Em uma decisão unilateral, o governo de Donald Trump anunciou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos, uma medida que afetará gravemente diversos setores da economia do Brasil.
A decisão foi justificada como uma resposta ao que Trump chamou de “relação comercial injusta” e “déficits comerciais insustentáveis” causados pelas “práticas comerciais desleais” brasileiras. No entanto, dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que, desde 2009, o Brasil tem registrado déficits comerciais com os EUA, o que significa que compra mais do que vende para o país.
A tarifa de 50% se soma a outras já existentes, como as aplicadas a produtos de aço e alumínio, e é vista por analistas como uma estratégia geopolítica para aumentar o poder de barganha de Trump.
Para aplicar a medida, o presidente usou a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 dos EUA, um mecanismo que permite ao governo investigar e retaliar práticas comerciais que considere injustas. A Casa Branca também citou “ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas” e o processo contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de estado, como parte da justificativa.
Entendendo as Tarifas
O que são? As tarifas de importação são impostos cobrados por um país sobre produtos vindos do exterior. Elas servem para proteger a indústria nacional e aumentar a arrecadação do governo. A alíquota é definida pelo país importador, neste caso, os EUA.
Quem paga? Apesar de ser um imposto sobre a importação, quem arca com o custo não é o país exportador (Brasil), mas sim a empresa importadora (EUA). Contudo, essa empresa geralmente repassa o aumento para o consumidor final, elevando os preços de produtos como carne, café e calçados, por exemplo. No caso das tarifas de Trump, muitos produtos que antes não tinham impostos, agora enfrentarão uma alíquota de até 50%.
Impactos e Reações
A tarifa de Trump prejudicará setores específicos da economia brasileira que dependem do mercado americano, como:
- Carne bovina: pode perder até US$ 1 bilhão em vendas;
- Frutas (manga, uva e açaí): podem ter “graves impactos”;
- Café: embora o Brasil seja o principal fornecedor dos EUA, o setor pode ter de redirecionar sua produção;
- Máquinas e equipamentos, móveis, têxteis, calçados, plásticos, produtos químicos, pescados e pneus: todos preveem perdas significativas de receita e, em muitos casos, de empregos.
Em resposta, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) solicitou ao governo brasileiro a criação de medidas de apoio, como linhas de financiamento emergenciais, prorrogação de prazos de pagamento de impostos e financiamentos, e o reavivamento do Programa Seguro-Emprego.
O governo brasileiro, por meio do vice-presidente Geraldo Alckmin, garantiu que há um plano em andamento para proteger os setores mais afetados, oferecendo apoio financeiro, alívio tributário e acesso a crédito.
Curiosamente, a medida de Trump deixou de fora quase 700 itens brasileiros, incluindo suco de laranja, aeronaves, petróleo e veículos, o que pode indicar uma estratégia de direcionar o impacto a setores específicos, enquanto protege outros que são importantes para a economia americana.