A compreensão do comportamento político do eleitor goiano exige, neste momento pré-eleitoral, a análise de indicadores que antecedem diretamente a intenção de voto. Entre esses indicadores, destaca-se a avaliação sobre a predisposição do eleitor a participar das eleições e o grau de definição do voto1. Esses elementos funcionam como variáveis estruturantes da dinâmica eleitoral e condicionam a interpretação de qualquer resultado de pesquisa divulgado antes do início oficial da campanha.
Aqui tem-se a análise do recorte específico de uma pesquisa quantitativa realizada pela GRUPOM Consultoria em Goiás entre 22 de outubro e 5 de novembro de 2025, cujo objetivo principal foi mapear a situação dos principais atores políticos para as eleições de 2026. A pesquisa utilizou abordagem quantitativa, com entrevistas presenciais e web, totalizando 3.179 entrevistas válidas em 103 municípios de todas as regiões do Estado de Goiás. O nível de confiança é de 95%, com erro máximo estimado de 2 pontos percentuais para o conjunto do estado.
Neste recorte, concentra-se a investigação sobre a intenção de participação e o grau de definição do voto, elementos fundamentais para estimar a maturidade das preferências eleitorais neste momento.
Sobre o perfil dos entrevistados
A amostra reflete de forma fiel a composição do eleitorado goiano. Há equilíbrio entre homens e mulheres, com leve predominância feminina, como ocorre no cadastro eleitoral. A distribuição etária é concentrada em adultos de 25 a 64 anos, núcleo mais numeroso e ativo do eleitorado, enquanto jovens até 24 anos aparecem em proporção menor, também coerente com a realidade estadual.
A escolaridade é majoritariamente de ensino médio, seguida por presença relevante de eleitores com ensino superior e participação menor de pessoas com ensino fundamental, padrão compatível com pesquisas híbridas e com o perfil educacional do estado. No campo religioso, predominam católicos e evangélicos, acompanhados de grupos menores de outras religiões e indivíduos sem religião, reproduzindo o cenário religioso goiano.
Regionalmente, a amostra distribui-se conforme o peso populacional: cerca de um terço na Região Metropolitana de Goiânia, participação proporcional no Entorno do Distrito Federal e aproximadamente metade no Interior. Esse conjunto assegura representatividade adequada e permite análises consistentes do comportamento eleitoral no estado
A não definição domina o eleitor goiano: metade ainda não sabe em quem votar para 2026
Um dos questionamentos da pesquisa e o seu resultado são:
“Considerando os seus sentimentos em relação à política brasileira e às eleições de 2026, qual das frases abaixo melhor descreve a sua intenção de participar das próximas eleições?”2

Quem já definiu em quem irá votar
Já a definição de voto permanece baixa. Apenas 42,5% dos entrevistados afirmam já ter um candidato, com destaque para homens (52,4% dos homens), moradores do interior (46,7% do interior) e eleitores com ensino superior (56,8% do ensino superior). Esses grupos compõem o núcleo mais firme do eleitorado neste momento. Em contraste, o Entorno registra apenas 8,8% (do entorno) de voto definido e se mantém como a região mais volátil do estado.
Quem não sabe em quem votará
O dado central, no entanto, está na outra ponta: a não definição, que atinge 50,5% da amostra.
E esse grupo tem rosto definido3. As mulheres concentram a maior parcela de não definidas, com 57,4% (das mulheres) nesse estágio. O ensino médio aparece como o maior contingente em números absolutos, e os jovens — embora pouco inclinados a se abster — são também os que menos definiram o voto: apenas 12,7% dos eleitores até 24 anos já escolheram um nome.
Quem não pretende votar
Os cruzamentos entre intenção de participar das eleições e perfil demográfico mostram que o eleitorado goiano chega a 2026 com baixa consolidação das escolhas e alto grau de incerteza.
Embora apenas 6,9% declarem que não pretendem votar, esse grupo se concentra em perfis muito específicos: mulheres, eleitores com baixa escolaridade e segmentos religiosos mais afastados da política institucional. São bolsões de distanciamento que ajudam a explicar a apatia em parte do estado.
Síntese e considerações em relação aos dados
Os dados mostram que o eleitorado goiano entra em 2026 sem definições consolidadas e com elevada liquidez eleitoral. Menos da metade já escolheu um candidato, enquanto a maioria permanece em observação, avaliando opções e adiando a decisão final. Esse predomínio da indefinição revela que, neste estágio, a visibilidade dos nomes pesa mais do que qualquer convicção consolidada.
A disputa, portanto, não será decidida pelos percentuais atuais das pesquisas, mas pela capacidade dos candidatos de dialogar com o grande contingente de indefinidos — especialmente mulheres, jovens e eleitores da região metropolitana e entorno de Brasília, que concentram o maior potencial de deslocamento. A abstenção declarada é pequena, mas aponta nichos de desalento político que também podem influenciar o resultado.
