Reforma do IR cria constrangimento moral para super-ricos, diz Haddad

Projeto se baseia na justiça social, disse o ministro no Sem Censura.

Compartilhe

Foto: © Fernando Frazão/Agência Brasil

A reforma do Imposto de Renda (IR) cria um constrangimento moral para o país, forçando uma discussão na sociedade sobre a desigualdade tributária, disse nesta quarta-feira (16) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, o ministro disse que o projeto enviado ao Congresso há cerca de um mês baseia-se na justiça social.

Para o ministro, a busca pela redução das desigualdades sociais por meio do pagamento de tributos pelos mais ricos deixa os opositores sem argumento para se contrapor à reforma do Imposto de Renda.

“Acredito que criamos um constrangimento moral no país. O que está sendo dito? O que está errado? A gente está a fim. Dá para melhorar? Óbvio! Você tem uma ideia melhor? Até agora não apareceu”, declarou Haddad, dizendo que o governo está aberto a contribuições que melhorem o projeto.

Na avaliação de Haddad, o constrangimento moral de ser retratado como defensor da desigualdade tem inibido inclusive a proliferação de fake news sobre as mudanças no Imposto de Renda. Inclusive porque a proposta tem impacto fiscal zero e não fará o governo arrecadar mais, apenas redistribuirá renda.

“Quando bota uma coisa na mesa, a primeira coisa que acontece do lado de lá é o cara falar: ‘como posso mentir para a população?’ E ficou todo mundo: ‘o que a gente faz com esse projeto?’ Nem fake news estão conseguindo fazer”, acrescentou o ministro.
 

Rio de Janeiro (RJ), 16/04/2025 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participa do programa Sem Censura, da TV Brasil, apresentado por Cissa Guimarães, que também recebe o pianista Francis Hime, o psiquiatra Higor Caldato e o jornalista Muka. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Haddad participa do programa Sem Censura, que também recebe o pianista Francis Hime, o psiquiatra Higor Caldato e o jornalista Muka. Foto – Fernando Frazão/Agência Brasil

Andar de cima

O ministro comparou a tributação dos super-ricos com o caso do morador de uma cobertura que não paga condomínio. “Eu diria que [a lógica do projeto] é quem ganha muito, começa a pagar alguma coisa, para a gente desonerar quem ganha até R$ 5 mil. Lá no andar de cima, na cobertura, não vai doer se o cara começar a pagar condomínio”, justificou Haddad, ao responder se a lógica da reforma seria tributar mais quem ganha mais e desonerar quem ganha menos.

O governo propõe a isenção de IR a 10 milhões de brasileiros que ganham até R$ 5 mil por mês e o aumento do desconto para 5 milhões que recebem entre R$ 5 mil e R$ 7 mil. Em troca, pretende aumentar o IR para quem ganha a partir de R$ 50 mil por mês (R$ 600 mil por ano) e introduzir uma alíquota mínima de 10% para quem recebe R$ 100 mil mensais (R$ 1,2 milhão por ano).

Atualmente, cerca de 141 mil pessoas que recebem a partir de R$ 50 mil por mês pagam apenas 2% de alíquota efetiva do Imposto de Renda. Isso porque a maior parte dos rendimentos dos super-ricos vem de dividendos, isentos de tributação, ou mascarado com renda de pessoas jurídicas.

Décimo quarto salário

Haddad apresentou estatísticas sobre a desigualdade do sistema tributário brasileiro. O ministro ressaltou que, em algumas profissões, como o professor de escola pública e o policial que ganham até R$ 5 mil, a isenção equivalerá, na prática, a um décimo quarto salário.

“Quem ganha R$ 1 milhão para cima paga 2% de alíquota. O sistema tributário brasileiro é considerado um dos dez piores do mundo. Vamos combinar que quem ganha R$ 1 milhão por ano no Brasil são os super-ricos. Legal ele ganhar. Mérito dele, talento dele. Mas não paga nem 2% de Imposto de Renda, contra um policial e uma professora que paga isso”, declarou o ministro.

Programa de governo

Para o ministro, a reforma do Imposto de Renda pretende reduzir desigualdades históricas do Brasil. “Esse projeto tem um único fundamento: buscar justiça social. Não queremos arrecadar um centavo a mais, um centavo a menos. Queremos buscar uma coisa que este país demora a conquistar. Até a abolição da escravidão no Brasil foi tardia. Fomos o último país a abolir a escravidão”, destacou.

