Quem mais tá apanhando nessa história da condenação de Léo Lins por falas consideradas absurdas é o humor. A principal linha de defesa de argumento dos que saem em defesa dele é que, tudo bem, o humor que ele faz nem é digno, mas vale a liberdade de expressão. Humor é humor, não é crime, vale tudo. Tipo isso, com graça e esse tudo aí.
Evidentemente vi alguns vídeos dele fazendo piada. Não dá pra rir. É caso de prisão. Opa, calma. É caso, não quer dizer que a juíza tem razão. Embora tenha muitas, e precisa ser lida em sua sentença, pelos detalhes que anota. Por apontar o humor fora da curva e alertar a população.
Alertar, pode ir ninguém também tem o direito de prender as pessoas a torto e à direita porque riem aos borbotões daquelas baboseiras todas. E este o ponto crucial: Leo Lins é condenado por fazer a piada e não consta que as pessoas que as ouvem nos salões e teatros estejam sequer sendo alvo de crítica, pelo menos.
Piadistas e humoristas do naipe de Leo Lins existem porque existem os que riem do tipo de coisa que ele entrega e ainda se revoltam com quem se incomoda com eles e com o humor em questão – e o questionável. Será o direito delas maior do que o dos cidadãos incomodados? Ou será a revolta delas em nome da liberdade de expressão apenas expressão do que não ousam dizer sobre si mesmas?
Fica tudo mais divertido quando metem na história uma supositório – engraçadinho, eu? – disputa esquerda versus direita, como se tudo não passasse do que não é: um filosófico ser ou não ser. Wue nada. Falamos de caráter e de vidas humanas. A piada pronta é o humor sem alma e os humoristas incorporando os libertadores da palavra.
Os humoristas são necessários. Tão necessários quanto os que não riem de suas piadas. Em vez de transformar o fato – a condenação – em uma disputa de quem concorda com quem não concorda, quem defende a liberdade de ser canalha e escroto e quem defende o contrário, o ponto de parada seria conversar sobre o ocorrido e reagir com a complexidade que o assunto exige.
Uma sociedade que aplaude o humor de Leo Lins e lê a Bíblia é uma sociedade que não dá pra se levar a sério. Ou dá? Um povo que se dispõe a defender quem usa como material de rizo a desgraça alheia, mas não se dispõe a ao menos questionar – já seria um começo – o protagonista que se presta a ser este tipo de humorista, está validando o pior dos mundos e condenando o resto – os discordantes – ao mesmo inferno.
É uma Nação que quer condenar quem se revolta, automaticamente libertando o horror em nome do humorista – ou vice-versa -, não se olha no espelho. Apenas atira a primeira pedra e corre para a mídia para seu minuto de fama. Jesus Cristo que se vire para justificar seu desatino, ainda que este seja também um ato legítimo de liberdade de expressão no instante, que seja, enxerga na decisão da juíza um tanto de sanidade social e humana.
Os tempos não são para diálogo. São para guerras de narrativas, de desinformação contra desinformação e para as explosões de opiniões e seus borbotões de baboseiras. Aos que defendem a liberdade e ao mesmo tempo defendem Leo Lins, e aos que os condenam, duas perguntas, necessárias e urgentes: o que mesmo vocês defendem?; quem são vocês na fila do pão nosso que estão na terra?
Meu Deus, que piada!