Saiba por que jovens estão cada vez mais polarizados ideologicamente

Enquanto elas se tornam cada vez mais progressistas, eles abraçam um conservadorismo inquietante. O que está por trás dessa ruptura geracional e de gênero?

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Imagem gerada por IA

Nos últimos anos, um fenômeno político e social tem chamado a atenção de pesquisadores em todo o mundo: a crescente divisão ideológica entre jovens homens e mulheres. Enquanto as mulheres da Geração Z (nascidas entre meados dos anos 1990 e 2010) tendem a adotar posições cada vez mais progressistas, os homens da mesma faixa etária estão se movendo em direção ao conservadorismo. Essa tendência, documentada em estudos internacionais, desafia a noção tradicional de que cada geração se move unida em uma mesma direção política.


Geração Z: um grupo, dois caminhos

Ao contrário do que ocorria com gerações anteriores, a Geração Z parece caminhar por duas direções distintas no campo ideológico. Enquanto as mulheres têm se mostrado cada vez mais progressistas, especialmente em temas como direitos civis, igualdade de gênero e causas ambientais, muitos homens dessa geração demonstram uma guinada conservadora. Essa divisão é visível mesmo entre jovens que compartilham os mesmos contextos sociais e educacionais, o que chama atenção de estudiosos do comportamento político contemporâneo. De acordo com dados recentes, essa tendência de polarização interna rompe com o padrão tradicional, em que homens e mulheres de uma mesma faixa etária e geração apresentavam, de maneira geral, posicionamentos políticos similares.


Dados apontam polarização por gênero entre jovens

Estudos realizados em diferentes países indicam que a diferença de posicionamento político entre jovens homens e mulheres tem crescido de forma significativa. Nos Estados Unidos, por exemplo, mulheres entre 18 e 30 anos são, em média, 30% mais progressistas do que homens da mesma faixa etária. Diferença semelhante foi constatada na Alemanha, enquanto no Reino Unido essa distância chega a 25%. Em Portugal, as eleições legislativas de 2022 revelaram um possível ponto de virada: se apenas mulheres tivessem votado, o Parlamento seria majoritariamente mais à esquerda, com menor presença do partido Chega. Já entre os homens, o apoio a partidos conservadores teria sido maior. No cenário sul-coreano, o contraste é ainda mais acentuado: mulheres jovens estão 50 pontos percentuais mais progressistas do que os homens da mesma idade.


Desilusão e ansiedade impulsionam o conservadorismo masculino

Pesquisas como a da Glocalities, que analisou mais de 300 mil pessoas em 20 países entre 2014 e 2023, revelam que a desilusão com a sociedade e o pessimismo em relação ao futuro têm levado muitos jovens, especialmente homens, a adotar valores mais conservadores. A pesquisa mostra uma inversão de comportamento: em 2014, os homens mais velhos eram os mais conservadores, enquanto os jovens se mostravam mais liberais. Hoje, esse cenário se inverte. A sensação de impotência diante de crises econômicas e sociais, aliada à exposição a figuras públicas que promovem valores patriarcais — como o influenciador Andrew Tate — tem contribuído para essa inclinação à direita radical, especialmente entre os mais jovens.


Mulheres jovens cada vez mais progressistas

Enquanto os homens tendem ao conservadorismo, as mulheres jovens têm seguido no caminho oposto. Movimentos como o #MeToo, a ampliação do debate sobre a equidade de gênero, e o maior acesso à informação por meio das redes sociais têm influenciado essa guinada progressista. O ativismo feminino em causas como justiça racial, direitos LGBTQIA+ e combate à violência de gênero ganhou força nos últimos anos, criando uma geração mais engajada e atenta a questões sociais. Esse avanço, no entanto, também expõe o fosso crescente de valores entre os gêneros dentro da própria geração.

Fonte: Arif Ali / AFP – Mulheres do partido Jamaat-e-Islami (JI) manifestando manifestando pelo Dia Internacional da Mulher, em 2023

O retorno aos papéis tradicionais nas redes sociais

Apesar da tendência progressista entre as mulheres jovens, também há um grupo que defende o retorno aos papéis de gênero tradicionais, dando visibilidade ao movimento das “trad wives” — esposas tradicionais — nas redes sociais. Essas mulheres promovem o estilo de vida doméstico dos anos 1950 como uma escolha empoderadora, exaltando o cuidado com o lar e a submissão ao marido. Paralelamente, a figura da “esposa troféu” também tem ganhado espaço, onde a dependência econômica do parceiro é apresentada como uma forma de autonomia feminina. Essas visões têm sido criticadas por reforçar estereótipos de gênero e ignorar questões como o trabalho invisível da mulher, tema abordado por Naomi Wolf em O Mito da Beleza. O discurso tradicionalista muitas vezes se mistura a tendências que enaltecem a prostituição como uma escolha “lucrativa” e “empoderadora”, criando um ambiente contraditório nas redes sociais.


Sexo e romance perdem espaço entre os jovens

Outro aspecto que acompanha esse novo perfil da juventude é a relação com o sexo e o romance. Pesquisas mostram que o interesse por relações sexuais e afetivas entre os jovens tem diminuído. Um estudo da Universidade da Califórnia apontou que quase metade dos entrevistados entre 18 e 24 anos considera que o sexo é desnecessário na maioria das produções culturais, e 44% preferem “limpar o banheiro” a ter um encontro online. Especialistas apontam que, além do impacto da pandemia na vida social dos jovens, a exposição constante à sexualização nos meios de comunicação — sem um debate mais profundo sobre o tema — pode ter contribuído para uma visão mais crítica, até mesmo conservadora, sobre o assunto.

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