Era uma manhã perfeita para voar. Da janela, um céu azul enquanto um A320 da TAM surgia no canto esquerdo. Via-se o toque das rodas na pista, a fumaça branca que se levantava do asfalto, os reversores se abrindo com um rugido abafado.
Depois disso, vinha a mágica: acompanhar parte do taxiamento lento até a parada final, o balizamento dos funcionários no pátio, a dança dos sinais de mãos e coletes refletivos.
Ver a espiral dos motores girando deixava qualquer um hipnotizado. Para quem assistia tudo dali, como eu, era como ver um espetáculo que nunca se tornava repetitivo.

O antigo terminal do Aeroporto Santa Genoveva era minúsculo. E todo mundo reclamava. Mas havia algo naquele lugar — talvez a precariedade charmosa, talvez as memórias — que ainda provoca uma espécie de saudade em quem o conheceu de verdade. Um apego que nem a modernização conseguiu apagar.
Não havia fingers (pontes para embarque). Em dias de chuva, embarcar era um pouco chato. Ainda assim, nos tempos da saudosa TAM, o “magic red carpet” estendido até a escada da aeronave e o guarda-chuva suavizavam o desconforto com um toque de elegância fora de lugar — ou talvez justamente por isso, marcante.

O nome do aeroporto — e do bairro onde ele está — é uma homenagem à mãe do doador do terreno, o médico, escritor e empresário Altamiro de Moura Pacheco. Dona Maria Genoveva, que carregava o mesmo nome da santa, foi eternizada na cidade.
Lembro como se fosse ontem quando a Azul começou a operar em Goiânia. Os Embraer 190 e 195 chegaram de mansinho, dividindo o pátio com os jatos da antiga Trip. Também vi os pequenos ERJ 145 da Passaredo no pátio — bem diferentes dos grandes Boeings da Gol e dos Airbus da TAM. Cada avião, cada companhia, tinha sua própria presença, sua própria assinatura sonora.
Nada se comparava a passar horas observando pousos e decolagens, o acionamento dos motores, os pushbacks e as luzes da pista piscando no fim da tarde. Era uma forma de estar em terra firme e, ao mesmo tempo, em outro lugar.

Em 2016, o novo terminal finalmente saiu do papel. Mas chegou pequeno. Desde o início, já se mostrava aquém do crescimento da cidade. Poucas opções de alimentação, poucas lojas, pouca vida. Um aeroporto moderno que ainda não entendeu o que poderia ser — ou o que representa para tanta gente.

O principal que faltou no novo terminal: a visão. Não existe mais um local para observar os pousos, decolagens e operações em solo. O aeroporto, quando ainda não havia passado pelos trâmites para se tornar internacional, tinha um pequeno “observatório”, que somente dava visão do começo da pista 32. A situação, que já não era boa, conseguiu piorar, pois a área foi integrada a sala de embarque dos passageiros.
Hoje, o antigo terminal está abandonado, coberto de poeira. E ali poderia nascer um museu. Um espaço para mostrar às novas gerações como era um pedaço da aviação em Goiânia, como a cidade se conectava com o mundo antes de crescer tanto.
Claro, há limitações técnicas, de segurança, de orçamento. Não consigo avaliar os entraves para um projeto assim. Talvez seja só uma ideia nostálgica demais. Mas, mesmo que esse hipotético museu cobrasse ingresso, ele poderia ser mais uma opção de cultura para a capital. Um lugar onde a história da aviação local não ficasse esquecida do outro lado.
Goiânia cresceu, o aeroporto mudou, algumas companhias vieram, ficaram e outras se foram. Mas algumas lembranças resistem ao tempo — como o som de um motor ganhando potência ou a emoção de ver um avião decolar, só com os olhos colados no vidro.