De volta ao Autódromo de Interlagos, palco de suas vitórias memoráveis no Grande Prêmio do Brasil de 2006 e 2008, Felipe Massa voltou a falar sobre o processo judicial que move contra a FIA (Federação Internacional de Automobilismo), a Formula One Management (FOM) e o ex-dirigente Bernie Ecclestone. A ação questiona o impacto do episódio conhecido como “Singapuragate” no resultado do Campeonato Mundial de 2008.
Após participar das primeiras audiências na Corte Inglesa, no Reino Unido, Massa demonstrou confiança no andamento do caso:
“Saímos otimistas, sem dúvida. Os advogados explicaram toda a situação da maneira correta, e agora é esperar a decisão do juiz. Ele parece entender o caso, estudou o processo. Isso é positivo, estamos confiantes”, afirmou o ex-piloto.
As audiências ocorreram ao longo de três dias, e o julgamento está sob responsabilidade do juiz Robert Jay. A decisão pode ser divulgada nas próximas semanas ou levar até três meses. O magistrado poderá aceitar o pedido dos réus e encerrar o processo ou autorizar o avanço para a fase de produção de provas e detalhamento dos argumentos.
Em entrevista, Massa reforçou que o objetivo da ação é defender a justiça esportiva e corrigir o que considera uma falha institucional da Fórmula 1.
“É por isso que a gente sempre lutou. A justiça do esporte é o que importa. Espero que consigamos trabalhar em cima do que não foi correto e garantir que nenhum piloto passe pelo que eu passei.”
A defesa de Massa pede uma indenização de 64 milhões de libras (cerca de R$ 452 milhões) e solicita duas declarações formais de responsabilidade da FIA e da FOM. Segundo o documento, as entidades descumpriram seus próprios regulamentos ao não investigar imediatamente o acidente proposital de Nelsinho Piquet no GP de Singapura de 2008.
O processo argumenta que, caso a investigação tivesse sido conduzida à época, o resultado da corrida — e consequentemente o campeonato — teria sido alterado, o que poderia garantir o título de 2008 a Massa.
A peça jurídica, de 41 páginas, ressalta que o brasileiro não busca reverter o resultado oficial nem retirar o título de Lewis Hamilton, campeão daquele ano.
“O Sr. Massa não está buscando nenhuma alteração no resultado do Campeonato de 2008. Nem há qualquer sugestão de que terceiros desejem se dirigir ao Tribunal”, diz o texto.
O caso “Singapuragate”
O “Singapuragate” veio à tona em 2009, quando o Conselho Mundial de Automobilismo confirmou que Nelsinho Piquet Jr. bateu propositalmente para favorecer o companheiro de equipe, Fernando Alonso, que venceu a prova. A manobra influenciou diretamente a corrida, e Massa, que liderava o campeonato, abandonou após um erro nos boxes.

À época, o regulamento esportivo da FIA proibia contestações após a cerimônia anual de premiação, realizada em dezembro de 2008, o que impediu qualquer reavaliação.
O caso ganhou novo fôlego em 2023, após Bernie Ecclestone afirmar, em entrevista, que já sabia da manipulação em 2008, mas optou por manter o silêncio “para proteger a imagem da Fórmula 1”. Essa declaração é uma das principais bases da ação movida por Massa. Posteriormente, Ecclestone disse não se recordar da fala.
Reações
Durante coletiva em Interlagos nesta quinta-feira, Lewis Hamilton comentou brevemente sobre o processo movido pelo ex-rival.
“Não estou lendo sobre isso, não tem nada a ver comigo. Só quero me concentrar no meu trabalho. Mas, sejam quais forem as razões dele, tenho certeza de que o Felipe tem convicção no que faz. É isso que ele precisa fazer”, disse o heptacampeão.
Massa, por sua vez, evitou polemizar e reafirmou que busca apenas responsabilizar as instituições envolvidas. “O mais importante é que a verdade venha à tona e que a justiça no esporte prevaleça”, completou.
O que vem a seguir
Caso o juiz Robert Jay decida pelo prosseguimento do processo, o caso entrará em uma nova fase, com coleta de provas, depoimentos e perícias documentais. Essa etapa pode se estender por mais de um ano antes de uma sentença definitiva.
A decisão terá impacto histórico: se Massa vencer, o processo pode estabelecer precedente jurídico sem precedentes na Fórmula 1, questionando a autonomia da FIA em decisões esportivas e a responsabilidade civil das entidades gestoras do automobilismo mundial.










