Alberto Santos-Dumont (1873–1932) foi um inventor e pioneiro da aviação nascido em Minas Gerais. Filho de um influente cafeicultor e engenheiro brasileiro de ascendência francesa, cresceu fascinado por máquinas aéreas desde cedo.
Na Europa, onde aprofundou seus estudos de forma autodidata, projetou e pilotou balões, dirigíveis e, finalmente, em Paris, construiu e voou com o icônico 14-Bis, tornando-se um dos maiores símbolos da aviação.
Um voo público e pioneiro — o 14-Bis

Em 23 de outubro de 1906, no Campo de Bagatelle, em Paris, Santos-Dumont fez um voo público e homologado com o 14-Bis: percorreu cerca de 60 metros a aproximadamente 2 a 3 metros de altura, sem auxílio de rampas, catapultas, ventos contrários nem declives. Pouco depois, em 12 de novembro de 1906, elevou-se a cerca de 6 metros e voou 220 metros em 21,5 segundos, estabelecendo o primeiro recorde mundial de aviação reconhecido pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI) e pelo Aéro-Club de France.
O 14-Bis decolava por seus próprios meios, usando um trem de pouso de rodas — essa autonomia e a visibilidade pública de seus feitos impulsionaram Santos-Dumont a ser considerado, sobretudo no Brasil, como o “Pai da Aviação”.
A disputa com os irmãos Wright
Nos Estados Unidos, os irmãos Wright são geralmente creditados com o primeiro voo motorizado em 1903, com o Wright Flyer, em Kitty Hawk. No entanto, a decolagem desse aparelho dependeu de um trilho de madeira sobre o qual a aeronave corria para ganhar velocidade, e voos posteriores utilizaram uma catapulta. Para muitos, esses auxílios externos comprometem a classificação do voo como autônomo.
No Brasil, muitos afirmam que os voos dos Wright não se qualificam como o primeiro, justamente por dependerem de auxílios externos para decolar e por não terem sido homologados publicamente por uma entidade aeronáutica, ao contrário do voo de Santos-Dumont, que foi um evento público e testemunhado. Essa narrativa tem forte respaldo no imaginário nacional como um símbolo de orgulho cultural.
Outras criações notáveis

Após o 14-Bis, Santos-Dumont projetou o Demoiselle, considerado o primeiro avião ultraleve do mundo e um dos primeiros a ser produzido em série. Ele adotou uma filosofia de ciência aberta — não patenteava suas invenções e incentivava sua disseminação, publicando os planos do Demoiselle e acelerando a popularização da aviação.
Além disso, também inventou dirigíveis, um chuveiro de água quente para sua residência, o conceito de hangar e inspirou a criação do relógio de pulso em uma colaboração com seu amigo Louis Cartier.
Legado e controvérsias
Para muitos no Brasil e na Europa, Santos-Dumont foi de fato o inventor do avião, por seus voos públicos, autônomos e homologados. Essa visão ganhou novos defensores, inclusive no alto escalão político, como o presidente Lula, que já criticou a narrativa que coloca os Wright em primeiro plano, ofuscando a contribuição brasileira.
Já historiadores internacionais e museus, como o Smithsonian, reconhecem os Wright como pioneiros pelos critérios definidos pelos Estados Unidos.
Os defensores dos Wright argumentam que o uso de um trilho de lançamento ou catapulta (usado em voos posteriores para decolar com ventos fracos) não invalida o feito, pois o avião se movia e se sustentava no ar por sua própria potência após deixar o trilho. O critério para eles é a realização de um voo controlado e sustentado, independentemente do método de decolagem ou da presença de uma comissão oficial no primeiro momento.
Por fim, Alberto Santos-Dumont não apenas sonhou com o voo — ele fez história ao realizar o primeiro voo público, autônomo e homologado de uma aeronave mais pesada que o ar.
O seu legado vai além da aviação: ele promoveu a inovação aberta, inspirou tecnologias cotidianas e se tornou um símbolo nacional.