Trump taxa o Brasil por razões políticas e geopolíticas; entenda

Governo Trump impõe tarifa de 50% sobre produtos do Brasil e justifica decisão com fatores políticos, incluindo o julgamento de Bolsonaro.

Compartilhe

Foto: Gage Skidmore / Flickr

A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump tem sido marcada por uma série de imposições tarifárias, justificadas por uma junção de razões que vão desde a proteção da indústria americana e a segurança nacional até, mais recentemente, fortes motivações políticas e a percepção de uma “ameaça” geopolítica representada pelo BRICS.

A medida mais recente aconteceu ontem (09) de julho de 2025, quando o governo Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros. A justificativa, expressa em carta oficial, desviou-se da tradicional retórica de desequilíbrios comerciais para focar em questões políticas internas do Brasil.

O texto cita explicitamente o que a administração americana considera uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, em referência ao seu julgamento por suposta tentativa de anular o resultado das eleições de 2022. Além disso, a carta menciona “ataques insidiosos às eleições livres” e aos “direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos”, em uma aparente alusão a decisões do judiciário brasileiro sobre plataformas de mídia social.

Essa escalada se soma a uma série de outras ações e narrativas que moldaram a política comercial dos EUA em relação ao Brasil nos últimos anos.

Tarifas desde 2018

Para entender o cenário atual, não dá para fugir da cronologia das ações comerciais da administração Trump que impactaram o Brasil.

Para se ter ideia, desde 2018, Trump já ameaçava o Brasil com taxas. Em março daquele ano, Trump – com a fala protecionista do “America First” anunciou tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados, alegando riscos à segurança nacional.

Após um período de negociações diplomáticas, o governo brasileiro conseguiu uma isenção das tarifas, mas o alívio veio com uma contrapartida: a aceitação de um sistema de cotas que limitava o volume de exportação dos produtos.

Essa solução, embora tenha evitado o impacto direto da taxação, representou a primeira de uma série de barreiras comerciais impostas pela administração Trump, estabelecendo um precedente para as relações bilaterais.

2019: Aproximação com Bolsonaro

Com a posse de Jair Bolsonaro em 2019, houve uma forte aproximação política entre os dois presidentes, criando uma dinâmica complexa. Por um lado, os líderes se encontravam e celebravam uma nova fase na parceria.

Em março, durante visita de Bolsonaro a Washington, foram anunciados gestos de boa vontade, como o compromisso do Brasil de criar uma cota para importação de trigo americano isenta de tarifas e a sinalização dos EUA para agilizar a liberação da carne bovina brasileira.

Por outro lado, a imprevisibilidade de Trump manteve o setor produtivo em alerta. Em dezembro daquele ano, ele utilizou as redes sociais para acusar o Brasil e a Argentina de promoverem uma “desvalorização maciça” de suas moedas para prejudicar os agricultores americanos, ameaçando restaurar “imediatamente” as tarifas sobre o aço e o alumínio de ambos.

A ameaça, embora não tenha sido implementada na época, serviu como um forte lembrete da volatilidade das políticas comerciais americanas.

Com certeza. Analisando a relação comercial entre o governo Trump e o Brasil ano a ano, percebe-se uma escalada de ações e retóricas que moldaram o cenário atual.

2020: Um “Mini Acordo”

Em meio a um cenário de cooperação e atritos, 2020 viu a concretização de um acordo comercial modesto. Em outubro, os dois países assinaram um Protocolo sobre Regras Comerciais e Transparência.

O acordo, apelidado de “mini deal”, não abordou as questões mais sensíveis, como as tarifas sobre commodities e produtos industrializados. Em vez disso, focou em três áreas: facilitação de comércio (para reduzir a burocracia nas aduanas), boas práticas regulatórias (para alinhar normas e padrões) e combate à corrupção.

Embora celebrado por ambos os governos como um avanço, o alcance limitado do protocolo mostrou a dificuldade em negociar um acordo de livre-comércio mais amplo e em resolver as principais disputas tarifárias, que permaneceram por debaixo dos tapetes.

2025: Tarifas com justificativa política

O ano começou com uma mudança significativa nas regras que vinham sendo aplicadas ao comércio de metais. Em fevereiro, a administração Trump decidiu eliminar todas as exceções e cotas que ainda existiam para a importação de aço e alumínio.

