Uma rara e exótica criatura marinha chamou a atenção de especialistas e moradores do litoral sul de São Paulo. Um exemplar do Glaucus atlanticus, conhecido popularmente como dragão azul, foi encontrado morto na faixa de areia da praia de Peruíbe. O flagrante foi feito pela bióloga e pesquisadora Gemany Caetano, que passava pelo local no último dia 6 de abril. O animal, uma espécie de lesma-do-mar, chama atenção por sua coloração vibrante e formato que lembra criaturas fantásticas.
O dragão azul é um molusco pelágico da ordem Nudibranchia, ou seja, vive em mar aberto, longe da costa. Com cerca de 3 a 4 centímetros quando em seu habitat natural, o animal costuma flutuar com a barriga voltada para cima e utiliza o estômago como reservatório de oxigênio para se manter à superfície. Fora da água, entretanto, seu corpo reduz de tamanho e pode se tornar quase imperceptível. “É um animal que facilmente se camufla com o lixo ou com a areia. Raramente é encontrado por aqui justamente porque não sobrevive em ambientes terrestres”, explica Gemany.
Embora seja uma espécie encontrada em águas tropicais e temperadas de todos os oceanos, a aparição do Glaucus atlanticus no Brasil está associada a eventos climáticos como ressacas, ciclones extratropicais e ventos intensos. No caso registrado em Peruíbe, a pesquisadora atribui a presença do animal à forte ventania registrada no litoral paulista naquela semana, com rajadas acima de 40 km/h empurrando o animal até a areia.
O dragão azul possui uma característica peculiar: alimenta-se de organismos como a caravela-portuguesa, espécie conhecida por seus tentáculos urticantes. Após o consumo, o Glaucus armazena as células urticantes da presa em seu próprio corpo, tornando-se ainda mais venenoso. Apesar de seu tamanho diminuto, a picada pode causar dor intensa e reações adversas em humanos. Por isso, especialistas recomendam que o animal não seja tocado, mesmo quando aparentemente morto.

De acordo com o Bureau of Ocean Energy Management, órgão do governo dos Estados Unidos, o Glaucus atlanticus pode paralisar presas até 300 vezes maiores que ele. Além disso, trata-se de uma espécie hermafrodita, com capacidade de reprodução cruzada que resulta em pequenas ninhadas de ovos depositadas em superfícies flutuantes.
Gemany estuda nudibrânquios, como o dragão azul, no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Segundo a pesquisadora, esses moluscos, embora pouco conhecidos do público em geral, têm papel relevante na manutenção do equilíbrio ecológico dos oceanos. “Além de serem importantes para o ecossistema marinho, esses animais têm grande potencial para pesquisas científicas, inclusive no desenvolvimento de novos fármacos e em estudos neurológicos”, afirma.
Mesmo com sua aparência quase alienígena, o dragão azul existe há milhões de anos. Ainda que seja uma figura quase mítica para muitos, sua presença em território brasileiro, mesmo que rara, serve como alerta sobre os impactos das mudanças climáticas e a importância de preservar a biodiversidade marinha.