Brasil pode zerar emissões até 2040, diz Carlos Nobre

Estudo inédito mostra: país pode remover 600 mi toneladas de CO2/ano com restauração florestal. Mas Amazônia já emite carbono em partes.

Compartilhe

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Brasil é capaz de zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2040, afirma o cientista Carlos Nobre. Na palestra de abertura no segundo dia da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, Nobre falou sobre mudanças climáticas e antecipou dados de um estudo, ainda em andamento, que constata que o país pode alcançar a meta nessa data.

Segundo Nobre, são necessárias transições para uma matriz energética 100% limpa, agricultura neutra em carbono, emissões negativas a partir do uso adequado da terra e restauração em grande escala.

“O Brasil tem total potencial para ter 100% de energia limpa e renovável e, até 2040, com agricultura muito mais neutra em carbono, grande restauração florestal. Nosso estudo aponta que podemos remover até 600 milhões de toneladas de CO2 por ano, a partir de 2040, restaurando os biomas”, diz o climatologista.

O cientista destacou que os efeitos dessas medidas, além de ir além do enfrentamento à urgência climática, poderiam garantir mais qualidade de vida às populações.

“Caso vocês não saibam, a queima dos combustíveis fósseis gera poluentes em todas as cidades do mundo. Quantas pessoas morrem devido à poluição urbana no mundo? Seis a sete milhões de pessoas por ano.”

Carlos Nobre destacou que, em 2022, o Brasil era o quinto maior emissor do planeta, com o despejo de 11 toneladas de gases do efeito estufa por pessoa ao ano. Na comparação com outros grandes emissores, a China emitia na época 10,5 toneladas por pessoa, a Índia, 2 toneladas e Estados Unidos 16,5 toneladas por pessoa ao ano.

De acordo com o cientista, o Brasil vem melhorando esse quadro, mas, com as políticas do governo atual, como restauração de 12 milhões de hectares e a meta de zerar o desmatamento de todos os biomas até 2030, o país ainda terá emissão de 1,2 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, caso seja mantido o uso de energia fóssil e agropecuária de alta emissão.

Consequências

Sem medidas mais enfáticas de enfrentamento à urgência climática, Carlos Nobre mostra que haverá consequências graves, como o branqueamento de corais, que põe em risco 25% de toda biodiversidade oceânica, a intensificação do aquecimento global, com indicativo de desaparecimento de 99% das espécies, caso o planeta ultrapasse 2 graus acima do período industrial.

Outras consequências desastrosas destacadas pelo climatologista são o descongelamento de terras com água sólida, responsáveis pela retenção de uma quantidade gigantesca de metano e gás carbônico.

“Se passar de 2 graus, nós vamos liberar mais de 200 bilhões de toneladas de metano e gás carbônico. O metano é um gás muito poderoso do efeito estufa, 30 vezes mais forte que o gás carbônico”, explica.

Amazônia

No Brasil, o risco de a Amazônia atingir um ponto de não retorno é cada vez maior, afirma Carlos Nobre. “Todo o sul da Amazônia está com o período de seca de quatro a cinco semanas mais longo, com ar mais seco e grande aumento da mortalidade das árvores.”

Em uma região que envolve sudeste e sul do Pará e norte de Mato Grosso, a floresta já virou ponto de emissão de carbono, deixando de cumprir o serviço ecossistêmico de captura desses gases. “A Amazônia, na década de 90, removia mais de 1,5 bilhão de toneladas de CO2, e essa região está ficando muito próxima do ponto de não retorno”, reforça.

As secas estão mais severas, com fenômenos mais intensos como o El Niño, e o Atlântico mais quente, a Amazônia, mais seca.

“Antes tínhamos uma seca severa a cada 20 anos e agora tivemos em 2005, 2010, 2015 e 2016, além da seca mais forte do registro histórico em 2023, 2024.”

Tudo isso impacta na presença dos rios voadores, responsáveis por levar chuvas a grande parte do país. “Só a floresta nos territórios indígenas da Amazônia brasileira é capaz de explicar a presença de até 30% dos rios voadores. Pelo menos 40% da chuva no Cerrado e no Sul do Brasil e em 15% do Sudeste dependem dos rios voadores”, enfatiza.

