Como o amigo leitor já deve ter percebido, sou um grande fã do futebol. Boa parte do espaço que este veículo me concede para falar com o público de forma mais direta foi dedicada a discutir esse esporte. No último fim de semana, o futebol nos brindou com um tipo de resultado que alegra todos os torcedores, exceto, claro, aqueles que foram vítimas dele.
Para quem passou o fim de semana em sua confortável mansão na zona rural de Marte, eu explico: no último domingo, Santos e Vasco se enfrentaram pela 20ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro de 2025 e, para surpresa de muitos, o Cruz-Maltino aplicou a maior goleada desta edição do Brasileirão (entre outros recordes): 6 a 0.
Embora eu estivesse usando uma camisa do Santos no domingo, não torço para o time da Vila Belmiro. Escrevo, no entanto, para tentar entender a dor que o torcedor santista ainda sente.
Em primeiro lugar, é necessário dizer que um resultado desses não é fruto apenas da bagunça da equipe dentro de campo. Normalmente, ele reflete também a grande desorganização da instituição como um todo.
O Santos hoje tem uma dívida próxima a R$ 1 bilhão, que pode aumentar. O portal UOL revelou, em maio deste ano, que o salário de Neymar, camisa 10 santista, sem contar outras obrigações contratuais, girava em torno de R$ 4,14 milhões por mês. Com os adicionais, o valor chegava a cerca de R$ 20 milhões mensais. Atualmente, porém, os ganhos do capitão do Peixe podem não ser exatamente esses, já que o contrato foi renovado, desta vez sem o vazamento de números relacionados à remuneração do jogador.
É por isso que acredito que a reação do jogador, após o apito final no Estádio do Morumbis, foi um choro de quem busca apenas se isentar da responsabilidade, que, repito, não é apenas dele.
Acredito também que o torcedor deva, sim, sofrer e viver este momento, porque é justamente isso que torna o esporte tão emocionante e bonito. Depois desse período de dor, o torcedor precisa procurar os culpados por essa vexatória derrota e pressionar, obviamente por meios legais, pela saída de quem colocou o clube nessa situação.
Vale protestar cantando, pressionar nas redes sociais pela renúncia, sempre de forma civilizada, e vaiar nas ruas, no estádio ou em qualquer outro ambiente. Por isso, é necessário deixar esse momento “passar”, para que nada seja feito de forma precipitada e que leve ao arrependimento.
Um jogo como esse também deixa lições. Uma delas veio dos próprios 52 mil santistas presentes no estádio em São Paulo: não houve baderna nem confusão. A torcida apenas repetiu o que o clube lhe fez naquela partida — virou-lhe as costas.