Uma sessão tumultuada marcou a tarde de terça-feira (9) na Câmara dos Deputados, em Brasília. O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) foi retirado à força por agentes da Polícia Legislativa Federal após ocupar a cadeira da presidência da Casa. A ação ocorreu em meio a um protesto do parlamentar contra o que classificou como uma manobra política para votar sua cassação juntamente com projetos que beneficiam envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
O episódio escalou rapidamente quando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ordenou a desobstrução da mesa diretora. Em uma medida considerada drástica por entidades de classe, o sinal da TV Câmara foi cortado e profissionais da imprensa foram obrigados a deixar o plenário, havendo relatos e imagens de empurrões e agressões contra repórteres e cinegrafistas.
O estopim do conflito
Quando a voz do povo é arrancada à força, é a democracia que sangra.
— Pastor Henrique Vieira (@pastorhenriquev) December 9, 2025
Ver @Glauber_Braga sendo retirado do plenário por defender transparência e enfrentar abusos revela o que muitos querem esconder: há quem prefira calar a verdade do que encarar a justiça. pic.twitter.com/42qcfj9WXq
A ocupação liderada por Braga foi uma reação ao anúncio da pauta do dia. Segundo o deputado do PSOL, haveria um acordo — descrito por ele como “ofensiva golpista” — para votar o pedido de perda do seu mandato no mesmo pacote legislativo que discute a redução de penas (dosimetria) para condenados pelos atos antidemocráticos.
“Que me arranquem desta cadeira e me tirem do plenário”, afirmou Braga antes da intervenção policial. O parlamentar enfrenta um processo no Conselho de Ética por ter expulsado aos chutes um militante do MBL das dependências da Câmara no ano passado. Ele argumenta que seu processo está sendo acelerado politicamente, enquanto casos de outros parlamentares condenados pelo STF, como Carla Zambelli (PL-SP), seguem o mesmo rito.
Censura e agressões à imprensa
Enquanto a Polícia Legislativa removia Braga — que teve as roupas rasgadas durante a ação —, a situação dos jornalistas no local se agravou. O corte da transmissão oficial e a expulsão dos profissionais de mídia geraram um “apagão” momentâneo de informações oficiais.
Entidades como a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) emitiram notas de repúdio. As associações classificaram a retirada da imprensa e o corte do sinal como incompatíveis com a liberdade de imprensa e a transparência pública, exigindo apuração rigorosa sobre a conduta da segurança legislativa.
A retomada e o posicionamento da presidência
Após a confusão, Hugo Motta retomou os trabalhos no plenário. Em seu discurso, defendeu a ação institucional para garantir a ordem, afirmando que a cadeira da presidência “pertence à democracia e não pode ser instrumento de desordem”.
Sobre o tratamento dispensado aos jornalistas, Motta reconheceu a gravidade dos relatos e informou ter determinado a apuração de possíveis excessos cometidos pelos agentes de segurança. O deputado do PSOL, por sua vez, criticou a “dois pesos e duas medidas” da presidência, relembrando que, em agosto, bolsonaristas obstruíram a mesa por 48 horas sem sofrer represálias físicas.

A votação sobre a cassação de Glauber Braga está prevista para continuar na pauta desta quarta-feira (10), prometendo novos embates no plenário.







