COP 30: entenda o que é a conferência do clima e o papel do Brasil no encontro

Após 30 anos de negociações, de avanços modestos e promessas quebradas, cúpula na Amazônia testará a credibilidade do Brasil e a capacidade do mundo de financiar a sobrevivência do planeta.

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Entre os dias 10 e 21 novembro de 2025, a cidade de Belém (PA) sediará a 30ª Conferência das Partes (COP 30), o mais importante encontro global sobre mudanças climáticas. No entanto, esta não é apenas só mais uma reunião.

Realizada pela primeira vez no coração da Amazônia, a cúpula é o ponto mais alto de uma jornada de três décadas de diplomacia climática, marcada tanto por avanços históricos quanto por fracassos estruturais.

Para entender o que está em jogo em Belém — e o peso da responsabilidade do Brasil como anfitrião — é inevitável olhar para a história de como a conferência chegou à sua trigésima edição

O que é a COP?

A base da governança climática global nasceu justamente no Brasil. Em 1992, a Rio-92 (ou Eco-92) estabeleceu a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). A Conferência das Partes (COP) foi criada como o órgão supremo para implementar essa convenção, com reunião anual desde a COP 1, que aconteceu em Berlim no ano de 1995.

Em meio a convenção, foi gravado um princípio que define a diplomacia climática até hoje: o das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”.

Essa noção reconhece que, embora todos os países tenham responsabilidade (comum), as nações desenvolvidas (Norte Global) têm uma dívida histórica maior, pois enriqueceram emitindo gases de efeito estufa desde a Revolução Industrial. Dessa forma, deveriam liderar os cortes de emissão e, crucialmente, financiar a ação climática nos países em desenvolvimento (Sul Global).

O que foi pensado para servir como um pilar de justiça tornou-se, na prática, a principal linha de falha das negociações, transformando toda COP em um campo de batalha sobre financiamento, responsabilidade e ambição.

Uma jornada de ambição e fracassos

A verdadeira odisseia das COPs é uma crônica de avanços e decepções, onde cada fracasso serviu como um pavimento para o próximo acordo.

COP 3 (Quioto, 1997): O acordo vinculante
Adotado em 1997 e em vigor apenas em 2005, o Protocolo de Quioto foi o primeiro e único tratado a estabelecer metas juridicamente vinculantes de redução de emissões para o período de 2008 a 2012.

Ele também criou mecanismos de mercado (como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, o famoso MDL), que permitiam que os países desenvolvidos investissem em projetos sustentáveis em países em desenvolvimento para compensar parte das suas emissões.

Acontece que ele nasceu já fraturado. Ao focar apenas nos países desenvolvidos, deixou de fora grandes emissores emergentes. E sem falar que a sua eficácia foi bastante comprometida quando os Estados Unidos, um dos maiores emissores da época, se recusaram a validar esse acordo.

COP 15 (Copenhague, 2009): O colapso da expectativa
Cercada de esperança para um sucessor mais eficaz de Quioto, Copenhague acabou em uma pizza política enorme. O “Acordo de Copenhague” não foi formalmente adotado, mas apenas “tomado nota”.

Ainda assim, ele plantou sementes: reconheceu a meta de limitar o aquecimento a 2 °C e estabeleceu a promessa dos países ricos de mobilizar 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático até 2020 — uma promessa parcialmente cumprida apenas em 2022, segundo a OCDE, mas ainda contestada por incluir empréstimos e repasses não adicionais.

COP 21 (Paris, 2015): O acordo universal
Aprendendo com os fracassos de Quioto (impositivo) e Copenhague (caótico), o Acordo de Paris mudou o modelo das negociações.

Em vez das metas impostas de cima para baixo, surgiu o sistema voluntário. Cada país define sua própria meta, as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).

Paris estabeleceu o objetivo global de manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, com esforços para limitá-lo a 1,5 °C.

COP 26 (Glasgow, 2021): A menção aos combustíveis fósseis
Pela primeira vez em quase 30 anos, um texto final da COP mencionou explicitamente a causa do problema: os combustíveis fósseis. O Pacto de Glasgow pediu a “redução gradual” do carvão — uma linguagem enfraquecida na última hora por pressão da Índia e da China, que rejeitaram o termo “eliminação”.

As falhas estruturais

Apesar de todos esses acordos, o progresso é lento porque o sistema da COP possui contradições crônicas:

O abismo financeiro
A promessa de 100 bilhões de dólares anuais nunca foi plenamente cumprida de forma previsível e transparente, corroendo a confiança entre o Norte e o Sul. Sem financiamento, países em desenvolvimento ainda tem hesitado em aumentar as suas contribuições.

