Considerada por muitos o evento do século, especialmente para o Brasil, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) teve início nesta segunda-feira (10), em Belém (PA), reunindo representantes de 194 países para discutir medidas de enfrentamento à crise climática. Pela primeira vez, o encontro é realizado na Amazônia — região reconhecida mundialmente pela biodiversidade e pelo papel essencial na regulação do clima.
Com programação até o dia 21, a conferência tem como eixos centrais a transição energética, a adaptação às mudanças climáticas e o financiamento internacional para ações ambientais. O evento também marca um momento de protagonismo para o Brasil, que sedia as negociações destinadas a revisar e ampliar os compromissos do Acordo de Paris, voltado a limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Abertura e presença internacional
A cerimônia de abertura, realizada na chamada Zona Azul, contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente da COP30, diplomata André Corrêa do Lago, e de diversas delegações estrangeiras. Jovens de seis estados brasileiros participaram da solenidade representando povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e comunidades periféricas — iniciativa apoiada pelo UNICEF.
Durante a tarde, os debates se estenderam à En-Zone, no Parque Urbano Belém Porto Futuro, com painéis sobre inovação, economia verde e sustentabilidade na Amazônia. Um dos momentos de destaque foi o lançamento do Grupo de Ciência e Filantropia para a Transformação de Sistemas Alimentares, parceria entre a Embrapa e instituições internacionais, com a presença da economista francesa Esther Duflo, vencedora do Prêmio Nobel de Economia em 2019.
Na Zona Verde, comunidades quilombolas e amazônicas apresentaram o painel “Saberes Tradicionais Quilombolas e Populações Amazônicas como Alavanca para a Justiça Climática Global”. As discussões destacaram o papel dos saberes ancestrais e das práticas comunitárias na construção de uma transição ambiental justa e inclusiva.
Financiamento climático e o “Mapa do Caminho de Baku à Belém”
Entre os temas mais sensíveis da COP30 está o financiamento climático, considerado o principal ponto de divergência entre países desenvolvidos e nações em desenvolvimento. A expectativa é avançar na elaboração do chamado “Mapa do Caminho de Baku à Belém”, que propõe elevar o volume global de recursos destinados à ação climática para US$ 1,3 trilhão até 2035. A proposta amplia o acordo firmado na COP29, em Baku (Azerbaijão), que previa US$ 300 bilhões.
O governo brasileiro busca atuar como mediador nas negociações, incentivando o consenso sobre novas fontes de financiamento e critérios de transparência na aplicação dos recursos.
Mercado global de carbono e o Artigo 6
Outro ponto de destaque das discussões é o Artigo 6 do Acordo de Paris, que trata das regras para o mercado global de carbono. O mecanismo prevê a troca de créditos entre países e empresas, recompensando reduções de emissões e incentivando projetos de energia limpa. O tema é estratégico para o Brasil, que reúne vastas áreas de floresta e potencial para liderar o mercado de descarbonização.
Avaliação das metas globais e a “Missão 1,5°C”
A conferência também marca uma etapa de avaliação coletiva das metas climáticas assumidas desde o Acordo de Paris, a partir do Balanço Global (Global Stocktake). O primeiro relatório, divulgado na COP28, em Dubai, indicou que o planeta ainda está distante de manter o aquecimento dentro do limite de 1,5°C.
Para dar continuidade às metas, Brasil, Azerbaijão e Emirados Árabes formaram a Troika, uma aliança entre as presidências das últimas três COPs, voltada a garantir foco na chamada “Missão 1,5°C”.
Justiça climática e participação social
Além das negociações técnicas, a COP30 dá ênfase à justiça climática, princípio que busca conciliar meio ambiente, economia e direitos humanos. A presença de povos indígenas, quilombolas e movimentos periféricos reforça a necessidade de incluir as populações mais vulneráveis nas decisões sobre o futuro climático.
Na Zona Verde, os debates abordam temas como racismo ambiental, igualdade de gênero, juventude e direitos indígenas, ampliando o alcance das discussões para além da diplomacia e aproximando-as das realidades sociais e territoriais.
Termos em destaque na COP30:
- Acordo de Paris: tratado internacional de 2015 que define metas para conter o aquecimento global.
- NDC: compromissos nacionais de redução de emissões.
- Mitigação e adaptação: estratégias para reduzir impactos e se preparar para mudanças climáticas.
- Financiamento climático: recursos destinados a países em desenvolvimento para ações ambientais.
- Justiça climática: princípio que propõe uma transição justa e inclusiva.
(Com informações da Agência Brasil)
Confira a programação da COP30
Pavilhão do Círculo dos Povos
Zona Verde:
09h00 10h45 – O cuidado das geleiras e as interconexões entre territórios, rios e montanhas sagradas / Confederação Indígena Tayrona – CIT
10h50 11h40 – Juventudes e Crianças que Sustentam o Agora: Território, Clima e Lutas Vivas / Instituto Arapyaú, Mapa do Acolhimento
11h45 12h35 – Território, Tecnologias Ancestrais e Justiça Climática: caminhos tecidos pelas mulheres quilombolas frente à mudança global do clima / Instituto Perpetuar, Malungu, CONAQ e Quilombo de Abacatal
12h35 13h30 – Intervalo
13h30 14h20 – Favela, Periferia e a Justiça Climática: Racismo Ambiental em Foco / Perifa Connection; Instituto Perifa Sustentável (São Paulo); Rede Tumulto.