Com isso, o Brasil, que operava sob o sistema de cotas desde 2018, passou a ser alvo de uma tarifa linear de 25% sobre esses produtos, alinhando o país a uma regra mais dura e generalizada que visava, segundo o governo americano, fechar brechas e fortalecer a proteção à indústria local.

A situação se agravou bastante em 4 de junho, quando essas mesmas tarifas sobre o aço e o alumínio foram elevadas para 50%. A medida foi um choque para o setor siderúrgico brasileiro, que tem nos Estados Unidos um de seus principais mercados.

No entanto, a ação mais contundente veio agora em julho. A começar pela ameaça de uma tarifa uma tarifa adicional de 10% a todos os países membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e de países que se alinharem a eles. A justificativa foi a de que o bloco representaria uma ameaça geopolítica aos interesses americanos e ao domínio do dólar. A fala se deu no domingo (6) após o encerramento da cúpula do BRICS no Rio de Janeiro.

Dias depois, a Casa Branca anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, uma medida de forte impacto sobre a economia brasileira.

O que mais chamou a atenção foi a justificativa oficial, que foi além da retórica de desequilíbrio comercial.

Em uma carta enviada ao governo brasileiro, o governo Trump vinculou a decisão diretamente a fatores políticos internos do Brasil. O texto citou explicitamente o que foi chamado de “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, em referência ao seu julgamento, e supostos “ataques à liberdade de expressão” por parte de instituições brasileiras.

Ameaça do BRICS

Declarações oficiais apontam que a união desses países é vista como uma tentativa de criar uma arquitetura financeira e comercial alternativa que poderia minar a influência americana. A justificativa para a “taxa BRICS” é, portanto, apresentada como uma medida preventiva para desencorajar o que é percebido como um alinhamento “anti-americano”.

Dados contradizem retórica de “comércio injusto”

Apesar da retórica recorrente sobre a necessidade de um “campo de jogo nivelado” e de relações comerciais “justas e recíprocas”, dados oficiais do próprio governo americano mostram um cenário diferente na balança comercial com o Brasil. Historicamente, os Estados Unidos registram um superávit comercial com o Brasil, ou seja, exportam mais do que importam do país sul-americano.

Segundo dados do Bureau of Industry and Security dos EUA, em 2021, o superávit comercial americano com o Brasil foi de US$ 15,6 bilhões. Essa tendência de superávit para os EUA tem sido uma constante, o que contradiz a alegação de que a relação comercial é desvantajosa para a economia americana, um dos pilares frequentemente utilizados por Trump para justificar suas políticas tarifárias em escala global.

A convergência de fatores políticos, como a aliança com a figura de Jair Bolsonaro, e preocupações geopolíticas com o avanço de blocos como o BRICS, sobrepôs-se à lógica puramente econômica, resultando em um dos momentos de maior tensão e imprevisibilidade nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

Soberania

Como citado na carta de Trump, Jair Bolsonaro foi um dos motivos alegados para a imposição das tarifas. No entanto, durante a cúpula do BRICS, o presidente Lula rebateu a narrativa, afirmando que “ninguém está acima da lei”. Para o colunista do jornal O Globo, Bernardo Mello Franco, o episódio revela uma chantagem explícita.

De licença do mandato, o deputado Eduardo Bolsonaro viajou aos Estados Unidos para pedir sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes — e, por consequência, contra o Brasil. A justificativa apresentada foi a suposta perseguição política contra ele, seu pai, sua família e a direita brasileira.

O contexto, porém, envolve investigações sobre a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023, que têm Bolsonaro e diversos aliados como alvos.

Após as falas do presidente estadunidense, o governo brasileiro emitiu nota

OUÇA O PRIMEIRO EPISÓDIO DO PODCAST DO PORTALGO: QUEM VAI GANHAR?

Recentes
Emoção marca a segunda rodada da Eurocopa Feminina
Emoção marca a segunda rodada da Eurocopa Feminina
Esportes · 2h
Sandro Mabel se reúne com ministro da Saúde em busca de mais recursos para Goiânia
Sandro Mabel se reúne com ministro da Saúde em busca de mais recursos para Goiânia
Política · 7h
Lua do Veado ilumina o céu nesta quinta
Lua do Veado ilumina o céu nesta quinta
Cultura · 8h
Caiado acusa Lula de chefiar um “narcoestado”
Caiado acusa Lula de chefiar um “narcoestado”
Política · 9h