Apesar de a carne bovina brasileira estar entre os produtos com a nova tarifa de 50% dos Estados Unidos, analistas preveem que a oferta interna não aumentará, e os preços para o consumidor não cairão significativamente. A expectativa de alta nos preços deve prevalecer no médio prazo, mesmo com a possível queda nas exportações para o segundo maior mercado da carne brasileira.
A principal razão para essa tendência é a redução já prevista no abate de gado no Brasil. Economistas afirmam que, independentemente da tarifa, a indústria já se preparava para abater menos bois neste segundo semestre para priorizar a reprodução de fêmeas, um movimento que faz parte do ciclo pecuário. Com a sobretaxa dos EUA, esse movimento de segurar mais animais no pasto será reforçado.
Enquanto a oferta de carne diminui, a demanda interna se mantém estável, o que pressiona os preços para cima. A curto prazo, os preços nos supermercados podem até cair ligeiramente, pois o mercado brasileiro precisa absorver o estoque que seria vendido para os EUA, mas essa queda não deve durar muito.
O Ciclo Pecuário e o Impacto da Tarifa
A redução nos abates já era esperada. Durante o ciclo pecuário, os pecuaristas seguram as fêmeas para reprodução quando há expectativa de alta no preço do bezerro. Isso diminui a oferta de carne e eleva os preços. O auge do abate foi em 2024, e agora o ciclo entra na fase de retenção.
A tarifa dos EUA apenas acentua essa tendência. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, confirmou que os frigoríficos já pararam de produzir carne para o mercado americano. Produtores também estão diminuindo a quantidade de animais no confinamento, a fase final antes do abate, o que contribui para a queda na oferta interna.
Redirecionamento das Exportações e o Cenário Global
Os Estados Unidos compram 12% da carne exportada pelo Brasil, um volume muito menor do que a China, que compra mais que o dobro. Embora os exportadores afirmem que não há um substituto imediato para o mercado americano e que o Brasil pode perder US$ 1 bilhão neste setor em 2025, o cenário global pode ajudar a compensar.
A oferta mundial de carne deve cair 2%, uma tendência que afeta concorrentes como os próprios EUA e a Austrália. A expectativa é de uma redução de 2,3% na produção americana em 2025, e de 3% na australiana. Com a concorrência produzindo menos, o Brasil pode ter mais facilidade para encontrar novos compradores. Analistas, acreditam que países como o Egito, com demanda crescente por proteína, podem ser um destino para a carne que seria vendida aos EUA.
Vale destacar que apenas 20% da produção de carne bovina do Brasil é exportada. Os EUA importam a parte dianteira do boi, usada principalmente em hambúrgueres, enquanto os brasileiros preferem a parte traseira, de onde saem cortes como picanha e alcatra. A Austrália é o segundo principal fornecedor dos EUA, mas se concentra em cortes para supermercados, e não para a indústria, como o Brasil.