Imagine estar no meio de uma corrida, treino ou até dormindo tranquilamente e, de repente, sentir uma dor intensa e paralisante na panturrilha ou em outro músculo. Essa sensação desconfortável, conhecida como cãibra, afeta pessoas de todas as idades, mas é especialmente comum entre atletas. Embora pareça algo simples, a cãibra envolve processos complexos no corpo humano e pode estar ligada a diferentes fatores.
Mas afinal, por que as cãibras acontecem? E por que os atletas sofrem mais com elas?
Uma contração sem controle
Tecnicamente, a cãibra é definida como uma contração involuntária, súbita e dolorosa de um músculo ou grupo muscular, que pode durar de alguns segundos a vários minutos. Ela ocorre na musculatura estriada — os músculos que controlamos conscientemente — e costuma afetar mais as pernas (panturrilhas, coxas e pés), mas também pode surgir nos braços, pescoço, abdômen e outras regiões.
Segundo especialistas, as causas são multifatoriais: não existe um único motivo que explique todas as cãibras. Entre os fatores mais apontados estão:
- Acúmulo de ácido lático: durante exercícios intensos, o corpo quebra a glicose para produzir energia e libera ácido lático. Quando o músculo não consegue eliminar essa substância rapidamente, ela se acumula e contribui para a fadiga muscular.
- Desequilíbrio de eletrólitos: durante a prática de esportes, o corpo perde sais minerais importantes, como sódio, potássio, cálcio e magnésio, principalmente pelo suor. Esses íons são fundamentais para a contração e o relaxamento muscular. Sem eles, o músculo passa a agir de forma descoordenada.
- Desidratação: a perda excessiva de líquidos reduz o volume sanguíneo e prejudica o transporte de nutrientes e oxigênio aos músculos.
Além desses, a falta de alongamento, postura inadequada, uso de certos medicamentos e algumas doenças (como hipotireoidismo, diabetes e doenças vasculares) também aumentam o risco de cãibras.
Por que os atletas sofrem mais?
Atletas estão mais expostos às cãibras por uma combinação de fatores: esforço físico intenso, alta perda de líquidos e eletrólitos, e uso repetido dos mesmos músculos. Durante treinos longos ou competições, especialmente em calor intenso, o corpo perde grandes quantidades de suor — e junto dele, sais minerais essenciais. Se essa reposição não for feita adequadamente, a musculatura entra em fadiga mais cedo.
Além disso, movimentos repetitivos e prolongados podem sobrecarregar determinadas fibras musculares, favorecendo microlesões e irritações nos nervos locais, o que também pode desencadear espasmos.
É comum, por exemplo, jogadores de futebol sentirem cãibras nos minutos finais de uma partida ou corredores experimentarem dores durante maratonas. Segundo o fisiologista Diego Leite de Barros, “respeitar os limites do corpo, manter a hidratação e planejar a alimentação são chaves para evitar o problema.”
E no dia a dia?
Engana-se quem pensa que a cãibra é exclusividade de atletas. Muitas pessoas relatam episódios durante o sono, ao acordar ou até ao mudar de posição no sofá. Nesses casos, fatores como má circulação, encurtamento muscular por falta de alongamento, deficiências nutricionais e até o frio podem estar envolvidos. Em idosos, o problema é mais frequente devido à perda de massa muscular e ao estreitamento das artérias.
Durante a gravidez, as cãibras também são comuns, especialmente nas pernas, por causa da compressão dos vasos sanguíneos e alterações hormonais que aumentam o volume de sangue e favorecem retenção de líquidos.
Como agir e como prevenir?
Quando a cãibra surge, a recomendação principal é interromper a atividade e alongar suavemente o músculo afetado. Massagens leves e compressas mornas também ajudam a relaxar a região. Para casos persistentes ou muito frequentes, um médico deve ser consultado.
Para evitar as crises, as orientações incluem:
– Manter uma hidratação adequada (cerca de 2 litros de água por dia, ou mais em atividades intensas);
– Consumir alimentos ricos em potássio, magnésio, cálcio e vitaminas do complexo B (banana, abacate, leite, nozes, verduras, aveia, entre outros);
– Fazer alongamentos antes e depois da prática de atividades físicas;
– Evitar treinar em jejum ou logo após refeições pesadas;
– Respeitar os limites do corpo e ter um plano de treino progressivo.
Embora a cãibra seja, na maioria das vezes, apenas um incômodo passageiro, episódios muito frequentes ou associados a outros sintomas podem indicar problemas circulatórios ou neurológicos e exigem investigação médica.
Em qualquer situação, entender as causas e os cuidados necessários pode ajudar a evitar dores inesperadas e garantir mais qualidade de vida e desempenho físico.