Brasília pode até ser conhecida como a capital da política, mas o que muita gente ainda subestima é o peso que a arquitetura da cidade poderia ter (e têm) no turismo nacional. Com traços inconfundíveis de Oscar Niemeyer e um planejamento urbano assinado por Lúcio Costa, a capital do Brasil é, na prática, um museu a céu aberto — e com capacidade de atrair turistas interessados em muito mais do que reuniões ministeriais ou concursos públicos.
Esquecida
Brasília recebeu mais de 64 mil turistas estrangeiros em 2024. Acontece que esse número não é praticamente nada perto do Rio de Janeiro que chegou a 1,5 milhão de turistas estrangeiros no mesmo ano. A noção é de que falta um trabalho de divulgação a riqueza cultural e arquitetônica de Brasília.
Patrimônio
Reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco desde 1987, Brasília é a única cidade moderna a receber esse título antes mesmo de completar 30 anos. O próprio plano piloto, com “formato de avião”, já é uma atração por si só — e é exatamente essa combinação entre urbanismo e monumentalidade que chama a atenção de turistas e estudiosos.
Locais mais famosos
Segundo um estudo do Observatório do Turismo do DF aponta que atrações como o Congresso Nacional, a Catedral Metropolitana, o Palácio da Alvorada e a Esplanada dos Ministérios estão entre os locais mais visitados.
Modernidade
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o conjunto arquitetônico de Brasília é um exemplo único do movimento moderno no mundo. A visão do órgão é que a cidade sintetiza ideais de modernidade, racionalidade e integração entre espaços públicos e privados.
Além dos cartões-postais mais famosos, roteiros alternativos têm ganhado força, como passeios guiados por superquadras, visitas ao Setor de Embaixadas e até excursões por igrejas menos conhecidas, mas que também levam a assinatura de Niemeyer.
Além de Niemeyer

A imagem que você vê acima é só um dos prédios residenciais bastante diferentes da capital. Localizados na Superquadra 107 Norte, blocos F-G-I, eles foram idealizados pelos arquitetos Mayumi Watanabe e Sérgio de Souza Lima.
Esses representantes do movimento brutalista eram parte do projeto “Unidade de Vizinhança São Miguel” que seria destinada para professores da UNB e diplomatas da capital, mas o empreendimento ficou sendo somente ideia mesmo. (Informações: Histórias de Brasília).
A Universidade de Brasília

O Câmpus Darcy Ribeiro, sede principal da Universidade de Brasília (UnB), é mais do que um espaço de ensino: é um marco da história, da arquitetura modernista e da resistência intelectual no Brasil. Sua origem remonta à construção da capital federal, quando o educador e antropólogo Darcy Ribeiro, a pedido do presidente Juscelino Kubitschek, foi encarregado de idealizar uma universidade moderna, democrática e voltada para os desafios do país. Em parceria com Anísio Teixeira, responsável pelo projeto pedagógico, e Oscar Niemeyer, autor dos primeiros edifícios, nasceu uma proposta de educação superior no Brasil.
A UnB foi criada oficialmente em 1961 e inaugurada em 21 de abril de 1962, no segundo aniversário de Brasília. O câmpus foi planejado por Lúcio Costa como parte do Plano Piloto e ocupa uma área de aproximadamente 395 hectares entre a Asa Norte e o Lago Paranoá. Ainda em seus primeiros anos, a universidade enfrentou a repressão do regime militar, e acabou se tornando símbolo de resistência. Professores foram cassados, estudantes perseguidos e o projeto acadêmico sofreu interferências. Mesmo assim, a UnB resistiu e se consolidou como uma das instituições de ensino mais importantes do país.
Um dos símbolos mais conhecidos do câmpus é o Instituto Central de Ciências (ICC), apelidado de “Minhocão”. Projetado por Niemeyer e concluído em 1971, o edifício é um corredor de concreto armado com cerca de 700 metros de extensão, reunindo salas de aula, laboratórios, institutos e departamentos. Sua proposta era integrar o conhecimento em um mesmo eixo físico e simbólico. A arquitetura pré-fabricada, adotada pela universidade, visava agilidade e economia, marcando o início de uma tradição construtiva que se estendeu por todo o câmpus.
Nas décadas seguintes, foram construídos outros edifícios emblemáticos, como a Biblioteca Central, o Restaurante Universitário e a Reitoria. O câmpus foi batizado oficialmente de Darcy Ribeiro em 1995, em homenagem ao seu idealizador. Hoje, o espaço continua em expansão, com projetos de preservação do acervo arquitetônico e ambiental, ao mesmo tempo em que enfrenta desafios de infraestrutura e modernização. Ainda assim, permanece como um território do saber, da diversidade e da transformação social.

O “Minhocão” da UNB sequer foi finalizado, mas é um dos charmes e, junto de outros prédios, é um dos grandes exemplares da arquitetura brutalista em Brasília.
Turismo
O turismo de arquitetura em Brasília também movimenta a economia criativa. Empresas locais oferecem city tours com foco em design, história e urbanismo. E a percepção no setor é de uma tendência de crescimento, com um aumento na procura por esses roteiros especializados nos últimos anos.
Mesmo quem já conhece a cidade pode se surpreender ao olhar Brasília com novos olhos — pelos traços do concreto, da simetria e da utopia modernista que ainda vive no coração do Brasil, apesar de a verdadeira arquitetura, por vezes, ser deixada de lado por algumas construtoras.