O filósofo Arthur Schopenhauer dizia que faz parte da vida humana carregar uma vontade insaciável. Desejamos algo intensamente, e, ao alcançarmos, logo substituímos por um novo desejo. É o ciclo interminável da vontade: a ânsia de ter e o tédio de possuir. Segundo ele, essa busca constante jamais traz satisfação duradoura — ela está, na verdade, ligada à frustração.
Nesse cenário, uma provocação: será que a paz pode ser encontrada na mediocridade?
Antes de tudo, é importante desfazer o peso da palavra “medíocre”. O dicionário Priberam traz significados comumente pejorativos — como banal, insignificante, vulgar — mas também o original. Do latim mediocris, medíocre significa simplesmente “mediano”, “intermediário”, aquilo que está no meio, num tom neutro. Ou seja, algo que não necessariamente é ruim, mas que não busca estar sempre no topo.
Em tempos de redes sociais como Instagram e TikTok, onde vidas perfeitas são editadas e exibidas constantemente, é fácil cair na armadilha das comparações. Essa cultura do destaque, do “ser o melhor”, atinge desde adolescentes até adultos, gerando ansiedade, insegurança e uma busca constante por validação.
O perfeccionismo, longe de ser um aliado do sucesso, muitas vezes se torna um sabotador. Pode levar à procrastinação — afinal, por que começar algo que talvez nunca fique “bom o suficiente”? —, ao medo de falhar e à paralisação. Além disso, se parar para pensar… cria uma dependência química da validação externa: a cada curtida, elogio ou reconhecimento, o cérebro libera dopamina. Logo, busca-se novamente aquele pico de prazer, iniciando uma luta incessante por aprovação.
Mas e se aceitássemos não ser excepcionais em tudo? E se entendêssemos que há valor em simplesmente tentar, mesmo sem ser o melhor?
Engajar-se em atividades pelo simples prazer de fazer, aprender e socializar — sem a pressão de competir — é um caminho possível para encontrar contentamento. Cozinhar sem querer virar chef, tocar violão sem sonhar com palcos, escrever sem pensar em publicar. É aí que a mediocridade, no sentido original da palavra, revela vantagem: o equilíbrio.
Isso não é sobre estagnação ou falta de ambição, mas sobre reconhecer que há uma utilidade — e até mesmo uma beleza — no que é ordinário, e liberdade em aceitar nossas limitações. E, talvez, seja justamente nesse meio-termo — entre o tudo e o nada — que exista uma forma mais leve de existir.