O colapso do Banco Master começou antes mesmo da operação da Polícia Federal e da liquidação determinada pelo Banco Central. O mercado já notava sinais de alerta nos Certificados de Depósito Bancário (CDBs), investimento que milhões de brasileiros usam para guardar dinheiro. O caso expõe lições importantes para o consumidor comum, especialmente sobre como identificar riscos antes de aplicar.
Os CDBs cresceram 36% desde 2024 e ultrapassaram R$ 1,1 trilhão, segundo a Anbima. Nesse cenário, o Master chamou atenção ao oferecer remunerações muito acima das praticadas por bancos médios saudáveis, que geralmente pagam entre 110% e 120% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). As taxas do Master chegaram a 140% e, no mercado secundário, alcançaram 177% quando investidores tentaram vender antes do vencimento, um sinal clássico de que o mercado percebia risco elevado.
Segundo o consultor Otávio Araújo, da Zero Markets Brasil, essa escalada mostrava que o banco enfrentava dificuldades para acessar crédito mais barato e passou a depender da captação de varejo. Ele destaca que taxas excessivamente altas quase sempre indicam desequilíbrio financeiro e exigem atenção redobrada. O modelo de negócios da instituição agravava a situação, já que boa parte dos recursos estava concentrada em ativos ilíquidos, como carteiras “fabricadas” e precatórios, que não se convertem rapidamente em caixa.
Para o consumidor médio, o caso oferece orientações claras. O economista Bruno Perri, da Forum Investimentos, recomenda verificar informações acessíveis ao público, como o rating de crédito e o Índice de Basileia, que indicam a capacidade do banco de honrar compromissos e resistir a perdas. Ele também sugere pesquisar o histórico da instituição e acompanhar notícias sobre investigações ou mudanças bruscas na gestão.
O investidor também pode observar fatores simples, como porte do banco, velocidade de expansão e padrão de captação — pontos que, segundo o especialista Fernando Gonçalves, da The Hill Capital, ajudam a identificar instituições que oferecem taxas altas sem base sólida. Ele reforça que remuneração só é realmente atraente quando vem acompanhada de fundamentos consistentes.
Especialistas apontam quatro passos básicos que aumentam a segurança do consumidor:
- 1. Confirmar se o banco tem autorização do Banco Central;
- 2. Verificar a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC);
- 3. Pesquisar notícias sobre investigações e operações policiais;
- 4. Comparar a taxa com a de outros bancos de porte semelhante.
Araújo lembra que ratings ajudam, mas não garantem estabilidade. Por isso, recomenda diversificar emissores de CDBs e respeitar os limites do FGC: R$ 250 mil por instituição e R$ 1 milhão a cada quatro anos. Ele alerta que concentrar recursos em poucos bancos pode levar a perda de liquidez e judicialização em cenários de crise. A pergunta central que o consumidor deve fazer, afirma, é simples: por que só este banco precisa pagar tanto acima dos concorrentes para captar dinheiro?
As relações identificadas pela PF lembram a dinâmica de um esquema Ponzi, segundo o economista Luiz Perri, embora ele ressalte que o Master operava como banco regulado. Gonçalves concorda que a lógica aparenta uma pirâmide, mas atribui o colapso principalmente a um desequilíbrio grave de liquidez. Já Araújo afirma que o banco entrou em uma “zona perigosa” ao depender de captação crescente com taxas cada vez mais agressivas, mecanismo que imita, na prática, o funcionamento de um Ponzi.