O conjunto das evidências indica um cenário totalmente aberto. As escolhas estão em construção e seguem sensíveis ao ambiente político, econômico e comunicacional dos próximos meses. Quem souber interpretar esse movimento com rigor e atuar sobre ele terá vantagem real na eleição de 2026.
Início da campanha eleitoral
A combinação dos resultados gerais com a análise dos cruzamentos permite afirmar, com clareza, que a fotografia eleitoral captada por este estudo revela um cenário ainda pouco consolidado e marcado por ampla indefinição entre segmentos centrais do eleitorado goiano.
Embora as pesquisas de intenção de voto realizadas no mesmo período apresentem números estáveis e metodologicamente confiáveis, o dado crítico apontado por esta investigação é que apenas uma parcela minoritária dos eleitores afirma já ter o voto definido. A maioria absoluta ainda está em processo de observação ou sequer iniciou um movimento efetivo de escolha.
Esse quadro implica que os percentuais divulgados hoje refletem sobretudo o efeito do estímulo da pesquisa, e não a convicção do eleitor. A chamada “intenção real” de voto dos candidatos é, portanto, significativamente inferior ao que se observa nas simulações estimuladas.
Como a massa de indefinidos é ampla e fortemente concentrada em segmentos que tradicionalmente decidem mais tarde – como mulheres, jovens, eleitores do ensino médio e moradores do Entorno – qualquer leitura absoluta das pesquisas neste momento incorre em superinterpretação.
Para políticos e pré-candidatos
O recado é inequívoco: o cenário de 2026 está aberto e dependerá menos do desempenho atual nas pesquisas e mais da capacidade de conquistar segmentos ainda desmobilizados ou indiferentes. A vantagem neste momento pertence aos nomes mais conhecidos, mas não necessariamente aos mais competitivos no longo prazo. A disputa será definida pela habilidade de dialogar com públicos pouco engajados, compreender suas motivações e conectar a comunicação eleitoral às experiências concretas desses grupos.
Para jornalistas e analistas políticos
O desafio é interpretar os números com a prudência que o momento exige. As pesquisas devem ser tratadas como indicadores de tendência, e não como previsões. O comportamento eleitoral continua em estado líquido, e uma parcela relevante da população sequer iniciou o processo de escolha. A cobertura, portanto, deve enfatizar a fluidez do cenário, evitando leituras deterministas.
Para marqueteiros e equipes de campanha
O estudo aponta a necessidade de uma estratégia segmentada e tecnicamente fundamentada. Não se trata apenas de ganhar visibilidade, mas de construir relevância entre os grupos mais indecisos. Mulheres exigem mensagens consistentes e menos polarizadas. Jovens demandam narrativas conectadas a futuro, oportunidade e identidade social. O Entorno requer comunicação territorializada, capaz de vencer a sensação de distância em relação ao centro político do estado. O ensino médio, maior contingente de eleitores indecisos, exige linguagem clara, direta e pautada em temas concretos.
Conclusão
A cada novo levantamento, fica mais evidente que a eleição de 2026 não será vencida pelo candidato que hoje aparece à frente nas pesquisas, mas por quem souber interpretar o que os números realmente significam. Em um cenário em que metade do eleitorado ainda não escolheu candidato, acreditar que as simulações atuais representam a “vontade consolidada” do goiano é mais comodidade do que análise. O eleitor está em movimento — e só quem entende como esse movimento ocorre consegue enxergar o que está por vir.
É justamente esse o ponto que tenho insistido: pesquisa não é previsão, é diagnóstico. E diagnóstico só tem valor quando é lido com rigor técnico, metodologia firme e experiência de campo. Desde 2006, convivendo diariamente com coleta, análise e interpretação de dados, aprendi que o desafio nunca é produzir números, mas compreender o que eles escondem — e, sobretudo, o que eles anunciam.
Meu trabalho, tanto à frente da GRUPOM Consultoria quanto na análise dos cenários eleitorais, sempre partiu da mesma premissa: números só servem se forem capazes de orientar decisões reais. E, para orientar decisões, precisam ser decifrados com método e responsabilidade. Esse tem sido o eixo central da minha atuação como analista, mestre em engenharia e pesquisador.
Ao longo das próximas semanas e meses, sigo aqui analisando o que os dados dizem — e, principalmente, o que ainda não estão dizendo. O ciclo eleitoral de 2026 será um teste de leitura fina do comportamento humano. Quem acompanhar esse movimento com atenção terá vantagem. Quem ignorar a incerteza permanecerá refém de ilusões estatísticas.
Todas as imagens foram geradas por inteligência artifical
Todos os gráficos e tabelas foram gerados pela GRUPOM Consultoria










