O ex-presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento na tarde desta quinta-feira (10), ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023. No depoimento, que durou pouco mais de 2h10, Bolsonaro admitiu que participou de reuniões nas quais foram discutidas alternativas para reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022, vencidas por Lula.
“As conversas eram bastante informais. Não era nada proposto, ‘vamos decidir’. Era conversa informal para ver se existia alguma hipótese de um dispositivo constitucional para a gente atingir o objetivo que não foi atingido no TSE. Isso foi descartado na segunda reunião”, afirmou Bolsonaro ao ministro.
GLO
O ex-presidente também minimizou o conteúdo das conversas reveladas na investigação sobre a utilização da Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Segundo ele, o dispositivo, seria acionado apenas em resposta aos protestos de caminhoneiros e possíveis distúrbios em frente a quartéis, e não com o intuito de aplicar um golpe de Estado.
“Se eu almejasse um caos no Brasil, era só ficar quieto”, disse Bolsonaro. “Jamais saindo das quatro linhas”, completou.
Pedido de desculpas a Moraes
No início do depoimento, Bolsonaro pediu desculpas a Moraes por declarações feitas após as eleições de 2022. Nessas declarações, Bolsonaro, sugeria, sem apresentar provas, que ministros do STF estariam envolvidos em esquemas de corrupção.
“Quais eram os indícios que o senhor tinha de que nós estaríamos levando US$ 50 milhões, US$ 30 milhões?”, questionou Moraes.
Bolsonaro respondeu: “Não tem indício nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fossem outros três ocupando, teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três.”
Minuta do Golpe e 8 de Janeiro
O ex-presidente também admitiu ter conhecimento da minuta de um decreto com planos contra a Justiça Eleitoral, mas alegou que o documento “não tinha cabeçalho“. Durante o depoimento, Bolsonaro voltou a criticar decisões do TSE e reiterou desconfianças sobre as urnas eletrônicas.
Sobre sua ausência na cerimônia de passagem da faixa presidencial, Bolsonaro afirmou que não participou por temer vaias e por questões de segurança.
Bolsonaro também reclamou das decisões do TSE — à época presidido por Moraes — que impediram a veiculação de peças eleitorais com conteúdo posteriormente considerado falso. Em resposta, Moraes lembrou que o Tribunal também proibiu a divulgação de declarações feitas por Bolsonaro que, segundo os adversários de Bolsonaro na eleição, configuravam apologia à pedofilia.
A respeito dos atos de 8 de janeiro, Bolsonaro declarou:
“Tem os malucos que ficam com essa ideia de AI-5, de intervenção militar das Forças Armadas… Os chefes das Forças Armadas jamais iam embarcar nessa só porque o pessoal estava pedindo ali.”
Em um momento inusitado do depoimento, Bolsonaro, em tom de brincadeira, chegou a convidar Moraes para ser seu vice na eleição presidencial de 2026.
“Posso fazer uma brincadeira?”, perguntou o ex-presidente.
Moraes respondeu: “O senhor quem sabe. Eu [no seu lugar] perguntaria aos seus advogados.”
Bolsonaro então disse: “Eu gostaria de convidá-lo para ser vice em 26.”
Moraes foi direto: “Eu declino.”