O termo dendrofobia significa, literalmente, “aversão às árvores”. Embora possa soar incomum, essa aversão é um fenômeno real nas cidades brasileiras e um dos fatores que explicam o baixo índice de arborização urbana no país. Mais do que um medo individual, a dendrofobia se manifesta na gestão pública e na cultura de parte da população, tratando árvores como um problema ou um item meramente decorativo, e não como a infraestrutura essencial que são.
O que é a dendrofobia na prática?
No contexto urbano, a dendrofobia não é necessariamente um pânico, mas sim uma rejeição ativa ao plantio de árvores fora de locais “controlados”, como parques e praças.
Essa aversão é alimentada por uma série de temores e percepções distorcidas. Um artigo publicado pela Agência Senado aponta os principais receios que levam à rejeição das árvores nas calçadas e ruas:
- Medo de acidentes: O temor de que as árvores não resistam a tempestades e caiam sobre carros, casas e pessoas.
- Percepção de “sujeira”: A ideia de que as árvores “sujam” a calçada com a queda de folhas, flores ou frutos.
- Prejuízo ao comércio: Lojistas que são refratários às árvores por pensarem que elas “obstruirão a fachada” de seus negócios.
Segundo a bióloga Aline Cavalari, citada no texto, essa é uma “visão distorcida” que leva muitos a crer que as árvores prestam um “desserviço” às cidades, quando, na verdade, oferecem um serviço ambiental vital.
O ciclo vicioso da má gestão
Ironicamente, essa aversão às árvores é muitas vezes reforçada pela própria má gestão pública.
O texto aponta que, quando as prefeituras plantam espécies inadequadas para o local ou negligenciam a manutenção, os problemas de fato ocorrem. Por exemplo:
- Árvores com raízes superficiais que quebram calçadas.
- Árvores com frutas pesadas plantadas sobre estacionamentos, danificando carros.
- Árvores altas plantadas sob a fiação elétrica, exigindo podas drásticas (mutilações) ou causando acidentes.
Como aponta a engenheira florestal Ana Lícia Patriota, quando esses danos ocorrem por manejo incorreto, a população “ainda tem a ousadia de culpar a própria árvore”, e não a falta de planejamento. Isso alimenta a dendrofobia e reforça a decisão de não plantar.
A regra de ouro
A superação dessa cultura é um dos objetivos da nova Política Nacional de Arborização Urbana, que incorpora o esquema 3-30-300, considerado pela ONU a “regra de ouro” da arborização urbana. O modelo estabelece três metas simples e verificáveis:
- 3 árvores visíveis da janela de casa, da escola ou do trabalho;
- 30% de cobertura de copa em cada bairro;
- um espaço verde a até 300 metros de onde cada pessoa vive ou trabalha.
Ao estabelecer metas que recaem sobre cada habitante e cada bairro — e não apenas sobre a cidade como um todo — a regra 3-30-300 impede que o poder público se satisfaça com a arborização de áreas mais ricas enquanto ignora as mais pobres. O objetivo é enfrentar a injustiça ambiental, que alimenta a injustiça climática, já que enchentes, ilhas de calor e deslizamentos afetam com maior intensidade a população carente.
Como combater a aversão?
A superação dessa cultura é um dos objetivos da nova Política Nacional de Arborização Urbana. A ferramenta apontada por especialistas, como Ketleen Grala, da Unipampa, é a educação ambiental.
O objetivo é sensibilizar a população e os gestores, mostrando que as árvores não são um problema, mas uma solução. Com planejamento, escolha de espécies nativas corretas e manejo profissional, os benefícios (redução de calor, enchentes, poluição e até da violência) superam amplamente os riscos, transformando o medo em apreciação.
Extra: cidades mais arborizadas segundo o Censo de 2022 do IBGE
- Campo Grande (MS) – 91,4%
- Goiânia (GO) – 89,6%
- Palmas (TO) – 88,7%
- Curitiba (PR) – 85,2%
- Brasília (DF) – 84,2%
- Porto Alegre (RS) – 76,5%
- Belo Horizonte (MG) – 75,3%
- Cuiabá (MT) – 74,5%
- São Paulo (SP) – 66,2%
- Porto Velho (RO) – 64,9%