Haddad lembrou que o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva o convidou para ser ministro da Fazenda em novembro de 2022, durante a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 27), no Egito. Na ocasião, Haddad explicou que só aceitaria o cargo se Lula concordasse com plataformas históricas da esquerda brasileira, como a cobrança de impostos sobre os mais ricos e a revisão de benefícios fiscais a grandes empresas que aumentam as desigualdades.

“Vou resgatar o piso da educação e da saúde, botar o rico no Imposto de Renda, como o senhor falou na campanha, tem empresa com benefício que não faz nada pelo país, vamos ter que enfrentar esses caras. A partir daí, fomos construindo o que seria a política econômica”, recordou Haddad na entrevista.

Recentes
“Não há dúvida de que houve tentativa de golpe”, diz Moraes ao detalhar atos de Bolsonaro
“Não há dúvida de que houve tentativa de golpe”, diz Moraes ao detalhar atos de Bolsonaro
Brasil · 5h
Moraes diz que questionamentos sobre delação beiram litigância de má-fé
Moraes diz que questionamentos sobre delação beiram litigância de má-fé
Brasil · 6h
PF cumpre mandado contra suspeito de assédio à deputada Silvye Alves
PF cumpre mandado contra suspeito de assédio à deputada Silvye Alves
Justiça · 6h
STF retoma julgamento da trama golpista; acompanhe ao vivo
STF retoma julgamento da trama golpista; acompanhe ao vivo
Brasil · 7h
Mais do PortalGO
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Lupi nega omissão em fraudes no INSS e afirma que só entendeu gravidade após ação da PF
O ex-ministro Carlos Lupi defendeu que o ministério colaborou com a PF e reconheceu falhas do INSS 09 set 2025 · Política
NCI PRF
PRF apreende arma, quase mil munições e 66 celulares escondidos em caminhão na BR-153
Motorista foi preso em flagrante na BR-153, em Jaraguá. 09 set 2025 · Segurança
Reprodução Instagram – oba_olimpiada
Estudante de Goiânia brilha em Olimpíada Latino-Americana de Astronomia
Olimpíada reuniu estudantes de 14 países da América Latina 09 set 2025 · Brasil
Cecília Sebba, 10 anos, vence Copa WV de Três Tambores
Em um ano de treinos, Cecília Sebba, 10 anos, conquista título nacional de Três Tambores. Goiana é recordista estadual e promessa do esporte. 09 set 2025 · Esportes
Mundial de Clubes Feminino começa em outubro
Brasil pode ter representante no 1º Mundial de Clubes Feminino. Campeão da Libertadores se junta a Arsenal e Gotham FC. 08 set 2025 · Esportes
Fim de semana esportivo: vôlei, F1, acesso na D e final do Brasileirão Feminino
Fim de semana esportivo: Brasil leva bronze no vôlei, Verstappen vence GP Itália, quatro times sobem para Série D e final feminina 08 set 2025 · Esportes
Dallara GP2 2008 correndo em um local próprio para a pratica do automobilismo – Foto: Internet
Motorista de “Fórmula 1” é preso em rodovia na Tchéquia
Polícia usou dezenas de viaturas e helicóptero para prender motorista de carro de competição em rodovia. Veículo é ilegal para vias públicas. 08 set 2025 · Mundo
Foto: Fellipe Sampaio/STF
STF retoma amanhã julgamento de Bolsonaro e aliados por golpe
A partir de terça (9), STF vota condenação de Bolsonaro e sete aliados por tentativa de golpe, plano de sequestro e ligação com 8 de janeiro. 08 set 2025 · Justiça
Foto: Portal Consed
Dia Mundial da Alfabetização: Goiás avança, mas desafios na era digital persistem
Idosos e desigualdades digitais exigem atenção 08 set 2025 · Educação
Foto: Secom-GO
Daniel Vilela tem plano de voo. E os adversários?
Daniel Vilela se movimenta estrategicamente para o governo de Goiás em 2026, enquanto adversários ainda estruturam suas candidaturas 08 set 2025 · Blog Eleições 2026