outros projetos muito aguardados são as adaptações Ghost of Tsushima e o live-action de The Legend of Zelda.
Segundo dados da Newzoo, o mercado global de games movimentou mais de US$ 180 bilhões em 2021 — mais do que os setores de cinema e música somados. Com um público fiel, personagens icônicos e mundos narrativos ricos, os jogos oferecem matéria-prima pronta para o cinema. A diferença hoje é que alguns estúdios de Hollywood parecem ter entendido a essência dos games e como torná-los em filmes interessantes para o público das telonas.