O lobby fóssil
Uma das ironias mais gritantes é a presença massiva de lobistas da indústria de petróleo e gás dentro das negociações, que trabalham mais do que ninguém para enfraquecer os textos e promover soluções como a “captura de carbono” — uma tecnologia ainda cara e incerta — em vez da eliminação dos combustíveis fósseis.

Para se ter ideia, as COPs 28 e 29 foram realizadas em países cuja economia depende fortemente do petróleo — os Emirados Árabes Unidos e o Azerbaijão, respectivamente.

A COP 28, em 2023, ocorreu em Dubai e foi presidida por Sultan Al Jaber, que, além de ministro da Indústria e Tecnologia do país, é também CEO da estatal petrolífera ADNOC. Essa escolha gerou críticas de ambientalistas e de delegações internacionais, que apontaram um evidente conflito de interesses: o responsável por conduzir negociações sobre a redução do uso de combustíveis fósseis era, ao mesmo tempo, o dirigente de uma das maiores produtoras de petróleo do planeta.

A contradição se repetiu na COP 29, ocorrida em 2024 em Baku, capital do Azerbaijão — outro país cuja economia também se apoia na exportação de petróleo e gás natural. O evento foi liderado por Mukhtar Babayev, ministro da Ecologia e Recursos Naturais, que também é ex-executivo da SOCAR, a companhia petrolífera estatal.

O abismo de ambição
O Balanço Global, concluído lá em 2023 na COP 28, foi um veredito muito direto: a soma de todas as NDCs voluntárias ainda coloca o mundo em uma trajetória de uma catástrofe climática.

Outro anfitrião contraditório

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

É neste cenário de desconfiança e urgência que o Brasil assume a presidência da COP 30. O país, que já foi um “pária ambiental” devido ao desmatamento recorde durante o governo Bolsonaro (2019-2022), busca agora reafirmar a liderança climática.

O principal trunfo do governo é a queda significativa do desmatamento na Amazônia, um resultado que permite ao país chegar “de cabeça erguida” às negociações. No entanto, a credibilidade brasileira é constantemente minada pelas suas próprias contradições internas.

A mais gritante é a dissonância entre o discurso de transição energética e a pressão para explorar novas fronteiras de petróleo e gás — especialmente na Margem Equatorial, próxima à foz do Rio Amazonas.

O tema é símbolo da ambiguidade brasileira: o Ibama negou a licença de perfuração da Petrobras em 2023, mas o impasse se arrastou até 2025, com estudos preliminares sendo aprovados. A defesa da exploração de novos combustíveis fósseis por um país que sediará uma COP na Amazônia é vista pela comunidade internacional como uma ameaça ao sucesso da cúpula.

Além disso, houve a novela das obras em Belém, que incluiu desmatamento de uma parte da floresta amazônica para construir uma avenida que favorece carros, e não o transporte público. Ao mesmo tempo, os preços absurdos das acomodações criaram uma verdadeira “crise diplomática”, com delegações de países pobres e ativistas temendo não terem como pagar e assim não participar do evento. O resultado é o grande paradoxo: a COP da Amazônia pode acabar virando uma “COP turística”, silenciando exatamente as vozes do Sul Global.

O que esperar de Belém

Belém (PA), 06/06/2025 – Rio Guamá e a cidade de Belém ao fundo. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A COP 30 não é apenas marcante e simbólica por ser realizada a primeira vez no Brasil; ela tem duas tarefas decisivas:

A nova meta de financiamento
A maior disputa será definir a Nova Meta Quantificada Coletiva de Financiamento (NCQG), que substituirá a promessa quebrada de 100 bilhões de dólares. O Brasil, como líder do Sul Global e membro estratégico do G20, vai ser pressionado a arrancar um valor trilionário dos países ricos.

As novas NDCs
A COP 30 é o prazo final para que todos os países apresentem suas novas metas (NDCs) alinhadas com aquela marca de 1,5 °C da COP 21, ocorrida em Paris. A presidência brasileira terá que pressionar por um nível de ambição nunca antes visto.

Como anfitrião, o Brasil também tentará pautar a agenda com seus interesses: a criação de uma “super taxonomia” global para finanças sustentáveis (para combater o greenwashing, espécie de propaganda enganosa ambiental, usada por empresas para criar uma falsa imagem de sustentabilidade) e um novo modelo de bioeconomia para a Amazônia.

Entre o progresso e a transformação

Para além de Belém, o futuro da ação climática vai depender da superação dessas falhas históricas. A COP 30 certamente não será o fim dessa longa jornada, mas pode ser o ponto de decisivo — um momento em que o mundo finalmente escolhe entre o progresso insuficiente e a transformação radical que o planeta precisa.

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