Em tempos de consumo acelerado e avalanche de informações, o conceito de autocuidado tem sido frequentemente associado a práticas como compras ou momentos de lazer com filmes e séries. Embora essas ações possam, de fato, proporcionar algum alívio momentâneo, no geral, especialistas em saúde mental apontam que o verdadeiro autocuidado está mais ligado à qualidade da atenção que damos a nós mesmos — e não apenas a recompensas imediatas.
Nesse contexto, a leitura aparece como uma prática muitas vezes subestimada. Além de ser uma atividade acessível, ler pode representar um momento de pausa, reflexão e até mesmo de reorganização interna. Ao dedicar um tempo para ler, o você se permite absorver outras perspectivas e exercitar a mente de maneira profunda e enriquecedora.
Para quem busca uma introdução leve — mas ainda assim impactante — à leitura como forma de autocuidado, aqui vão três títulos que tem uma ótima profundidade de conteúdo e quantidade de páginas relativamente pequena:
Laços de Família – Clarice Lispector

Reunindo contos como A imitação da rosa, Amor e Começos de uma fortuna, Lispector traz situações cotidianas com uma sensibilidade única, criando narrativas onde o banal ganha camadas existenciais bem inesperadas. A obra é ótima para quem busca uma análise ímpar das complexidades das relações interpessoais e da busca por sentido na vida cotidiana. Talvez exista alguma dificuldade, por conta da linguagem “hermética” (que inclusive a autora não considerava ser assim), mas vale a pena porque Lispector faz a gente chegar no cerne da condição humana e conhecer a força, por vezes paradoxal, dos laços que nos unem. O livro permanece atual pela capacidade de tocar em questões universais da existência.
Caminhos de João Brandão – Carlos Drummond de Andrade

Neste texto pouco conhecido do autor mineiro, Drummond explora temas como memória, identidade e passagem do tempo, com sua tradicional linguagem poética, buscando e encontrando reflexões inteligentes e bem-humoradas sobre a sociedade brasileira. É um livro que, apesar de situado em sua época, continua relevante pela universalidade das observações sobre a natureza humana e a vida em sociedade.
Sobre a brevidade da vida – Sêneca

Escrito há mais de dois mil anos, o texto do filósofo estoico permanece atual por criticar a má gestão do tempo na sociedade. A reflexão sobre como lidamos com o presente e com as preocupações do futuro ainda ecoa na vida moderna. Claro que vale lembrar que cada caso é um caso: é fácil dizer que todos temos as mesmas “24 horas do dia” se não observarmos a realidade de cada pessoa – por exemplo, o(a) trabalhador(a) que pega 6 ônibus: 3 para ir ao trabalho e 3 para voltar para casa.
Essas obras curtas podem funcionar como um convite para desacelerar, reconectar-se consigo mesmo e investir em um autocuidado mais significativo e duradouro.