Vamos lá.
1.
A nova visita de Jair Bolsonaro a Goiânia estes dias foi precedida de uma sinalização de apaziguamento na direita goiana (PL), que andava agitada. O vereador Vitor Hugo, que se apresentava como pré-candidato a senador em chapa a ser liderada pelo vice-governador, Daniel Vilela (MDB), no ano que vem, anunciou sua desistência. Em vez do Senado, ele vai tentar voltar à Câmara dos Deputados.
2.
Vitor Hugo sustentava sua pré-candidatura em Bolsonaro. Jair teria abençoado, avalizado e incentivado. Do outro lado da direita em compasso de crise, o deputado federal Gustavo Gayer mostrava irritação com Vitor Hugo e insistia: o vereador goianiense falava por si só e, pior, estava só no Estado. Vitor Hugo, ao justificar sua saída pela tangente em relação à candidatura majoritária, apontou quem o fez mudar de rumo: exatamente Bolsonaro.
3.
Gustavo Gayer está livre pra seguir como o pré-candidato oficial do bolsonarismo ao Senado, em Goiás. Isso não dissipa de vez, porém, a outra questão de fundo: a direita que reúne Gayer, Fred Rodrigues e vereadores goianiense Coronel Urzeda e Oséias Varão vai compor com Daniel Vilela e o governador Ronaldo Caiado, ou levará adiante o que sempre apontaram como Plano A, que é lançar o senador Wilder Morais para governador? O ponto chave na questão: se vão fazer o que querem, ou acabarão fazendo o que Bolsonaro decidir, bem lá na frente.
Acelera, candidato
4.
Wilder Morais é o escolhido do grupo como candidato a governador, mas não tem se comportado como tal. Há Cerca de três semanas, em um programa de rádio, perguntei a um líder da direita se Wilder não estava “devagar”, ou seja, muito quieto, para quem pretende viabilizar seu nome para a cabeça de chapa ano que vem. Há tempos ouço de apoiadores e líderes de patente mais baixa do bolsonarismo que Wilder precisa se movimentar mais. Um pouco reclamação, um tanto de ansiedade dos cabos eleitorais voluntários e naturais.
5.
A resposta foi emblemática: “Ele precisa se movimentar mais.” Assim, com um aceno de cabeça, em tom nem negação do fato, nem concordância enfática, mas de reflexão. Na visita agora, Wilder Morais está em primeiro plano, colado em Bolsonaro. Antes, fez vídeo nas redes sociais anunciando a presença do ex-presidente. Dia seguinte, mais videos, com Bolsonaro em sua casa, bem à vontade. A exposição excessiva conta muito.
6.
Os bolsonaristas costumam firmar posição – apoio, voto – a partir de uma voz de comando. Ser o anfitrião do “mito”, seu par constante, é sinal de uma intimidade que aponta para o que, na prática, importa: na hora certa, ser o escolhido. Nesta hora, funciona como campanha. Campanha onde importa, também neste exato momento: no eleitorado de direita.
7.
Os líderes bolsonaristas goianos dizem, com Bolsonaro na garupa, que estão no jogo, e que Wilder segue sendo “o nome”, à parte Vitor Hugo. É a mensagem que querem passar. E é também a que Bolsonaro quer passar a Caiado, por razões estratégicas de quem ainda sonha ser candidato a presidente, apesar de impedido pelo TSE.
Wilder ganha fôlego?
8.
Inevitável que Wilder Morais ganhe fôlego com essa visita de Bolsonaro. A direita bolsonarista tem agora ânimos renovados para falar em chapa completa ano que vem. E Bolsonaro mantém Caiado e Daniel em compasso de espera. Mas isso não quer dizer que as portas para uma composição entre Caiado, Daniel e PL estejam fechadas. Porque a definição do quadro de candidatura só será mesmo concluída no ano que vem, em dois momentos e uma certeza.
9.
O primeiro deles: o prazo de renúncia, em abril. Caiado já disse que deixará o governo para Daniel Vilela assumir como governador e buscar, sentado na cadeira principal do Palácio das Esmeraldas, a reeleição. Porém há outras dúvidas no ar. A maior principal: Tarcísio de Freitas (Republicanos) deixará o governo de São Paulo para disputar a Presidência, e ainda que Bolsonaro não lhe dê garantia antecipada de apoio?
10.
O segundo: as convenções, em julho. Até as homologações, tudo é possível. Candidato que é pode deixar de ser, e quem não é, virar. E Caiado avisou que vai até o fim. Vai até as convenções, que é o último ato antes de ser ou não ser candidato de fato. Caiado, por sinal, é o único abertamente em campanha como pré-candidato.
11.
Enfim, a certeza: o que fará Bolsonaro vai definir quem será o candidato a presidente da direita que o apoia. E todos que sonham com candidatura estão, por ora, amarrados nessa incerteza. Lula também está, de certa forma, pendente disso. E esse dilema é como pedra jogada na superfície de um lago: bate agora, rebate em abril, vai bater de novo nas convenções e pode ainda ir ao limite do prazo de troca de candidaturas, para que seu nome conste da urna, pelo menos.
Bolsonarismo X Caiadismo
12.
As eleições nacionais não costumam influenciar as locais. No entanto, as articulações, sim. Caiado e Bolsonaro disputam espaço na direita brasileira. Daniel e Wilder são nomes que representam a direita goiana. Daniel, com um partido mais ao centro-direita, tem se posicionado como anti-PT, como Caiado.
13.
Wilder, com o seu capital político todo investido em Bolsonaro. O que, de todo modo, explica suas ações contrastantes como pré-candidatos a governador. O vice está em campo no ataque, fazendo conversas e tocando agenda política forte no interior; o senador joga parado, aguardando a boa.
14.
Daniel faz como têm feito Caiado e Bolsonaro pelo País. Wilder acena para a torcida. Bolsonarismo e caiadismo se confundem em Goiás. Mas, no enfrentamento direto, ano passado deu o candidato do governador, Sandro Mabel, prefeito de Goiânia, com derrota do bolsonarista Fred Rodrigues.
15.
Para pensar. Daniel Vilela conta com Ronaldo Caiado; Wilder Morais, com Jair Bolsonaro. Quem é melhor candidato a governador para o seu padrinho? Quem pesa mais? Quem se vira melhor?