Todos esses impactos, já percebidos, podem resultar em uma mudança de cenário drástica no país. “Se o desmatamento chegar entre 20 e 25% e o aquecimento global a 2,5ºC, vamos perder pelo menos 50% da Amazônia, talvez até 70%. A floresta vai virar um ecossistema totalmente degradado. Parece uma savana tropical do Cerrado, mas muito degradada, não com a biodiversidade rica aqui do Cerrado”, diz Nobre.

O cientista ressalta que também o Cerrado e a Caatinga estão muito próximos do ponto de não retorno, o que implica mais ondas de calor e riscos para a saúde humana, além de mais incidência de extremos climáticos e pandemias originadas na floresta em desequilíbrio.

Carlos Nobre apontou ainda caminhos para adaptação das cidades aos desafios de diminuir as desigualdades socioeconômicas e de deixar um legado sustentável às futuras gerações.

Recentes
Rússia acusa Ucrânia de atacar residência de Vladimir Putin
Rússia acusa Ucrânia de atacar residência de Vladimir Putin
Mundo · 13h
Flamengo renova contrato do técnico Filipe Luís
Flamengo renova contrato do técnico Filipe Luís
Esportes · 14h
São Silvestre: de 48 corredores em 1924 a 50 mil em 2025
São Silvestre: de 48 corredores em 1924 a 50 mil em 2025
Esportes · 15h
5 jogos de ação e aventura imperdíveis para jogar no fim e começo de ano
5 jogos de ação e aventura imperdíveis para jogar no fim e começo de ano
Cultura · 20h
Mais do PortalGO
Foto: Reprodução
Polícia prende homem suspeito de atropelar e matar a esposa em Orizona
Número de feminicídios em Goiás em 2025 já iguala o total de 2024 29 dez 2025 · Segurança
Foto: Cinthia Oliveira
Filarmônica de Goiás vence votação popular no Prêmio Concerto 2025
Projeto dedicado a Claudio Santoro teve a maior participação popular da edição 29 dez 2025 · Cultura
Foto: Reprodução redes sociais
Família de Aparecida morta em acidente na BR-040 é velada nesta segunda
Investigação aponta que invasão de pista causou acidente 29 dez 2025 · Goiás
Foto: Alex Malheiros
Regularização fundiária alcança 5 mil imóveis em Goiânia
Programa habitacional prevê novas unidades até 2026 28 dez 2025 · Cidades
Foto Divulgação Secom Aparecida
Natal Aparecida leva shows musicais e sorteio de brindes ao Aeroporto Sul
Shows de Zé Ricardo & Thiago, Chicote de Luxo, Vinicius Cavalcante e DJ Tubas movimentam o Setor Bandeirantes neste domingo 28 dez 2025 · Cultura
Reprodução Globo
Jornal Nacional erra sigla em mapa e troca Paraná por Pará
Falha gráfica ocorreu durante reportagem sobre a onda de calor no país 27 dez 2025 · Entretenimento
Foto: Divulgação Guarda Civil Metropolitana
GCM prende homem com R$ 6 mil em mercadorias furtadas na região da 44
Homem usava tornozeleira eletrônica e cumpria regime provisório 27 dez 2025 · Segurança
Fotos: Luciano Magalhães
Plano de arborização prevê plantio de 6 mil árvores em Goiânia até abril de 2026
Espécies foram escolhidas por critérios técnicos e adaptação ao ambiente urbano 27 dez 2025 · Meio Ambiente
Estudo: bronzeamento artificial pode provocar melanomas
Pesquisa combina dados epidemiológicos e genéticos para mostrar como a radiação UV artificial eleva mutações cancerígenas. 27 dez 2025 · Saúde
Como o calor extremo coloca a vida em risco
Entenda como umidade, vento e sensação térmica sobrecarregam o corpo e quais os grupos mais vulneráveis a esse superaquecimento. 26 dez 2025 · Saúde