Justiça de Goiás reconhece direito de mulher trans à cirurgia de feminização facial pelo plano de saúde

TJGO ordena que o Ipasgo Saúde cubra cirurgia de feminização facial para servidora pública trans, reconhecendo caráter reparador e funcional do procedimento. Cabe recurso da decisão.

Compartilhe

Bandeira Trans – Alexander Grey/Unsplash

Em uma decisão considerada inédita no estado de Goiás, o Tribunal de Justiça (TJ-GO) determinou que o Ipasgo Saúde, plano de assistência médica dos servidores públicos estaduais, cubra os custos de uma cirurgia de feminização facial para uma de suas beneficiárias, uma servidora pública transgênero.

A sentença, proferida na última quinta-feira (03), reforma uma decisão anterior de primeira instância e acolhe os argumentos da Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), que representa a servidora no caso. O Ipasgo Saúde ainda pode recorrer da decisão.

A servidora optou por não ter sua identidade revelada para preservar sua privacidade. Para ela, a decisão judicial representa não apenas uma conquista pessoal, mas um marco significativo para a comunidade trans e travesti em Goiás.

O Entendimento Judicial

O cerne da disputa residiu na classificação da cirurgia de feminização facial. O Ipasgo Saúde havia negado a cobertura inicialmente, argumentando que se tratava de um procedimento meramente estético e, portanto, não coberto pelo contrato. Além disso, o plano de saúde sustentou que a cirurgia não consta no rol de procedimentos e eventos em saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), lista que serve de referência para a cobertura mínima obrigatória dos planos de saúde no Brasil.

Contudo, a Defensoria Pública argumentou que, para a servidora, a cirurgia possui caráter reparador e funcional, sendo um componente essencial de seu processo de transição de gênero e fundamental para sua saúde integral e bem-estar psicológico. A DPE-GO apresentou laudos e prescrições médicas que atestavam a necessidade do procedimento, não por questões estéticas, mas como parte do tratamento para a incongruência de gênero, visando alinhar as características físicas da paciente com sua identidade de gênero.

A 2ª Turma Julgadora da 7ª Câmara Cível do TJGO, por unanimidade, acolheu a tese da Defensoria. O relator do caso, juiz substituto em segundo grau Ricardo Prata, enfatizou em seu voto que a existência de prescrição médica expressa e fundamentada é um fator determinante para caracterizar a necessidade do procedimento.

Prata também abordou a natureza do rol da ANS, explicando que a jurisprudência tem evoluído no sentido de considerá-lo uma referência básica, e não necessariamente uma lista taxativa que esgota todas as possibilidades de cobertura. Ele ressaltou que procedimentos que visam à afirmação de gênero, como a feminização facial neste contexto, devem ser compreendidos sob a ótica da saúde integral do indivíduo. Segundo o juiz, tais intervenções funcionam como medidas de prevenção ao adoecimento psíquico decorrente do sofrimento causado pela incongruência de gênero, pelo preconceito e pelo estigma social enfrentados pela população transgênero.

O Que é a Cirurgia de Feminização Facial?

A cirurgia de feminização facial (CFF ou FFS, do inglês Facial Feminization Surgery) engloba um conjunto de procedimentos cirúrgicos e, por vezes, não cirúrgicos, cujo objetivo é modificar as estruturas faciais percebidas como masculinas, suavizando-as para criar uma aparência mais congruente com a identidade de gênero feminina. Entre os procedimentos comuns estão a frontoplastia (remodelação da testa e arco supraorbital), rinoplastia (modificação do nariz), mentoplastia (remodelação do queixo), mandibuloplastia (contorno da mandíbula) e a condrolaringoplastia (redução do pomo de Adão).

Para muitas mulheres transgênero, a CFF é um passo crucial no processo de transição, pois o rosto é uma das partes do corpo mais visíveis e associadas à identidade social. A “discordância” entre a identidade de gênero e as características faciais pode ser fonte significativa de disforia de gênero, ansiedade e depressão.

Recentes
Assembleia Legislativa de Goiás aprova cota racial de 20% para concursos públicos estaduais
Assembleia Legislativa de Goiás aprova cota racial de 20% para concursos públicos estaduais
Política · 29min
Os últimos povos indígenas isolados: Sociedades livres do Brasil resistem na Amazônia
Os últimos povos indígenas isolados: Sociedades livres do Brasil resistem na Amazônia
Brasil · 6h
Nova regra dos 8 segundos gera polêmica e decide jogo na Série C
Nova regra dos 8 segundos gera polêmica e decide jogo na Série C
Esportes · 6h
HBO revela elenco inicial da nova série de Harry Potter com grandes nomes de Hollywood
HBO revela elenco inicial da nova série de Harry Potter com grandes nomes de Hollywood
Entretenimento · 6h