Assim como nas minhas aparições anteriores, tenho que começar esta pequena coluna confessando algo ao leitor. A primeira coisa que vi, assim que acordei, me encheu de raiva e ódio, e é sobre este assunto que abordarei aqui. O assunto, no caso, é o Futebol Feminino. Minha crítica não é às meninas e mulheres que jogam ou, de alguma forma, comandam o esporte, mas ao descaso sofrido por essa modalidade.
Por isso, reconstituirei para você, meu caro leitor, como foi a minha manhã do último sábado, quando escrevi este texto. Acordei um pouco mais cedo do que costumo por conta do meu plantão (ou seja, neste momento, eu já estava irritado). Antes mesmo de sair da cama, peguei meu smartphone e fui me inteirar dos acontecimentos do mundo. O segundo tweet, ou seja lá como isso é chamado agora, foi o motivo do meu descontentamento.
Era um tweet do futebol feminino do Cruzeiro, que dizia, em outras palavras, o seguinte: “Por conta do desejo da detentora dos direitos de transmissão, a partida entre Cruzeiro x Corinthians foi remarcada, para o mesmo dia (06/08), porém, mais cedo”. Para quem não acompanha o futebol feminino, essa partida, válida pela 3ª fase da Copa do Brasil Feminina, coloca frente a frente as duas principais equipes de futebol feminino do país. Um encontro digno de final.
Mas, CBF tem a canalhice, para dizer o mínimo, e respeitar a audiência, de remarcar por interesses alheios ao esporte. Isso é, no mínimo, um desrespeito à categoria. O jogo em questão ocorre em quatro dias, e o planejamento das equipes? E o respeito ao torcedor que já adquiriu seu ingresso? E o respeito às equipes em si? Ao campeonato que, literalmente, acabou de voltar ao calendário?
Será que a senhora CBF se lembra de ter se comprometido a entregar uma Copa do Mundo dessa categoria que desrespeita dia após dia? Caso tenham se esquecido, passo para lembrar-vos que essa competição que vocês trazem para o nosso país, nosso povo apaixonado pelo futebol bem jogado, independentemente do gênero de quem chuta essa bola, começa em dois anos, não em duas décadas.
Quem acompanha a categoria apenas por alto deve estar pensando: “Mas a CONMEBOL vai cobrar a CBF e fazer um trabalho melhor, certo?”. Após uma longa pausa para os risos que essa pergunta pode me trazer, eu a respondo… A CONMEBOL consegue ser pior.
Enquanto eu escrevo esta crônica, faltam apenas algumas horas para a partida que (eu espero) traga o Eneacampeonato da Copa América para a seleção, frente à Colômbia. O tratamento dispensado às meninas do nosso continente foi o mais patético que a CONMEBOL foi capaz de oferecer. Durante a primeira fase foi: proibição de aquecer em campo antes das duas primeiras partidas. O local de aquecimento oferecido era tão pequeno que cabia menos de meio time, e a Confederação Sul-americana de Futebol pensou: “se colocarmos as duas seleções para aquecer aqui“.
Outro desrespeito: a primeira fase inteira não teve VAR. Como isso é possível em pleno ano da graça de 2025? Não há lógica dirigentes aprovem a realização de uma partida de futebol profissional sem VAR, sério?
O exemplo vem de longe. Um perfil do Twitter (@KevinNicolasPF1) postou quatro fotos descrevendo como esse processo é lento. Todas as fotos são de confrontos entre Arsenal x Chelsea e também todas essas partidas ocorreram no Emirates Stadium, casa das Gunners. Ao rastrear a origem das imagens, pude traçar uma ordem cronológica.
A primeira mostra o estádio quase vazio, data da temporada de 2011/12; a segunda, com maior ocupação em relação à primeira, data da temporada 2021/22. Agora, veja o salto: as duas últimas mostram um estádio completamente lotado, datam das temporadas 2022/23 e 2023/24. O que isso diz?

A categoria só vai crescer com respeito e atenção de quem está à frente do futebol.
Vejam, como exemplo, a Eurocopa recém-terminada. Segundo dados da UEFA, reunidos pela jornalista Mariana Spinelli da ESPN Brasil, a Eurocopa deste ano arrecadou 128 milhões de euros, um número duas vezes superior ao campeonato disputado em 2022 e dez (eu disse DEZ) vezes superior à arrecadação da competição em 2017. Isso só é adquirido com respeito à categoria.
Enquanto a CONMEBOL disponibiliza o VAR em apenas cinco jogos da principal competição de seleções do continente, a UEFA disponibiliza o equipamento, hoje básico, nas 31 partidas da competição. Enquanto na Copa América não se pode nem aquecer no gramado, a Euro Feminina requisitou os melhores estádios do país-sede para a competição.
Ou seja, a verdade escancarada é uma só: o Futebol Feminino não cresce por aqui por falta de respeito e oportunidade.