Por que analisar Assassin’s Creed Unity, um jogo de 2014, em plena era de Assassin’s Creed Shadows? A resposta é simples: Unity ocupa um lugar especial na minha lista de jogos que zerei várias vezes. Foi o primeiro título da franquia que realmente me fisgou, despertando uma vontade genuína de jogar sem parar.
Minha experiência começou com Black Flag, mas, ao contrário da maioria, ele não me cativou. Mesmo tentando novamente no PC, o queridinho de muitos — que até ganhará um remake — não me atraiu. É irônico, pois Unity, com seu cenário na Revolução Francesa (que considero o período perfeito para a franquia), provavelmente nunca receberá o mesmo tratamento. No fim, é questão de gosto, e Unity, sem clichês, é um caso único.
Lançado em novembro de 2014 exclusivamente para a então nova geração (PlayStation 4 e Xbox One) e desenvolvido em paralelo com AC Rogue — com quem partilha um crossover interessante —, Unity chegou cercado de expectativas. O trailer ao som de “Everybody Wants to Rule The World” na voz de Lorde prometia uma revolução. O resultado, no entanto, foi um fiasco técnico.

Os inúmeros bugs, corrigidos meses depois, mancharam sua reputação. Some-se a isso as quedas de frames (framerate), especialmente nas multidões. Essas multidões, aliás, eram a grande inovação: era impossível retratar a Revolução Francesa sem milhares de NPCs nas ruas, mas o hardware da época sofreu para dar conta.

A história também dividiu opiniões. Arno Victor Dorian pode não ter a simpatia de Ezio Auditore, mas certamente tem carisma — e uma excelente dublagem nacional de Alexandre Drummond (a primeira voz de Timmy Turner). Antes de ser um Assassino, Arno é um humano movido pela vingança contra o homem que matou seu pai adotivo, um Templário. Sua jornada é complicada por sua paixão por Elise, sua irmã adotiva, o que o leva a tomar decisões questionáveis por estar “cego” de amor. Pessoalmente, defendo o personagem; suas falhas o tornam mais crível. E, convenhamos, só o fato de Arno não ser irritante como Jacob Frye (AC Syndicate) já é uma vitória. O elenco de apoio também brilha, com destaque para Elise e o mentor Pierre Bellec, ambos memoráveis.

No gameplay, Unity acerta na simplicidade. O combate é direto e bem executado, livre das mil habilidades/aptidões dos RPGs de ação que a franquia adotou a partir de Origins. A história é linear e sem escolhas de diálogo, algo que hoje pode parecer restritivo, mas que eu aprecio por manter o foco narrativo. É a velha fórmula da vingança e entrada na Ordem; muitos criticam essa repetitividade, mas reclamam quando a série se afasta dela (como em Valhalla).
O multiplayer cooperativo foi outro acerto que ajudou a salvar o jogo — quem que se considera gamer e não se lembra do vídeo “Le Noob Brotherhood” do Jovem Nerd?
Mas o verdadeiro trunfo de Unity é sua ambientação. A Ubisoft recriou a Paris de 1789 como nenhum outro estúdio. As construções são magníficas: a Notre Dame é detalhada ao extremo, o Panteão é imponente, os cidadãos são guilhotinados e os interiores são ricamente ambientados. Até a sincronização, antes uma tarefa banal, virou um evento, revelando a Paris esplêndida ao som de uma trilha sonora igualmente magnífica.
O jogo ainda nos brinda com figuras históricas como Napoleão Bonaparte e Robespierre. E, entre as missões, destaco um assassinato específico: a oportunidade de se infiltrar na fila da guilhotina, disfarçado entre os condenados, para se aproximar do alvo. É um design de missão muito interessante. Infelizmente, o vilão principal da trama é o oposto: tão discreto que se torna completamente esquecível.
Mesmo na versão de PC (que adquiri gratuitamente no finado Uplay após uma ação feita pela Ubisoft após o incêndio na Notre Dame em 2019), que ainda sofre com texturas lentas para carregar e uma baixa distância de renderização, a beleza do mundo é inegável. E talvez o ponto mais ato que temos foi o então novo sistema de parkour, o qual até hoje a Ubisoft não conseguiu melhorar nos outros títulos da franquia. Eu consegui passar raiva com parkour em Shadows, algo que nunca enfrentei em Unity.
No título que cobre 1789, é difícil achar algo mais satisfatório do que poder fazer uma descida controlada e precisa dos pontos altos, ainda mais quando a descida envolve balançar em cordas (na horizontal) ou estruturas que produzam um efeito igual. A fluidez, o foley de todo esse processo (ou sonoplastia, para que quem não conhece por esse primeiro nome) são só alguns dos elementos que fazem a experiência ser maior do que as questões negativas do game.
Apesar de todos os problemas de seu lançamento e das falhas que persistem, Assassin’s Creed Unity é um título que, em 2025, ainda vale (e muito) a pena ser jogado.