Mesmo em um espaço aéreo controlado por radares e por profissionais muito capacitados, colisões entre aeronaves ainda são um risco real. Para minimizar essa possibilidade, aviões comerciais contam com um aliado tecnológico fundamental: o TCAS (Traffic Collision Avoidance System), ou Sistema de Alerta de Colisão de Tráfego.
Esse sistema funciona de forma independente do controle de tráfego aéreo e é capaz de detectar outras aeronaves nas proximidades, calcular rotas de aproximação e emitir alertas sonoros automáticos aos pilotos, indicando manobras específicas, como subir (climb) ou descer (descend), por exemplo, para evitar uma colisão iminente. O TCAS já salvou centenas de vidas e é considerado um dos principais avanços em segurança na aviação civil.
TCAS e operação
O TCAS é um sistema embarcado que utiliza transponders — equipamentos obrigatórios em aviões comerciais — para se comunicar com outras aeronaves no entorno. Quando um avião equipado com TCAS identifica outro avião voando em rota de conflito, ele calcula a trajetória dos dois vetores e, caso haja risco de colisão, emite comandos de alerta sonoro e visual à tripulação.
Esses alertas são divididos em dois níveis:
TA (Traffic Advisory): alerta de tráfego, avisando que outra aeronave está próxima.
RA (Resolution Advisory): alerta de resolução, com instruções específicas de subida ou descida.
O sistema analisa em segundos a melhor forma de evitar o impacto, considerando o movimento relativo das aeronaves. Se ambos os aviões forem equipados com TCAS, os sistemas se comunicam e “combinam” manobras complementares — um sobe, o outro desce — para garantir a separação segura.
Casos que mostram a importância do TCAS
Apesar de ser um sistema confiável, o TCAS depende da resposta correta e rápida dos pilotos. Dois episódios emblemáticos na história da aviação ilustram como a interação humana com o sistema pode ser decisiva.
GOL 1907 e o jato Legacy
Em setembro de 2006, um Boeing 737 da GOL colidiu em pleno voo com um jato executivo Legacy, sobre a região amazônica. O acidente, que resultou na morte de 154 pessoas, foi causado por uma falha na comunicação e no funcionamento do transponder do Legacy, que impediu a atuação do TCAS.
O sistema de anticolisão não pôde alertar os pilotos da GOL, revelando a importância crítica do funcionamento adequado dos equipamentos e do cumprimento de protocolos de voo.
O quase desastre da Japan Airlines (JAL)
Em 2001, dois aviões da Japan Airlines — um DC-10 e um Boeing 747 — quase colidiram no espaço aéreo japonês devido a uma falha de comunicação com o controle de tráfego. Um controlador, em treinamento na época, cometeu um erro ao instruir o Boeing 747 a descer, quando, na verdade, pretendia dar essa ordem ao DC-10.
Isso fez com que os dois aviões ficassem em rota de colisão. Quando os sistemas TCAS de ambas as aeronaves detectaram o perigo, o DC-10 seguiu a instrução automática do TCAS e iniciou a descida. O 747, por sua vez, também começou a descer, mas desobedecendo o TCAS do avião e seguindo conforme ordenado pelo controle de tráfego.
Apesar da manobra incorreta, a colisão foi evitada graças à resposta rápida dos pilotos. Atualmente, a orientação, em caso de rota de colisão, é obedecer os alertas do TCAS para subir ou descer.
Confira abaixo uma simulação do incidente, exibida no programa Mayday: Desastres Aéreos, do extinto canal National Geographic.
Confiar no TCAS salva vidas
Apesar de raros, os incidentes envolvendo quase-colisões servem como alerta: a confiança no TCAS é essencial. Desde que o sistema foi implementado de forma obrigatória em grandes aeronaves comerciais, milhares de situações de risco foram resolvidas sem que os passageiros sequer soubessem.