Thereza Di Marzo Roesler (1903–1986) foi uma pioneira da aviação brasileira, reconhecida como a primeira mulher do país a obter uma licença de piloto. Sua trajetória é marcada por coragem, determinação e uma luta constante contra as barreiras de gênero e sociais do século XX.
Início da jornada
Nascida em São Paulo, filha de imigrantes italianos, Thereza se encantou pela aviação aos 17 anos, ao avistar um avião sobrevoando a cidade. Apesar da oposição de seu pai, que desejava vê-la casada e com filhos, ela decidiu seguir seu sonho.
Para financiar suas aulas de voo, Teresa rifou sua vitrola e, com o dinheiro arrecadado, matriculou-se no Aeródromo Brasil, onde iniciou seu treinamento em 1921 sob a orientação dos irmãos João e Enrico Robba, veteranos da Primeira Guerra Mundial.
Posteriormente, passou a ser instruída por Fritz Roesler, piloto alemão também veterano da guerra.
Conquista do brevê
Em 17 de março de 1922, um dia histórico para a aviação feminina no Brasil, tanto Teresa quanto sua contemporânea Anésia Pinheiro Machado realizaram seus primeiros voos solo. A corrida pela licença foi acirrada.

No mês seguinte, Teresa submeteu-se ao exame, voando em um Caudron G.3. Sua performance impressionou os examinadores, e em 8 de abril de 1922, recebeu o brevê nº 76 do Aeroclube do Brasil, tornando-se oficialmente a primeira mulher brasileira a obter uma licença de piloto internacional, apenas um dia antes de Anésia.
Atividades e contribuições
Após a obtenção do brevê, Teresa realizou sua primeira viagem solo até Santos, sobrevoando a estátua de Bartolomeu de Gusmão. Participou da recepção aos aviadores portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho, que realizaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.
Em 1923, fundou o Hangar Teresa Di Marzo e a Escola de Aviação Ypiranga, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, com o objetivo de promover a aviação e treinar novos pilotos. Para financiar a construção do hangar, Teresa arrecadou fundos em praça pública em Santos.
Desafios pessoais e fim da carreira

Em 25 de setembro de 1926, Teresa casou-se com seu instrutor de voo, Fritz Roesler. Após o casamento, ela foi proibida por ele de continuar pilotando, uma vez que o Código Civil de 1916 exigia que mulheres casadas obtivessem autorização do marido para realizar certas atividades profissionais.
Consequentemente, Teresa abandonou a carreira de piloto, embora tenha acumulado mais de 300 horas de voo registradas oficialmente.
Reconhecimento e o legado
Apesar de sua carreira curta, o legado de Teresa Di Marzo é significativo. Ela recebeu diversas condecorações, incluindo a Medalha de Ouro Santos Dumont em 1980, concedida pelo estado de Minas Gerais, e a Ordem do Mérito Aeronáutico em 1976, pelo Ministério da Aeronáutica.
Seu nome é lembrado como símbolo de coragem e determinação, inspirando gerações de mulheres na aviação e em outras áreas que são historicamente dominadas por homens.
Teresa Di Marzo Roesler faleceu em 9 de fevereiro de 1986, aos 82 anos, em São Paulo, deixando um legado na história da aviação brasileira.