O governo brasileiro enviou uma carta aos Estados Unidos para manifestar indignação contra a tarifa de 50% imposta sobre produtos brasileiros. O documento, assinado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e pelo chanceler Mauro Vieira, foi endereçado ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante comercial Jamieson Greer.
Alckmin e Vieira criticaram a medida anunciada por Donald Trump no último dia 9, que passa a valer em 1º de agosto. Eles alertaram que a tarifa prejudica setores importantes das duas economias e ameaça a parceria histórica entre os dois países.
A carta rebate o argumento de Trump de que o comércio com o Brasil seria “injusto” e prejudicial aos EUA. O governo brasileiro lembrou que o Brasil acumula déficit comercial de quase US$ 410 bilhões com os americanos nos últimos 15 anos, conforme dados oficiais dos EUA.
O documento também critica a falta de transparência do governo americano ao não indicar os pontos específicos que o motivaram a impor as tarifas. As autoridades brasileiras destacaram que o Brasil tentou negociar alternativas e, desde abril, pediu que Washington apontasse áreas de preocupação.
O governo brasileiro também citou uma minuta confidencial enviada aos americanos em 16 de maio, com propostas para solucionar o impasse. Segundo o Itamaraty e o MDIC, os Estados Unidos ainda não responderam.
“Reiteramos o interesse do Brasil em receber comentários sobre nossa proposta e reforçamos a disposição para um diálogo que busque soluções equilibradas”, diz a carta.
O Brasil também reiterou a intenção de mitigar os impactos negativos para o comércio bilateral e preservar a relação histórica entre os países.
leia a íntegra da carta
A Suas Excelências os Senhores
Secretário de Comércio, Howard Lutnick
Representante Comercial dos Estados Unidos, Embaixador Jamieson Greer
1. O Governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto. A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países. Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas.
2 . Desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em 2 de abril de 2025, e de maneira contínua desde então, o Brasil tem dialogado de boa-fé com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral, apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços, que montam, nos últimos 15 anos, a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do governo dos Estados Unidos. Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano.
3. Com esse mesmo espírito, o Governo brasileiro apresentou, em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente acordadas.
4. O Governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à sua proposta.
5. Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o Governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral.
