O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, admitiu que a humanidade fracassou na meta de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius (°C) em relação aos níveis pré-industriais, objetivo central do Acordo de Paris, firmado há dez anos.
Em entrevista ao jornal The Guardian e à agência de notícias Sumaúma, sediada na Amazônia, Guterres afirmou que a mudança de rumo é urgente. “Vamos reconhecer o nosso fracasso”, disse o secretário-geral, acrescentando que “não conseguimos evitar um aumento acima de 1,5°C nos próximos anos”.
Segundo ele, ultrapassar esse limite “terá consequências devastadoras”, com impactos em ecossistemas cruciais.
“Alguns desses pontos de inflexão estão na Amazônia, na Groenlândia, na Antártida Ocidental e nos recifes de coral. Não queremos ver a Amazônia transformada em savana, mas esse é um risco real se não reduzirmos drasticamente as emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível”, alertou.
Guterres destacou que a última década foi a mais quente da história, desde o início dos registros. Mesmo assim, apenas 62 dos 197 países signatários do Acordo de Paris apresentaram suas novas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) — os planos de ação climática exigidos pelo pacto.
O secretário-geral também criticou a falta de compromisso das principais economias globais. “Os Estados Unidos abandonaram o processo sob Donald Trump. A Europa prometeu, mas não cumpriu. A China, maior emissora mundial, não assumiu compromissos suficientes”, afirmou.
Guterres pediu ainda que as comunidades indígenas tenham mais protagonismo na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada no Brasil, de 10 a 21 de novembro.
“Todos sabemos o que os lobistas querem: aumentar os seus lucros. O preço será pago pela humanidade”, declarou. “É fundamental investir naqueles que são os melhores guardiões da natureza — as comunidades indígenas.”
A entrevista também marcou um momento inédito: foi a primeira concedida por Guterres a um jornalista indígena, Wajã Xipai, do povo Xipai, repórter da Sumaúma, que conduziu a conversa em parceria com o Guardian. O mandato de António Guterres à frente da ONU termina em 2026. Ele afirmou que gostaria de ter se dedicado mais cedo às questões climáticas e ambientais, que agora considera sua prioridade máxima.










