1.
Caberá à deputada federal Adriana Accorsi organizar a casa e preparar o PT para as eleições do ano que vem em Goiás, como nova presidente da legenda. Sua eleição foi pactuada há algumas semanas e é fruto do pragmatismo petista, que dá clara mostra de que no momento a vitória é do entendimento interno sobre as naturais divergências de seus líderes.
2.
O PT é um dos poucos partidos consolidados no País. Formado por várias correntes, nem sempre elas se entendem. Mais que isso: costumam disputar ferrenhamente os espaços. Há alguns meses, o clima no Estado era de guerra pelo comando. Por isso, a definição pelo nome de Adriana é notícia positiva para os petistas.
3.
Em resumo, as divergências pontuais vão continuar. Mas prevalece, por ora, o sentimento de que é preciso união diante das adversidades de sobrevivência e reeleição de Lula. O pragmatismo. O desgaste do governo federal diante da opinião pública não dá mais pra ser relevado. Precisa ser enfrentado desde já. Deixar para outubro do ano que vem pode ser tarde demais. Lula tem o que mostrar? Por que não consegue? Enquanto isso, o bolsonarismo resiste e a direita, de forma geral, cresce e aparece na liderança, em alguns levantamentos eleitorais.
4.
Culpa da comunicação? Falta de engajamento da militância e dos filiados? Questões em aberto e urgentes. Como é urgente definir a estratégia política, que na prática é o que define o chamado resto, incluindo nessa conta o posicionamento e a eficácia da comunicação. A corrida, agora, é contra o tempo.
5.
Adriana é, assim, a escolhida de todos para tocar a legenda neste momento crucial. Ter o aval mesmo dos que não a apoiam totalmente é ponto que conta a favor e mostram sua importância interna. Sua relevância política. Porém é também uma espada sobre a cabeça: ela terá de fazer bem sua parte, para ser elogiada; do contrário, será a culpada – caso as coisas, enfim, não funcionem bem.
6.
Funcionar bem tem significado com várias pontas soltas. Por exemplo: o PT terá candidato a governador? Fará alianças – e com quem? Continuará esperando um sinal do ex-governador tucano Marconi Perillo? Marconi baseia seu discurso em críticas a Lula e ao partido, com acenos à direita. Mesmo assim, há sempre sinais de fumaça buscando sua adesão à causa petista.
7.
Coincidentemente, e curiosamente, quem tem entusiasmado os petistas hoje é exatamente uma tucana: a vereadora por Goiânia Aava Santiago. Para o governo. Próxima de Marconi Perillo, ela também se mantém próxima de Lula. A ironia é exatamente parte da esperança petista estar direcionara para o PSDB, seu histórico arqui-inimigo (arqui-rival é pouco). Com o tucanato em processo de extinção, pode estar aí um oportunidade: Aava ir para o PT ou outra legenda mais à esquerda. Quem sabe?
No entanto, a questão de fundo é outra: o PT não tem nome próprio e natural para disputar o governo de Goiás.
8.
Até tem, na visão pessoal de petistas que apreciariam muito ver Adriana fora da disputa para deputado federal, abrindo mais um eventual espaço (uma vaga) na eleição para a Câmara. Adriana, até agora, tem dito que prefere a reeleição. Como candidata a prefeita de Goiânia, ela disputou com o bolsolarismo e a direita. Ficou em terceiro.
À parte as outras questões de ordem interna, ressalte-se: ano passado, na eleição para prefeito, o palanque nacional para Lula não era uma demanda; para 2026, é uma necessidade.
9.
Outra missão para Adriana será a eleição de deputados federais. Hoje o PT tem ela e Rubens Otoni representando Goiás. O partido quer mais. Com o avanço da direita, eleger representantes de esquerda é fundamental à sobrevivência partidária e, quem sabe, à governabilidade futura, em uma possível reeleição de Lula.
10.
E pode-se colocar nessa conta para Adriana encontrar também um candidato para o Senado, onde Bolsonaro busca fazer maioria. O que acontece: o PT, que não tem nome natural para governador, não tem igualmente para senador. Ao contrário da direita, que lidera as apostas – e pesquisas – com a primeira-dama Gracinha Caiado e o deputado federal Gustavo Gayer (PL). Ela, apoiada por Ronaldo Caiado, governador com mais de 80% de aprovação entre os goianos. Ele, o escolhido de Jair Bolsonaro.