14 de novembro marcou o lançamento de Call of Duty: Black Ops 7 (BO7), um título que, em vez de reforçar o legado de uma das franquias de shooters mais amadas, acabou associado a uma onda de polêmicas.
Do aumento do Game Pass ao uso de artes produzidas por IA e à rejeição histórica dos players no Metacritic, BO7 terminou em um exemplo dos riscos de colocar o faturamento acima da qualidade e do respeito ao consumidor.
Game Pass Ultimate e a estratégia da Microsoft
A subida de preço do Game Pass que pegou todos de surpresa em outubro não foi avulsa, e quem diz isso não sou eu. Analistas do setor apontam que a mudança foi uma tentativa de compensar o custo de disponibilizar o BO7 no serviço no dia do lançamento.
Documentos internos que vazaram durante o ciclo de desenvolvimento do BO6 indicavam que a Microsoft previa uma perda de cerca de US$ 300 milhões em vendas diretas ao ofertar o título no catálogo. Sabendo disso, a estratégia fica mais clara: empurrar os usuários para o plano Ultimate, agora praticamente a única via para jogar lançamentos “Day One” sem pagar os 70 dólares do título completo.
Como resumiu um artigo recente da IGN:
“É o ‘imposto Call of Duty’ disfarçado”—uma forma de o Xbox garantir que, mesmo com o jogo no Game Pass, parte da receita perdida seja recuperada.”
Mas a discussão sobre preços foi apenas o início.
IA: artes genéricas, críticas da comunidade e intervenção política

A polêmica maior recaiu sobre o uso massivo — e frequentemente de baixa qualidade — de Inteligência Artificial nas artes do jogo. Jogadores que pagaram preço cheio esperavam o melhor, mas encontraram imagens que muitos descreveram, em fóruns como o Reddit, como “lixo gerado por IA”.
Entre os elementos mais criticados estão os Calling Cards (aqueles que aparecem quando um jogador elimina o outro), que imitam o estilo do Studio Ghibli, mas exibem aquelas falhas típicas de IA: deformações sutis em rostos, paisagens com detalhes “alucinados” e inconsistências visuais.
Um post no Reddit, chamando o caso de “insulto à arte e aos artistas”, viralizou rapidamente e acumulou milhares de upvotes — alimentando o debate.
O tema chegou até o Congresso dos Estados Unidos. O deputado Ro Khanna utilizou Black Ops 7 como exemplo público do uso predatório de IA, acusando a Activision de cortar custos e substituir profissionais por algoritmos. Ele defendeu regras mais rígidas para impedir que grandes corporações “troquem criatividade humana por ferramentas baratas”.
A Activision evitou respostas diretas, claro, apenas soltando comunicados vagos sobre “ferramentas digitais avançadas”, o que, para muitos, soa como uma confirmação indireta.
Metacritic em chamas
O impacto de todas essas decisões ficou evidente nas avaliações dos jogadores. O User Score do Black Ops 7 no Metacritic caiu para entre 1,7 e 1,9, dependendo da plataforma — níveis raramente vistos na franquia.
O sentimento geral é de que não é apenas um jogo ruim, é um jogo que parece inacabado e sem respeito pelo jogador.
As principais queixas estão na Campanha, considerada como inexistente, isso porque é curta, genérica e inundada de bugs, com relatos de que nem pausar ou salvar era possível em momentos importantes.
Isso sem falar nas quedas de servidor, crashes e lag, dando a impressão de uma versão beta vendida a preço cheio. Quase que num mesmo caminho que Naruto X Boruto Ultimate Ninja Storm Connections, o BO7 parece uma DLC extensa do BO6, sem inovações suficientes para justificar o valor de US$ 70 ou a assinatura mais cara do Game Pass.
A equação perigosa
O caso Black Ops 7 expõe uma possível tendência preocupante: grandes produtoras que recorrem à IA como atalho para reduzir custos, enquanto pressionam o consumidor com aumentos indiretos e entregam produtos percebidos como genéricos ou incompletos.
Quando decisões financeiras baseiam inteiramente o desenvolvimento mais do que a criatividade, o resultado costuma chegar primeiro a quem está do outro lado da tela — o jogador. E, num mercado saturado e competitivo, essa é uma conta que nem mesmo uma das franquias mais icônicas pode ignorar por muito tempo.