14h25 15h15 – Às Periferias pelo Clima: Vozes do território na Justiça Climática / Perifa Connection
15h20 16h10 – Abano do Clima: Experiências Indígenas de Proteção Ambiental e Resiliência Climática / FUNAI
16h15 17h05 – Guardiões da Floresta: Os Saberes Tradicionais Quilombolas e Populações Amazônicas como Alavanca para a Justiça Climática Global / Associação de Mulheres e Artesãos do estado do Pará /Associação dos produtores rurais da agricultura familiar de Santa Terezinha / Associação dos Pequenos Produtores Rurais da ilha Cajuúbinha / Associação de moradores e agricultores da comunidade Estrela da Manhã
17h10 18h00 – Futuro em Raízes: Lideranças Indígenas e o TFFF / Instituto AYA
18h05 18h55 – Conhecimento Indígena para Curar a Mãe Terra e Sustentar a Amazônia / Recomendações para a COP 30 – Conselho Regional Indígena da Amazônia Central – CRIMA
19h00 19h50 – Descolonizando a Transição Justa: Priorizando os Direitos Indígenas para a Justiça Climática e a Sustentabilidade (IPRI)
Pavilhão Brasil
Zona Azul:
13:00 – 14:00 – Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos / Tema: Fortalecer a capacidade estatal para acelerar o desenvolvimento sustentável
Auditório: Sumaúma
13:00 – 14:00 – Instituto de Defesa de Consumidores / Tema: Data centers, impactos socioambientais e climáticos e a agenda tecnológica da COP 30
Auditório: Cumaru
14:15 – 15:15 – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico/MIDR / Tema: Desafios da escassez hídrica e a integração da variável climática ao Índice de Segurança Hídrica
Auditório: Sumaúma
14:15 – 15:15 – Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente / Tema: Governança Climática Participativa: A importância da atuação vertical para o alcance das NDCs
Auditório: Cumaru
15:30 – 16:30 – Ministério das Cidades / Tema: Periferias e justiça climática: desafios e inovações
Auditório: Sumaúma
15:30 – 16:30 – Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos / Tema: Empresas Estatais Globais e a Ação Climática: da propriedade pública à entrega de resultados
Auditório: Cumaru
16:45 – 17:45 – Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima / Tema: Governança Climática Multinível – CIM e outras experiências globais
Auditório: Sumaúma
16:45 – 17:45 – Instituto Caminhos Sustentáveis / Tema: Oportunidades para descarbonizar a economia por meio da gestão adequada de resíduos – Créditos de Carbono da Reciclagem
Auditório: Cumaru
18:00 – 19:00 – Governo Federal / Tema: Inauguração do Pavilhão Brasil: O Momento é de Ação Climática
Auditório: Sumaúma
18:00 – 19:00 – Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte / Tema: Infraestrutura Resiliente e Adaptação Climática no Transporte
Auditório: Cumaru
Zona Verde
13:00 – 14:00 – Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima / Tema: Governança Climática e Implementação do Plano Clima
Auditório: Jandaíra
13:00 – 14:00 – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional / Tema: Transitar das Urgências para as Alternativas: a sociedade civil mobilizada no enfrentamento à crise climática nas cidades
Auditório: Uruçu
14:15 – 15:15 – Ministério das Cidades / Tema: Implementando a Adaptação Climática nas Cidades
Auditório: Jandaíra
14:15 – 15:15 – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo / Tema: Da Medição à Ação: Transparência nos Inventários de GEE e Integração com Estratégias Empresariais de Neutralidade Climática
Auditório: Uruçu
15:30 – 16:30 – Secretaria-Geral/PR / Tema: A importância da participação social na COP – Soluções e aportes da Sociedade Civil para o Regime Multilateral do Clima
Auditório: Jandaíra
15:30 – 16:30 – Instituto Estadual do Ambiente / Tema: Incorporando a Biodiversidade na Adaptação às Mudanças Climáticas por meio de Soluções Baseadas na Natureza
Auditório: Uruçu
16:45 – 17:45 – Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima / Tema: Cidades Verdes Resilientes – enfrentamento calor urbano
Auditório: Jandaíra
16:45 – 17:45 – Ministério da Fazenda / Tema: Economia Circular para Transformação Ecológica: Instrumentos Financeiros e Regulatórios
Auditório: Uruçu
18:00 – 19:00 – Bancada do Clima – Legisla Brasil / Tema: Bancada do Clima e as cidades em transformação: como o legislativo pode liderar a adaptação climática urbana?
Auditório: Jandaíra
18:00 – 19:00 – Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional / Tema: Papel central das mulheres na gestão da água: desafios e oportunidades para um futuro sustentável
*Com informações da Agência Brasil








